O
tempo urge!
Por
Alessandra Leles Rocha
Um piscar de olhos. Simples assim. E
nada mais será como já foi. Muito embora, cada vivente sobre a Terra conheça
essa verdade inconteste, por que tantos insistem em agir como se uma segunda
oportunidade lhes estivesse à disposição? Afinal, sobre o início e o fim da
própria existência ninguém tem controle.
Dói-me profundamente a alma deparar
todos os dias com uma realidade cada vez mais atroz. Sim, as boas novas estão
se transformando em artigo de exceção. É preciso muito boa vontade para
garimpar aqui e ali uma notícia que encha o espírito de esperança, de otimismo.
Então, a certeza de que é preciso fazer o melhor de primeira se faz mais e mais
urgente.
Aliás, queixamos todos sobre uma
contínua falta de tempo, de um estresse descomunal a nos arrebatar diariamente e,
quando temos nas mãos a oportunidade de agir adequadamente, visando não ter que
repetir ou consertar, nos abstemos sem cerimônia. Enrolamos. Postergamos. Deixamos
para um amanhã que nem temos certeza se seremos apresentados.
Não sei se esse modus operandi é um jeito maroto de
lançar sobre ombros alheios à parte que nos cabe de responsabilidade nesse
mundo ou, simplesmente, um descompromisso com a própria imagem que queremos
manifestar a nós mesmos e ao resto dele. O fato é que, desse modo, deixamos
grandes e valiosas oportunidades do dia a dia se esvaírem, como coisas menos
importantes, menos relevantes, quando na verdade não são.
Ainda que a sociedade tenha evoluído,
se transformado através das grandes conquistas científicas e tecnológicas, a essência da vida
humana permanece regida pelas mesmas demandas de sempre, a começar pelo tempo. Inclusive,
porque nesse sentido, a tecnologia se nos poupou ‘horas’ de sacrifício por um lado,
por outro sobrecarregou-nos de outras milhares de tarefas, então... Precisamos
nos conscientizar de que imergir nessa ideia de ‘passar a limpo’ tudo, sempre,
para podermos não nos comprometer, ou despender o interesse e o tempo
necessários repercute diretamente na teia social em que vivemos.
Há algum tempo vi uma mensagem de
Natal produzida na Alemanha, na qual um idoso aguardava pela visita dos filhos
para as festas de final de ano; mas, todos ligavam manifestando a
impossibilidade de ir por uma alguma razão 1.
Então, em seguida, eles eram avisados sobre o falecimento do pai e se
deslocavam para as cerimônias do funeral. No fim, o propósito da mensagem era
mostrar que não se esperasse nada para estar com os idosos, enquanto eles estavam
vivos e poderiam usufruir do afeto, da atenção, do carinho de quem lhes era tão
importante.
Mas, o que tem feito à sociedade senão
desperdiçar ‘oportunidades’ para exercer seus valores humanos, cidadãos? Lamento informar; mas, o amanhã não nos pertence. Uma
bala perdida, uma bomba, um terrorista maluco, uma briga, um acidente carro, ou
um simples ataque cardíaco. De repente, lá se foi a sua 'segunda chance'. Seja no
campo profissional, ou prático da vida, alguém certamente irá assumir as suas pendências
e tocar o trabalho, as obrigações, adiante. Mas, no campo afetivo, aí a coisa
muda de figura. Sua perda certamente será sentida por aqueles que o amavam, por
um tempo difícil de calcular; já que, as lembranças alteram o fluxo natural do relógio.
Nesse contexto, você também vai se
dar conta de que deixou muitas coisas por fazer e por desfrutar. A sua ausência,
ou seu descompromisso, lhe causarão a terrível sensação de não ter dado todos
os abraços, todos os beijos, todos os afagos. De não ter conversado todas as
madrugadas, de verão e de inverno, como gostaria. De não ter sido o amigo, o companheiro
fiel ao longo dos altos e baixos da vida... E agora, nada disso é mais
possível. Ou é?
Bem, enquanto nos corre o sangue
pelas veias e o coração pulsa com força, penso que sim. Penso, apenas, que seja
preciso um lampejo de razão e de sensibilidade imediatos; porque, enquanto milhões de pessoas
pelo mundo estão arbitrariamente sem essa possibilidade, por conta da maldade
do próprio ser humano, quem pode escolher por sorver até a última gota desse néctar
sagrado é um privilegiado. Só precisa se dar conta de que cada minuto a mais é
um a menos, para quem espera mais da própria existência.
Imagine você, acordar todos os dias
e se predispor a fazer o máximo e o melhor em cada mínimo gesto. A definir as
prioridades em relação ao SER e não ao TER. Buscar a coerência e o bom senso na
condução dos próprios caminhos... Fazer valer a pena! A tarefa não é fácil;
afinal, somos gente de carne e osso, recheada de defeitos e virtudes. Mas, o
simples desafio de evoluir já está impresso em nosso DNA, então?!
Lembre-se do que disse a escritora, roteirista, novelista e filósofa norte-americana, Ayn
Rand 2, “Não deixe sua chama se apagar com a indiferença. Nos pântanos
desesperançosos do ainda, do agora não. Não permita que o herói na sua alma
padeça frustrado e solitário com a vida que ele merecia, mas nunca foi capaz de
alcançar. Podemos alcançar o mundo que desejamos. Ele existe. É real. É
possível. É seu”. No mais, “Carpe
diem”.