Era
para ser um debate...
Por
Alessandra Leles Rocha
Sem oferecer quaisquer novidades;
mas, reafirmando o óbvio, o segundo debate entre os presidenciáveis não passou
de um encontro entre membros da direita (e seus matizes). A ausência do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não foi o fator determinante do que foi
dito e manifesto ali.
Aliás, todos os ataques
direcionados a ele aconteceriam na sua presença ou não. Como já considerei em
outros textos, a questão não é o Lula; mas, o que ele personifica para a
direita brasileira. Tanto que quaisquer discursos e narrativas, mesmo que não
sejam proferidos por ele, mas que destoem do que é estabelecido por ela, são
automaticamente rotulados e estereotipados pejorativamente.
De modo que não importa para a
direita (e seus matizes) ter um apoio majoritário da elite, ou deter os poderes
sociais e econômicos nas mãos, como vem acontecendo nesses pouco mais de 500
anos de história. Ela não quer ser surpreendida novamente pela ascensão
popular. Ela não quer ter que se preocupar com a mobilidade social, com a
reafirmação da diversidade e da pluralidade humana no país, com a participação
popular nas decisões.
Por isso ela chega a um debate
sem propostas. Munida apenas de raiva, de ódio, de desprezo, fundamentados por
discussões rasas e enviesadas. Sim, porque recortar a corrupção nacional a fim
de fazê-la caber ajustadinha aos governos de esquerda, beira o ridículo. Ora,
corrupção é um mal condenável, sim. Traz prejuízos de ordens diversas para o
país, sim. Mas, trata-se de uma chaga perene na história nacional. Não há
governo nesse país que não tenha convivido com a corrupção.
Considerando, então, que a
direita esteve à frente dos poderes na maior parte da história brasileira, ela
tem um imenso telhado de vidro para se colocar em ataque dessa maneira. Como sempre
digo, a negação, a invisibilização, a distorção, não muda os fatos. O dedo
indicador que aponta para o outro tem sempre outros três voltados para si. A direita
deveria pensar a respeito! Ainda mais, colocando reparo nas manchetes recentes dos
veículos de comunicação e de informação em que figura como protagonista de escândalos
horrorosos. Entrar nessa de “mocinho” e “bandido” é muito sem noção!
Sobretudo, quando nesse viés atual
da contemporaneidade brasileira, a direita resolveu impor sigilo a tudo que lhe
causa desconforto e dificuldade de explicação. Pois é, já entendemos que a
dialogia não faz parte das suas habilidades e competências! Haja vista o próprio
debate! Ter munição argumentativa consistente, de fato, não é tarefa para
qualquer um. Requer conhecimento, prática, desenvoltura, capacidade de
comunicação, elementos que não são inerentes a todas as personalidades. Mas,
acima de tudo, requer disposição de agir com transparência.
Erros e acertos fazem parte do
ser humano. A forma com a qual se lida é que é o pulo do gato e faz total
diferença. Já que estamos falando sobre corrupção, que tem sido a bola da vez
para os ataques da direita, ela não foi, não é e nem nunca será privilégio
nacional. Simplesmente, porque é algo que faz parte do desvirtuamento
comportamental do ser humano. Portanto, tem corrupção em todo canto do mundo.
A diferença é que no Brasil ela
foi naturalizada no inconsciente coletivo, transformada em uma característica da
sua população e, por isso, indevidamente tratada e corrigida para que não viesse
a se repetir. Aliás, chegou-se a tal ponto que ela adquiriu gradação, ou seja,
pequenas corrupções, grandes corrupções. Como se corrupção não fosse
simplesmente corrupção. Tudo para banalizar e trivializar o processo,
subtraindo-lhe o peso das responsabilidades, dos prejuízos, dos
constrangimentos. Inclusive, com o aval, em muitos momentos, do próprio
judiciário nacional, por meio da sua lentidão, dos seus silêncios, das suas
contemporizações, enfim.
Portanto, se em algum momento a
ideia era promover um debate, ela falhou. Não havia por parte da maioria
participante o interesse propositivo, a disposição ao contraditório, o preparo
argumentativo suficiente. Todos estavam alicerçados sob um mesmo denominador
comum antes de começar a falar, ou seja, o velho ideário da direita (e seus
matizes). Daí a irrelevância da presença ou não do ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva; pois, ainda que ele quisesse dialogar, seus interlocutores não.
Assim, o espetáculo promovido
pela direita, na noite de ontem, coaduna exatamente com o que escreveu Eric
Hobsbawm, ou seja, “Mito e invenção são
essenciais à política de identidade pela qual grupos de pessoas, ao se
definirem hoje por etnia, religião ou fronteiras nacionais passadas ou
presentes, tentam encontrar alguma certeza em um mundo incerto e instável,
dizendo: ‘Somos diferentes e melhores do que os Outros’”. Por essa razão,
eles não se preocupam em estabelecer um diálogo que pressuponha uma troca
equilibrada e civilizada de argumentos. Para eles bastam meros ataques
ofensivos e desqualificantes, como se viu acontecer.