Sonhos
Por Alessandra Leles Rocha
Quando a mente deixa de sonhar, de traçar planos e
metas, o individuo começa a murchar; afinal, somos movidos a estímulos desde o
nascimento. É! Aquele tapinha no bumbum para nos fazer chorar e mostrar que
estamos ativos, a plenos pulmões. A raça humana é por natureza desbravadora,
inquieta, curiosa; talvez, pela necessidade de assegurar sua própria
sobrevivência.
Mas a vida tem nos apresentado uma quantidade de
obstáculos, os quais parecem nos desafiar a prosseguir no desenvolvimento dos
nossos sonhos. O lado sombrio e cruel de muitos seres humanos coloca-se no
desserviço de estabelecer situações que massacram e extinguem o lado lúdico e
criativo de sua espécie. O sonho estruturado na luta da conquista, no sabor da
vitória acalentada ao longo do tempo, se destrói no sopro do vento árido das
negociatas, dos jogos de poder, da corrupção, do jeitinho, dos conchavos. Os
sonhos se volatilizaram, transformaram-se em fumaça, em miragens inatingíveis
no seu contexto normal.
Haverá quem diga que isso é normal, é a “evolução
dos tempos”, coisas da vida! Os mais céticos concordarão que sonhar é bobagem,
perda de tempo, que os dias hão de ser trabalhados nas linhas por eles
determinados lógica e objetivamente. Entretanto, no fundo da alma, todos nós
sabemos que sonhar é fundamental; nossa sanidade, nosso equilíbrio, nossa
vitalidade depende dessa mola do pensamento que mal sabemos definir ou
descrever de maneira precisa. Às vezes, são nossos momentos de trégua em tempos
reais de guerra, ou nossos oásis de água pura e cristalina, de vento fresco, de
silêncio pacificador. Outras, são nossa adrenalina fervilhante, atropelando as
emoções, nos fazendo rir sem controle, os olhos brilharem de satisfação. Quem
nunca acordou na segunda-feira pela manhã bem mais disposto e feliz com a
realização do sonho de ver seu time na liderança do campeonato, depois de um
jogo com gols de pura genialidade? Quem não se debulhou em lágrimas ao ouvir o
nome na lista de aprovados no vestibular, depois de anos sonhando com este dia?
Quem não ficou estático diante da vista do lugar que sempre sonhou em conhecer,
depois de tantos anos de economia suada? Quem ...???
Só que ao contrário de desfrutarmos dessa energia
boa advinda de nossos sonhos, estamos cada vez mais enredados numa imensa teia
de frustração. Nossos sonhos estão sendo banidos de saída; não damos tempo
deles ao menos maturarem, pois sabemos que isso seria em vão. Os tentáculos que
podem esmagá-los estão estampados por toda a mídia, basta apenas atenção para
percebê-los. Então, ao invés de sonhar estamos ficando doentes. Dormimos mal,
nos alimentamos mal, convivemos mal,... nos robotizamos em um comportamento
altamente superficial. Sobrevivemos ao poder de remédios para as mazelas do
corpo que refletem tão somente o que se passa no mais profundo da alma. Quando
a cabeça encosta no travesseiro ela não mais encontra o refúgio dos sonhos;
dorme no vazio de uma total qualidade salutar, com olhos fechados, pensamentos
fechados.
Até quando? Até quando resistiremos nesse viver insosso?
Ninguém sonha para ninguém! Estão destruindo algo que nos pertence, o que há de
mais belo dentro de nós, interferindo nas nossas vontades, nos nossos quereres,
descolorindo os nossos pensamentos e ideias. Então, como disse Martin Luther
King Jr. 1, “Eu tenho um sonho...”; o meu sonho é
sonhar de verdade, ver os meus sonhos se concretizarem sem ingerências, sem
manipulações, coloridos e alegres como devem ser.