domingo, 7 de novembro de 2010

Para ler e refletir!!!

Sociedade

Por Alessandra Leles Rocha

            Até parece notícia requentada; mas, a arte de viver em sociedade tem se tornado cada dia mais impossível. O que adianta a consciência sobre o certo e o errado, o bom e o mau, o ético e o antiético, o moral e o imoral, se tudo parece conspirar a favor do “quanto pior melhor”? Ceder às pressões ou lutar sozinho, a luta inglória pelos valores que um dia foram pilares de sustentação de uma sociedade? Inércia ou movimento? As interrogações se multiplicam e se põem cada vez mais distantes da objetividade das respostas.
            Por mais que tenhamos vontade de criar o próprio mundo e nos mantermos distantes desse furacão de restos e podres que tentam dominar a Terra, sabemos que não somos uma ilha e a convivência, mais dia menos dia, torna-se inevitável. Então, sofremos! Sofremos, pois qualquer que seja a escolha parece em vão. Erguer alto e convicto a bandeira dos nossos direitos, dos nossos deveres e marchar avante para vê-los respeitados é missão solitária, grito ecoado no silêncio desértico de uma sociedade desagregada, letárgica, alienada, a espera que a mudança dos ventos, dos rumos, dos fatos se dê por conta própria, à revelia de sua voz. Esperar passivo e inoperante a retomada de consciência por parte daqueles que agem contra os princípios, a ética e a moral; é como crer absoluto em uma miraculosa transformação que não pretende acontecer e enquanto não vem, pagamos cabisbaixos os ônus impostos, o ranger de dentes que não nos permitiu balbuciar sequer uma sílaba, a cegueira conveniente que impede dar um passo rumo à transformação.
            Lembrando-me de um texto motivacional, denominado “A Ratoeira” 1, que em síntese relata a indiferença dos indivíduos ao acreditar que o clamor de um é apenas uma questão individual, que seu temor, sua aflição, em nada ameaça a segurança e a tranquilidade dos demais; é cada dia mais verdadeiro. Assim como no texto, é preciso que o pior aconteça e repercute impactante na vida de todos, da sociedade, da comunidade em geral, para que o óbvio torne-se claro, ou seja, “é mais prudente prevenir do que correr atrás de remediar”; pois, há situações que tamanho o seu vulto não dispõem de solução satisfatória. Esse fomentar da individualidade no contexto social é que favorece a imensa dificuldade de conquistas e resultados positivos. A partir do momento que cada um tem que hastear a própria bandeira em nome de um direito que não lhe é cabido sozinho, começa-se o remo exaustivo e penoso contra a maré. Por isso não é incomum vermos através da imprensa a luta segmentada em busca de um direito que na verdade diz respeito a todos: por exemplo, mulheres, homossexuais, crianças, idosos, cada um a sua maneira lutando contra a violência; quando, toda a sociedade é que deveria estar de mãos dadas contra esse mal que afeta diretamente a todos, sem distinção de etnia, credo, gênero, idade ou condição social. Diante desse panorama, tornamo-nos uma sociedade de choramingo, queixosa das injustiças do mundo, vítima de seu próprio posicionamento, ou falta dele; talvez, fruto de um paternalismo histórico, uma realidade cristalizada pelo tempo, na qual ficamos sempre à espera de um líder, um “salvador da pátria”, um super-herói de carne, osso e ousadia para por ordem no caos e devolver a paz, o bom senso e os direitos aos seus devidos lugares.
            A questão é que problemas existem de todas as formas, naturezas, dimensões, complexidades e resolvê-los de maneira objetiva e contundente é o caminho para não sermos soterrados por gigantescas “bolas de neve”, que é o que se transformam quando não são resolvidos desde o início; exemplos de tragédias que até hoje não tiveram um desfecho satisfatório se multiplicam pelo país2. Infelizmente, só depois que acontecem, é que as pessoas se veem obrigadas a unir as forças, para tentar ressarcir parte dos prejuízos, especialmente os materiais, porque os físicos e os morais dificilmente serão superados.
            Por isso viver tem se tornado tão cansativo! O cansaço é só a pontinha desse iceberg! Adoecemos, sem darmos conta real disso, o corpo, a mente e o espírito! Somos diariamente convocados a participar de um verdadeiro campo de batalhas, independentemente da nossa vontade. É o stress que bate à nossa porta, a partir do momento que o ser humano perdeu o senso do seu próprio limite e passou a agir ferindo e desrespeitando o limite do outro; seja no trânsito, no trabalho, na família, no convívio em sociedade, no supermercado,... o “EU” não pede licença, não abre passagem, não se importa com o outro, não coexiste em harmonia com o mundo. Frente a tanta pressão, vamos nos comprimindo, nos sufocando, nos agredindo, nos dinamitando interiormente, perdidos sem saber o que pensar, o que fazer, nem como agir.     
             Como diz a música de Ivan Lins3 “depende de nós...” 4 Uma única flor não faz a primavera! Uma única voz não faz um coro! Uma única árvore não forma uma floresta!... Eu, tu, ele, nós, vós, eles, todos juntos é que conjugaremos a mudança necessária, a transformação, a evolução, a revolução dos pensamentos e ideias, que alcançaremos a força suficiente para romper com o caos e devolver a ordem.