quinta-feira, 25 de agosto de 2016

"Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso. Amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade". Paulo Freire


POR QUE TER QUE INCLUIR SE SOMOS TODOS IGUAIS?


Por Alessandra Leles Rocha


Fechadas às cortinas após o grande espetáculo é inevitável pensarmos que tudo acabou e ponto final. No entanto, a verdade é que os Jogos Olímpicos ainda não finalizaram, se nos atentarmos que outra legião de cidadãos brasileiros e estrangeiros está prestes a desembarcar no Rio de Janeiro para os Jogos Paraolímpicos. Mas, então por que a sensação de término? É essa a reflexão que proponho ao caro leitor.
Apesar de todos os discursos contemporâneos em torno da inclusão social, na prática a população caminha cada vez mais condicionada a não perceber os gigantescos abismos retóricos que existem entre a realidade e o ideal. A igualdade manifesta na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e ratificada constitucionalmente pela Carta Magna brasileira de 1988, no fundo ainda não ganhou as ruas de cada pedacinho de chão brasileiro, inclusive do ponto de vista da sua própria gente.
Infelizmente, não é só o Estado que faz vista grossa e ouvidos de mercador a esse direito tão fundamental. Na medida em que cada pessoa não enxerga no semelhante um cidadão de mesmo valor, direitos e deveres que ele próprio, o país estabelece sim, uma filosofia desagregadora e altamente excludente. E é justamente aí que reside o problema, porque não se trata de invisibilizar os portadores de deficiência, por exemplo; mas, de fazê-lo em relação a outros cidadãos como as mulheres, as Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros (LGBTT), os portadores do vírus HIV, os encarcerados etc. Como se vê, são muitos os que por um motivo ou outro são enquadrados pela sociedade como algo nocivo, prejudicial e/ou incômodo.
Portanto, parece que a inclusão vem sendo construída a partir de inúmeras barreiras de segregação, como se todos não pudessem desfrutar do convívio social de forma integrada, harmônica e pacífica, sob a bandeira dos mesmos direitos e deveres cidadãos. Aliás, o único ponto que parece convergir à igualdade cidadã é no tocante ao pagamento de impostos e tributos; a arrecadação de divisas não parece enxergar nenhum empecilho quanto a esses cidadãos.
 No entanto, na hora de devolver-lhes respeito e dignidade a história é outra. Retomando o exemplo das Olimpíadas e Paraolimpíadas ficam evidentes as diferenças, a começar pela empolgação e motivação dos veículos de imprensa. O aparato de cobertura em torno das Olimpíadas não é de longe o mesmo destinado as Paraolimpíadas. Então, como esperar uma inclusão verdadeira, se não se promove a visibilidade desses cidadãos? Você sabe quem são nossos representantes nos Jogos Paraolímpicos de 2016? Em que esportes estamos sendo representados? E as oportunidades de medalhas? Quantos serão convidados pela mídia para tornarem-se “garotos e garotas propaganda de algum produto” depois de conquistar algum lugar no pódio?
Além disso, os investimentos, a disponibilização de estrutura logística de treinamento, de suporte multidisciplinar são outras razões de visível discrepância entre Jogos Olímpicos e Paraolímpicos; por isso mesmo, tornam-se elementos desmotivantes para o deficiente. Afinal, além da superação pessoal eles precisarão superar uma série de outros entraves práticos se quiserem ser atletas em nosso país; já que, no caso deles as demandas naturais para a prática desportiva se somam as demandas de acessibilidade, as quais sabemos não são ampla e adequadamente ofertadas.
Daí a importância de nossa reflexão. Em nome do chamado “politicamente correto” tem-se fomentado uma inclusão fictícia e perversa, que acaba por deseducar a população e incapacitá-la de exercitar a sua criticidade.  Estamos no século XXI mantendo, infelizmente, os mesmos pensamentos marginalizantes que se estabeleceram no Brasil Colonial; portanto, continuando a justificar a inércia pela conformação histórica, o que é lastimável.

Portanto, para que a realidade se transforme é fundamental que as pessoas se transformem. A invisibilidade social que reside e persiste em nosso país é algo que repercute diretamente no afloramento dos nossos preconceitos e indiferenças velados, que instiga as rivalidades e a violência, que exalta os maus tratos e a incapacidade de diálogo. Além disso, precisamos admitir que tais atitudes e comportamentos, simplesmente, têm retirado de maneira arbitrária de milhares de cidadãos a capacidade de se perceberem e se reconhecerem membros de uma coletividade e a partir do sentido desse pertencimento, serem capazes de desenvolver uma compreensão da diversidade cultural.