O que fazer com as
pedras no meio do caminho?
Por Alessandra Leles
Rocha
Bendita seja a fantástica criação
voadora do mineiro Santos Dumont! Encurtou distâncias, economizou o tempo, nos
trouxe outra perspectiva da geografia, nos faz sonhar entre nuvens de algodão.
Pena, o grande pássaro de metal não voar de ninho em ninho, aqui e ali, bem
pertinho! É! Nem todo lugar está preparado para nos dar o prazer dessa viagem. Então,
o jeito é se valer das quatro rodas ou dos ônibus; já que, nosso país há tempos
abandonou as ferrovias e o nostálgico apito do trem.
O problema é que nosso ir e vir anda
capenga! O limite que deveria ser o céu, infelizmente está cá embaixo; fazem de
tudo para nos estreitar os caminhos. Depois que a invenção de Dumont se
popularizou, o céu agora é de todos! Todo mundo tem condição de comprar sua
passagem (são muitas promoções e parcelamento no cartão de crédito, ora!) e
embarcar... bem, às vezes, porque os voos andam superlotados e quando o clima
não ajuda ninguém sobe e ninguém desce, o pandemônio se instala nos aeroportos,
o ir e vir se relativiza! Ah! De vez em quando tem greve dos aeroviários
também; aí, falta quem faça o espetáculo acontecer: pilotos, copilotos,
comissários, mecânicos, atendentes e afins.
Se a decisão for optar pelo carro,
muito cuidado! Estradas ruins, muitos acidentes; estradas em bom estado, pior
ainda! Os acidentes automobilísticos graves e gravíssimos se proliferam e
marcam o quadro de estatísticas terríveis no país. Imprudência e despreparo dos
condutores, infraestrutura precária das rodovias, veículos sem a manutenção
necessária são apenas alguns fatores a demarcar a situação.
Se a decisão for optar pelo ônibus,
quanta dor de cabeça! Além do que já fora apontado anteriormente, acrescenta-se
o descaso das empresas com a população. Essa história de veículos hermeticamente
lacrados, com vidros escuros e um ar refrigerado de frigorífico (um meio de
cultura favorável à proliferação de vírus e bactérias que ficam circulando em
um ar totalmente viciado) representam uma verdadeira ratoeira para o passageiro
em caso de acidentes, especialmente no período noturno. A escuridão impede que
se tenha uma visão clara do que acontece dentro e fora do ônibus, o que também
facilita em muito os assaltos.
Por falar neles, o hábito de parar ao
sinal de qualquer pessoa na estrada ainda persiste! Basta um aceno e há
empresas que não se importam em abrir as portas do veículo ao desconhecido,
brincando com a sorte e a segurança dos demais passageiros. Além disso, a antiga prática do “pinga-pinga”
retira do usuário o direito de saber exatamente o tempo de duração da viagem,
quantas paradas estão oficialmente estipuladas e por qual período. Você paga a
passagem e só sabe o horário de embarque, porque o de chegada fica a critério do
curso da viagem; um desrespeito total!
A falta de opção de horários para
determinados destinos, também é outro fator a ferir os direitos do consumidor. As
linhas são estabelecidas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)
que as outorga as empresas de ônibus interurbanas e interestaduais, através de Edital
de licitação e assinatura do Contrato de Permissão; mas, o modelo vigente não
possibilita muitas vezes que empresas diferentes façam o mesmo itinerário e
ampliem dessa forma o quadro de horários, a livre concorrência no valor da
passagem, os diferenciais oferecidos... Enfim, quem paga o resultado de ficar refém
e ilhado a má prestação do serviço é o consumidor.
Dependendo do trajeto, além de ir
sacolejando horas a fio, desconfortável, parando em lugares bizarros, sem uma
televisão ou som para descontrair, sem um serviço de bordo minimizando a fome e
a sede, você ainda tem que suportar a realidade de ter pagado uma tarifa
semelhante à área, sem ter podido parcelar no cartão, e chegar muito tempo
depois do planejado! Assim como na rotina urbana, caso você não queira se
atrasar para um compromisso, o qual só há a possibilidade de ir de ônibus, fique
ciente de que o jeito é se organizar e antecipar o trajeto com tempo hábil para
eventuais inconvenientes. Mas, a vida é uma caixinha de surpresas e se ela te
oferecer uma, provavelmente você não conseguirá se desvencilhar do problema por
ter sido pego de última hora e o sistema de ônibus não te facilitar em nada!
É, meu caro! Bem vindo a mais uma
situação que ninguém se lembra de resolver; mas, se lembra muito bem de cobrar de todos nós! Já está
embutido no ônus dos nossos impostos! Só não quero pensar muito se a população
continuar a crescer e em 2014, 2016, quando milhares de estrangeiros estiverem
por aqui e necessitarem desses mesmos serviços que nós; aí, nem ordem e nem
progresso!