Objetivo de
princesas da Disney não é mais o casamento, revela estudo
MARIA CLARA MOREIRA / DE SÃO PAULO
Na Disney, histórias de princesas são negócio de gente grande, com
uma franquia estimada em US$ 5,5 bilhões.
Quando Walt Disney trouxe para as telas a versão animada de
"Branca de Neve" (1937), clássico alemão imortalizado pelos irmãos
Grimm, lançou as bases para o que se tornaria um ícone cultural infantil.
Desde então, sucessoras como Ariel, de "A Pequena
Sereia", e Tiana, de "A Princesa e o Sapo", colaboram para a
formação do ideal de feminilidade de milhares de meninas mundo afora. Em suas
histórias, carregam papéis e ideais que pautam, ainda na infância, os valores
sociais.
Foi essa ideia que levou as pesquisadoras americanas Carmen Fought,
do Pitzer College, e Karen Eisenhauer, da North Carolina State University, a
aplicarem princípios da linguística para analisar como os filmes da Disney
expressam as diferenças entre homens e mulheres e como essa abordagem mudou nos
últimos anos.
"A feminilidade não vem do nascimento, é algo desenvolvido a
partir de interações com a ideologia da nossa sociedade, e os filmes da Disney
atuam como uma fonte de ideias sobre o que é ser mulher", defende Carmen.
Ela e Karen categorizaram os filmes em três eras cronológicas:
Clássica, de "Branca de Neve" (1937) a "A Bela Adormecida"
(1959); Renascentista, de "A Pequena Sereia" (1989) a
"Mulan" (1998); e a Nova Era, de "A Princesa e o Sapo"
(2009) a "Frozen" (2013) —este último não é reconhecido pela Disney como
parte da franquia, mas também foi considerada pela pesquisa.
Fora "Aladdin" (1992), todos os longas da franquia das
princesas são protagonizados por mulheres, embora dominados por personagens
masculinos. O número de homens foi superior ao de mulheres em quase todos os
exemplos, com o empate em "Cinderela" (1950), única exceção.
Carmen não acredita que povoar os longas com homens seja uma
escolha consciente por parte dos produtores. Ao contrário, explica o fenômeno
como uma decisão automática e inconsciente de assumir o masculino como norma.
"Nossa imagem de médicos e advogados, por exemplo, costuma
ser masculina, mesmo com muitas mulheres nessas profissões. Nos filmes
analisados, quase todos os papéis além da protagonista vão automaticamente para
homens. Acho que é automático [para eles] colocar personagens homens como o
braço direito engraçadinho e em funções menores, que passam batido",
argumenta. [...]