sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Reflexões...

Direitos Humanos sob a lente da verdade


Por Alessandra Leles Rocha

 
Segundo o escritor britânico Oscar Wilde, “A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida...”.  Particularmente, eu penso que não; a vida e a arte são faces de uma mesma moeda e se misturam diante de nossos olhos. Mas, o que me fez pensar sobre isso foi mais uma, entre tantas polêmicas, que se abateu sobre a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (Academy of Motion Picture Arts and Sciences, AMPAS) pouco antes da entrega do Oscar, no final de fevereiro deste ano.
Depois que algumas atrizes, como Jennifer Lawrence e Gwyneth Paltrow criticaram publicamente a desigualdade salarial em Hollywood; agora, a questão à tona é a diversidade étnica. Spike Lee, Jada Pinkett Smith e Will Smith manifestaram seu boicote ao grande prêmio do cinema, em razão do seu descontentamento diante da falta de indicados negros ao Oscar. Então, de repente se percebe que a luta pela igualdade prevista na legislação de Direitos Humanos vai muito além das fronteiras.
Frente aos abismos provocados pelas diversas formas de desigualdade, o que está posto em discussão é o desrespeito ao ser humano. É uma afronta grotesca a construção de estereótipos sociais aceitos dentro desse ou daquele contexto, quando a vida real é a exposição da pluralidade em todos os sentidos.
Somos diferentes sim! Cada um de nós é um, mesmo se colocados dentro do rótulo, ou classificação, de uma etnia. E que bom que seja assim! A singularidade permite a variabilidade genética, comportamental, filosófica, existencial e, é desse modo que, a construção de uma sociedade acontece e evolui. Habilidades e competências que não se distinguem por detalhes morfológicos; mas, por uma capacidade in natura que se há de desenvolver ao longo do tempo e da vida. Mas, continuamos a “procurar pelo em ovo”, o que é uma pena. Especialmente, quando o assunto é arte.
Nada é mais libertária, fraterna e igualitária do que a manifestação artística, ao ponto, inclusive, de resultados significativos na terapêutica psíquica e emocional. É o individuo, portanto, em sua essência, que determina o nível de qualidade que a sua arte irá alcançar. Sem dedicação, sem empenho, sem vontade, o artista não passa da mediocridade, mesmo que encontre pelo caminho um ‘empurrãozinho camarada’ para torna-la ‘digerível’ ao público em geral. A arte dessa maneira não vinga em longo prazo; fica pelo caminho!
Grandes artistas são o que são pelo conjunto de valores humanos e comportamentais que reúnem para lapidar sua obra. Daí não importa o gênero, a etnia, a idade, vez por outra eles nos surpreendem fazendo alquimia com seu próprio ofício. De onde ninguém esperava um expressivo resultado, vem à surpresa. E é isso que os olhos da sociedade precisam (re) aprender a enxergar, ao invés de se apegarem a detalhes ridiculamente insignificantes; como por exemplo, para enaltecer um ter que diminuir o outro.
No tocante à arte da interpretação, seja ela cinema, teatro ou televisão, isso se torna ainda mais desprezível. Quando estamos diante de uma cena, o que nos arrebata é a mágica da sensibilidade interpretativa que supera e transcende a qualidade dos efeitos especiais, ou da caracterização, ou da música, ou do cenário. É a força de um olhar, ou as lágrimas frias a escorrer sobre uma face endurecida pelo ódio, ou a ternura de um abraço de perdão, enfim... Somos espectadores fiéis às grandes interpretações; ao contrário, dos que pensam que o mundo gira ao redor de uma face centrada num padrão predeterminado por A ou B.
É, assim, nas pequenas ignorâncias do mundo que se constroem os artefatos da guerra. Cada ser humano que chega ao mundo é um cidadão, um indivíduo numericamente classificado pelo Estado e, até certa idade, ninguém se preocupa, além disso. Somente quando começamos a ampliar as nossas relações sociais é que determinados aspectos começam a ter importância, significado para os outros. A desigualdade fica mais e mais visível a quem não consegue pensar fora de uma igualdade pré-fabricada.
Desse modo, os muros são erguidos. Tudo é uma ameaça; tanto subjetiva quanto objetivamente. De repente nos tornamos reféns das loucuras alheias, de quem quer ter o controle absoluto do mundo: o que você vai pensar, vai admirar, vai aplaudir, vai copiar, vai... vai... vai... Uma arbitrária idealização da identidade coletiva. E de tão acostumados a essa ‘doutrinação’ silenciosa, nem nos damos conta dos prejuízos éticos e morais desencadeados. Então, valeu a manifestação conjunta da arte e da vida nesse caso!  Precisamos que os indicados aos prêmios das Academias, ou simplesmente da vida, sejam aqueles cujo mérito tão extraordinário consiga sem esforço silenciar quaisquer atitudes tolas, ou desrespeitosas, que ainda persistam na sociedade.