“Se correr o bicho pega, se ficar
o bicho come”
Por
Alessandra Leles Rocha
Reza o dito o popular: “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho
come”. A corrida eleitoral que se inicia oficialmente essa semana deveria
se debruçar nessa reflexão, particularmente, a banda da direita e seus matizes.
Tudo em razão da sua terrível imprevidência egocêntrica.
Ora, considerando sua tendência aporofóbica
que se fez presente, como nunca, nessa atual gestão, sem se darem conta do
curso desse movimento, as conjunturas agora lhes colocam em xeque-mate.
Não é difícil entender esse raciocínio.
A questão é que a realidade se tornou tão complexa e difícil que fugir das
obrigações em relação à expansão desenfreada da miséria, da pobreza, da falta
de moradia, da precarização do trabalho, representa sim, uma perda
significativa de votos. Portanto, “se
correr o bicho pega”.
Em contrapartida, as velhas práxis
do “voto de cabresto”, configuradas
pelas benesses claramente eleitoreiras, com prazo de validade marcado no
calendário, soam como o mais ultrajante escárnio para quem vive a crueza do
cotidiano.
Aqueles que mais dependem das
políticas públicas, sabem muito bem que até aqui foram preteridos,
negligenciados, invisibilizados e prejudicados pelas atuais políticas governamentais.
O que significa que não
precisariam estar passando um sufoco danado para sobreviver, se os rumos
traçados tivessem sido outros. Portanto, “se
ficar o bicho come”.
Não há meio termo. Não há em cima
do muro. Admitir ou não todo tipo de erros, equívocos, desajustes, incompetências,
nessas alturas do campeonato, é chover no molhado. Inútil. Vazio. Algo que não
há estatística no mundo capaz de fazer parecer algo que não é.
Aliás, é bom que se diga, que a
grande massa da população não depende de vasto e profundo conhecimento em Economia
e dados para saber exatamente onde lhe apertam os calos do dia a dia.
Seja no supermercado, no
pagamento das contas, no uso do transporte, na compra dos medicamentos, ... Essas
pessoas sabem direitinho o quanto o seu parco dinheiro perdeu fôlego. E é
diante desse cenário que o bom e paciente humor delas desaparece.
Afinal de contas, o malabarismo
que tem sido necessário para sobreviver no Brasil é demasiadamente cansativo e
frustrante. Porque ele não fica restrito a essa perspectiva de análise. Não,
tem muito mais.
Uma breve observação cotidiana in loco ou através dos veículos de
comunicação e informação, para perceber que em meio a essa conjuntura adversa,
há um pequeno grupo, nadando de braçada, em regalias e privilégios com dinheiro
público, advindo do sangue, suor e lágrimas da maioria.
Sob a mais áspera franqueza,
milhões de brasileiros são, então, confrontados com o abismo da desigualdade. Que
no contexto mais recente, mostra-se cada vez mais perverso e cruel sem vistas a
quaisquer acenos de mitigação efetiva.
Muito pelo contrário! A verdade é
que as políticas públicas no Brasil, nesses últimos quatro anos, foram
transformadas em pejorativas esmolas. Não só pela insuficiência, como pela ineficiência
expressa pela mais completa ausência de planejamento, de critério, de objetivos
a serem alcançados.
Sem contar que, não raramente,
elas só surgiram no horizonte brasileiro depois da emergência imposta pelas
circunstâncias. Como foi durante a Pandemia.
E sobre esse recorte da história brasileira
nem se precisa dizer muito, pois se conhece bem o curso dos acontecimentos e
suas consequências.
Se não conhecêssemos bem o
Brasil, poderíamos dizer que a direita e seus matizes estão em “palpos de aranha”. Só que não. Simplesmente,
porque seu pragmatismo orbita uma galáxia anos luz de distância dos problemas
reais brasileiros.
A direita só quer o poder pelo
poder. Estar no poder. Ser o poder. E para isso nunca mediram esforços para a
desfaçatez. Vendem a mãe se preciso for.
Mas não significa que apesar de
todos os seus esforços consigam imprimir alguma gota de credibilidade, de
verdade, às suas estratégias. Eles distribuem Fake News. Eles são as Fake
News.
Pois é, quem diria que podem
provar do mesmo veneno! A negação. Se permitiram negar o Brasil, a sua história,
a sua realidade, os seus desafios, enfim... Criaram um país paralelo ajustado
aos seus interesses, crenças e valores, como se isso fosse possível.
Mas, a mentira tem pernas curtas!
E a verdade sempre dá um jeito de aparecer na fotografia. E isso não acontece
por causa dos oponentes, ou da imprensa, ou dos países estrangeiros, ou de quem
quer que seja.
A verdade aparece porque ela é o
fato em si. Ela é a linguagem, antes de tudo, não verbal. Ela é a imagem, o
espelho e seu reflexo. Ela é o Narciso que atrapalha o desvario narcísico dos
outros. Porque a verdade, nem sempre é bela. Ela é o que é.
Agora, é aguardar para saber se a
direita e seus matizes vai lograr algum êxito na sua empreitada nessas eleições.
Afinal, o tempo é implacável, quando se trata do esgarçamento dos tecidos das relações
sociais.
Vai ficando cada vez menor e mais
difícil de ser trabalhado, de ser remendado, de ser moldado aos interesses. Pois
sua fragilidade acaba expondo o inconsciente coletivo à impregnação da própria
realidade.
A velha máxima de que “não se pode tampar o Sol com uma peneira”, tendo
em vista de que as tramas abertas não impedem a luz de entrar, a verdade
prevalecer.
É; a verdade dói! Mas, não se
vive sem ela. Negar nunca mudou e jamais mudará os rumos da história. A negação
é sempre inútil e irrelevante porque os fatos falam por si, à revelia dessa ou daquela
interpretação.
Quanto mais se nega mais eles se
recrudescem, mais eles se reafirmam, não deixando escolha senão enfrentá-los no
tempo certo, no campo da resolução que demandam.
Resta saber se a direita e seus matizes estão dispostos a “calçar as sandálias da humildade”, a aceitar a verdade, na medida da revisão profunda de seus conceitos, da quebra de seus paradigmas, da ressignificação de seus posicionamentos. Por enquanto, eles parecem bastante confortáveis na negação.