POR QUE TER QUE INCLUIR SE
SOMOS TODOS IGUAIS?
Por Alessandra Leles
Rocha
Fechadas às cortinas após o grande espetáculo é inevitável
pensarmos que tudo acabou e ponto final. No entanto, a verdade é que os Jogos
Olímpicos ainda não finalizaram, se nos atentarmos que outra legião de cidadãos
brasileiros e estrangeiros está prestes a desembarcar no Rio de Janeiro para os
Jogos Paraolímpicos. Mas, então por que a sensação de término? É essa a
reflexão que proponho ao caro leitor.
Apesar de todos os discursos contemporâneos em torno da
inclusão social, na prática a população caminha cada vez mais condicionada a
não perceber os gigantescos abismos retóricos que existem entre a realidade e o
ideal. A igualdade manifesta na Declaração Universal dos Direitos Humanos
(1948) e ratificada constitucionalmente pela Carta Magna brasileira de 1988, no
fundo ainda não ganhou as ruas de cada pedacinho de chão brasileiro, inclusive
do ponto de vista da sua própria gente.
Infelizmente, não é só o Estado que faz vista grossa e
ouvidos de mercador a esse direito tão fundamental. Na medida em que cada
pessoa não enxerga no semelhante um cidadão de mesmo valor, direitos e deveres
que ele próprio, o país estabelece sim, uma filosofia desagregadora e altamente
excludente. E é justamente aí que reside o problema, porque não se trata de
invisibilizar os portadores de deficiência, por exemplo; mas, de fazê-lo em
relação a outros cidadãos como as mulheres, as Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTT), os
portadores do vírus HIV, os encarcerados etc. Como se vê, são muitos os que por
um motivo ou outro são enquadrados pela sociedade como algo nocivo, prejudicial
e/ou incômodo.
Portanto, parece que a inclusão vem sendo construída a partir
de inúmeras barreiras de segregação, como se todos não pudessem desfrutar do convívio
social de forma integrada, harmônica e pacífica, sob a bandeira dos mesmos
direitos e deveres cidadãos. Aliás, o único ponto que parece convergir à
igualdade cidadã é no tocante ao pagamento de impostos e tributos; a arrecadação
de divisas não parece enxergar nenhum empecilho quanto a esses cidadãos.
No entanto, na hora de
devolver-lhes respeito e dignidade a história é outra. Retomando o exemplo das Olimpíadas
e Paraolimpíadas ficam evidentes as diferenças, a começar pela empolgação e
motivação dos veículos de imprensa. O aparato de cobertura em torno das Olimpíadas
não é de longe o mesmo destinado as Paraolimpíadas. Então, como esperar uma
inclusão verdadeira, se não se promove a visibilidade desses cidadãos? Você
sabe quem são nossos representantes nos Jogos Paraolímpicos de 2016? Em que
esportes estamos sendo representados? E as oportunidades de medalhas? Quantos
serão convidados pela mídia para tornarem-se “garotos e garotas propaganda de
algum produto” depois de conquistar algum lugar no pódio?
Além disso, os investimentos, a disponibilização de estrutura
logística de treinamento, de suporte multidisciplinar são outras razões de visível
discrepância entre Jogos Olímpicos e Paraolímpicos; por isso mesmo, tornam-se elementos
desmotivantes para o deficiente. Afinal, além da superação pessoal eles
precisarão superar uma série de outros entraves práticos se quiserem ser
atletas em nosso país; já que, no caso deles as demandas naturais para a prática
desportiva se somam as demandas de acessibilidade, as quais sabemos não são
ampla e adequadamente ofertadas.
Daí a importância de nossa reflexão. Em nome do chamado “politicamente
correto” tem-se fomentado uma inclusão fictícia e perversa, que acaba por
deseducar a população e incapacitá-la de exercitar a sua criticidade. Estamos no século XXI mantendo, infelizmente,
os mesmos pensamentos marginalizantes que se estabeleceram no Brasil Colonial;
portanto, continuando a justificar a inércia pela conformação histórica, o que
é lastimável.
Portanto, para que a realidade se transforme é fundamental
que as pessoas se transformem. A invisibilidade social que reside e persiste em
nosso país é algo que repercute diretamente no afloramento dos nossos preconceitos
e indiferenças velados, que instiga as rivalidades e a violência, que exalta os
maus tratos e a incapacidade de diálogo. Além disso, precisamos admitir que tais
atitudes e comportamentos, simplesmente, têm retirado de maneira arbitrária de
milhares de cidadãos a capacidade de se perceberem e se reconhecerem membros de
uma coletividade e a partir do sentido desse pertencimento, serem capazes de desenvolver
uma compreensão da diversidade cultural.