segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Crônica: Cidadania em verde esperança




Por Alessandra Leles Rocha

            Bons ventos soprem às mudanças!!! Nada de imediatismos, de irreflexões, de cabrestos ou de ilusões; ainda há espaço suficiente para se olhar além dos horizontes e descobrir a esperança brotando da seriedade da fala contundente e comprometida com as necessidades que de fato sustentarão o amanhã.
            Conduzidos pelas mãos da jovem senhora Democracia, fomos às urnas depositar nosso voto, nossa compreensão mais abstrata da cidadania que habita em nós e nos torna elemento vital na estrutura política, mesmo quando revoltos e indignados bradamos o desejo em sermos apolíticos. E da certeza convicta que se espalhava como rastilho de pólvora, fez-se a surpresa retumbante do silencioso despertar da consciência coletiva; uma certa cidadania em verde esperança.
            É! A expressão massificada, estereotipada, de Macunaíma1 foi se perdendo no tempo! O brasileiro tem sim aprendido com os erros, senão na totalidade, mas na grande expressão numérica de sua gente. Quem disse que decepção não transforma? Que falta de confiança não arranha credulidade? Sofrimento sempre fez parte da sina nacional, mas não é por isso que precisa continuar. Tal qual criança, precisamos de quem nos fale sério, imponha respeito, assuma e cumpra compromissos, zele pelo essencial, nos inspire admiração.
            O voto de hoje exprimiu um novo perfil. Depois de 94, quando o Plano Real2 devolveu-nos as rédeas da economia e projetou internacionalmente o Brasil como um país capaz do possível; entendemos que dali em diante poderíamos almejar mais, poderíamos não nos satisfazer com quaisquer migalhas. Acordamos do torpor, da apatia cotidiana e ascendemos nossos olhares mais críticos, mais céticos, mais inconformados. Demos passos à frente, outros atrás; mas, nos metamorfisamos positivamente ao buscarmos a identidade de nossa consciência, uma consciência liberta de amarras e mordaças. Podemos dizer que “a borboleta ainda não está plenamente pronta para romper o casulo e voar”; contudo, a lagarta feia e assustadora também não existe mais. Só nos resta um caminho: seguir adiante; agregando as sabedorias, que as quedas e os tropeços nos presentearam, e os sonhos, que nascem e se refazem das necessidades que o correr do tempo e da vida nos impõem.
            Paramos então, os ponteiros do relógio antes de quaisquer decisões, para ganharmos fôlego, respirarmos fundo, oxigenarmos as ideias, ponderarmos o ontem, o hoje e o amanhã. O poder só se materializará depois de nossa deliberação conjunta, o nosso querer coletivo, a nossa compreensão nacional. Por isso, será preciso olhar nos olhos, por na balança os argumentos, enxergar além da imagem, depurar os “achismos” e os “devaneios”, optar entre o alicerce bem fundado ou a construção de improviso.


1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Macuna%C3%ADma
2 http://pt.wikipedia.org/wiki/Plano_Real