Bonzinho (a), mauzinho (a)... Adjetivando
o ser humano
Por Alessandra Leles Rocha
Ser humano que é ser humano sabe muito bem que não é nenhum protótipo
de perfeição. Aqui e ali se misturam os defeitos e as qualidades; mas, nunca de
forma homogênea e equilibrada. Vai depender do dia, da noite, da lua, enfim...
para que o melhor ou pior seja exaltado, sobretudo, quando se é muito jovem.
Então, alheia a nossa vontade o tempo passa e cumpre o seu
papel transformador. Sim, por mais que cada um de nós conheça os próprios comportamentos,
pensamentos e sentimentos que mereçam uma boa lapidação, não adianta céus e
terra cobrarem por isso se a vontade pessoal e intransferível não pulsar. É aí,
então, que entra o tempo, o Senhor das Horas.
Gostando ou não, a verdade é que o correr dos ponteiros
carrega grandes e valiosas lições. De um dia para o outro, a vida pode mudar
dentro e fora de nós, nas linhas do imprevisível. E não há mudança que não
venha munida de sabedoria; portanto, inevitavelmente, havemos de aprender. Seja
pela dor ou pelo amor, as marcas desse aprendizado vão perenizando em nossas
entranhas.
Desse modo, muito do que não era tão bom em nós vai obtendo a
possibilidade de se reconstruir a partir do nosso próprio querer e não, da
imposição ou sugestão do mundo. Tudo bem, que há em todos nós características que
podemos dizer são imutáveis; o que me faz lembrar uma citação de Clarice
Lispector que diz: “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se
sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”. Então, se alguma coisa não mudar é porque, talvez, não era
para ser.
No entanto,
aquelas que se repaginam podem sim, ser um grande motivo de satisfação. Um certo
tipo de conquista depois de longas e árduas batalhas interiores. Algo como
vencer os fantasmas imaginários, as sombras que não nos permitem refletir a
beleza da própria alma. Por isso, as metamorfoses são tão desafiadoras e seus
resultados efetivos tão difíceis de serem alcançados. É; não se faz uma mudança
nesse nível da noite para o dia.
Mas, para
cada retoque adquirido pela essência humana somos capazes de perceber e
reconhecer. Algo simbolicamente misterioso nos dá indícios de que não somos os
mesmos diante de circunstâncias já conhecidas. De repente somos invadidos pelo equilíbrio,
pela sensatez, pelo controle irrepreensível das situações, como se tivéssemos aprendido
a domar o espírito selvagem que nos habita.
Não que os
fatos passassem inertes por nós. O que fere, agride, incomoda, revolta...
continua exatamente como é. Somos nós é que estamos diferentes. Moldados,
certamente, pela disciplina silenciosa do tempo, o Grande Professor. Compreensivos
de que nada permanece estático, independentemente do nosso desespero ou
apreensão; posto que, isso só consome energia. É preciso apenas consciência para
administrar as conjunturas.
Então, não se preocupe em se enquadrar na imagem que os
outros fazem ou esperam de você. Isso é torturante e desnecessário, na medida
em que a unanimidade não existe. Apenas, seja você e ouça o que o tempo tem a
lhe dizer. Afinal de contas, não somos anjos e nem demônios; somos humanos. E
isso já é muito para darmos conta.