sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Bonzinho (a), mauzinho (a)... Adjetivando o ser humano


Bonzinho (a), mauzinho (a)... Adjetivando o ser humano

Por Alessandra Leles Rocha


Ser humano que é ser humano sabe muito bem que não é nenhum protótipo de perfeição. Aqui e ali se misturam os defeitos e as qualidades; mas, nunca de forma homogênea e equilibrada. Vai depender do dia, da noite, da lua, enfim... para que o melhor ou pior seja exaltado, sobretudo, quando se é muito jovem.
Então, alheia a nossa vontade o tempo passa e cumpre o seu papel transformador. Sim, por mais que cada um de nós conheça os próprios comportamentos, pensamentos e sentimentos que mereçam uma boa lapidação, não adianta céus e terra cobrarem por isso se a vontade pessoal e intransferível não pulsar. É aí, então, que entra o tempo, o Senhor das Horas.
Gostando ou não, a verdade é que o correr dos ponteiros carrega grandes e valiosas lições. De um dia para o outro, a vida pode mudar dentro e fora de nós, nas linhas do imprevisível. E não há mudança que não venha munida de sabedoria; portanto, inevitavelmente, havemos de aprender. Seja pela dor ou pelo amor, as marcas desse aprendizado vão perenizando em nossas entranhas.
Desse modo, muito do que não era tão bom em nós vai obtendo a possibilidade de se reconstruir a partir do nosso próprio querer e não, da imposição ou sugestão do mundo. Tudo bem, que há em todos nós características que podemos dizer são imutáveis; o que me faz lembrar uma citação de Clarice Lispector que diz: “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro”. Então, se alguma coisa não mudar é porque, talvez, não era para ser.
No entanto, aquelas que se repaginam podem sim, ser um grande motivo de satisfação. Um certo tipo de conquista depois de longas e árduas batalhas interiores. Algo como vencer os fantasmas imaginários, as sombras que não nos permitem refletir a beleza da própria alma. Por isso, as metamorfoses são tão desafiadoras e seus resultados efetivos tão difíceis de serem alcançados. É; não se faz uma mudança nesse nível da noite para o dia.
Mas, para cada retoque adquirido pela essência humana somos capazes de perceber e reconhecer. Algo simbolicamente misterioso nos dá indícios de que não somos os mesmos diante de circunstâncias já conhecidas. De repente somos invadidos pelo equilíbrio, pela sensatez, pelo controle irrepreensível das situações, como se tivéssemos aprendido a domar o espírito selvagem que nos habita.
Não que os fatos passassem inertes por nós. O que fere, agride, incomoda, revolta... continua exatamente como é. Somos nós é que estamos diferentes. Moldados, certamente, pela disciplina silenciosa do tempo, o Grande Professor. Compreensivos de que nada permanece estático, independentemente do nosso desespero ou apreensão; posto que, isso só consome energia. É preciso apenas consciência para administrar as conjunturas.  

Então, não se preocupe em se enquadrar na imagem que os outros fazem ou esperam de você. Isso é torturante e desnecessário, na medida em que a unanimidade não existe. Apenas, seja você e ouça o que o tempo tem a lhe dizer. Afinal de contas, não somos anjos e nem demônios; somos humanos. E isso já é muito para darmos conta.