quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Mentira. Inverdade. Falsidade. Fuxico. Invenção... Fake News.


Mentira. Inverdade. Falsidade. Fuxico. Invenção... Fake News.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

É claro que as Fake News fizeram um estrago gigantesco durante a pandemia; bem como, em todas as outras frentes do negacionismo que vem se presenciando há algum tempo. Embora representem um desserviço orquestrado para atrapalhar o fluxo natural do cotidiano, uma observação mais atenta sobre elas aponta como têm se tornado mais e mais fugazes. Pois é, quem diria!

Acontece que o volume de informações circulantes através das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) é tão grande, que os próprios disseminadores de Fake News se perdem no controle dos conteúdos. Mentirosos contumazes costumam passar por esse dissabor, quando não conseguem manter a mesma versão da mentira a todos com quem se relaciona.

Aí, alguém mais atento e perspicaz, começa a seguir o fio da história e percebe uma quantidade significativa de contradições e de desajustes, e interrompe a propagação da mesma sob a alegação de uma mentira deslavada. Fazendo desacreditar por completo a tal narrativa. E quanto mais se insiste na disseminação de mentiras ou Fake News, dentro de uma mesma temática, pior a situação fica. Afinal de contas, a insistência tende a gerar suspeitas.

Vamos e convenhamos, quando alguém precisa reforçar para você uma ideia sobre isso ou aquilo, é sinal de que está tentando lhe convencer a respeito, custe o que custar. Agora, imagina se isso acontece de manhã, de tarde, de noite, de madrugada. Então, sem se dar conta dos argumentos empregados, é inevitável que os mesmos acabem caindo na vala do paradoxal, do absurdo, do incoerente, tornando-se vazios e chatos.

Agora, imagine só a avalanche que está por vir nos próximos 46 dias de campanha eleitoral! Sim, porque mesmo cientes de que as Fake News serão punidas pela Justiça Eleitoral, a força do hábito que se instituiu no país pode não conseguir controlar seus arroubos. No entanto, dado o recorte de tempo tão limitado não podemos desconsiderar, em hipótese alguma, que as chances de esvaziarem seus propósitos são imensas.

Considerando experiências eleitorais anteriores, em que panfletos e santinhos dos candidatos já enfureciam os cidadãos pela insistência, imagine só, o que que pode acontecer diante das Fake News!  Vai ser um tal de bloquear daqui, silenciar dali, nas redes sociais, como nunca se viu! Nem mesmo toda a criatividade bem-humorada do brasileiro será capaz de cumprir o papel das Fake News na doutrinação do inconsciente coletivo.

Aliás, sob esse aspecto é bom ressaltar que certas pessoas se valem das Fake News para justificar esse ou aquele comportamento, para posar de vítimas inocentes desse tipo de abordagem e persuasão tecnológica; mas, fazem isso apenas para atenuar sua própria intenção e responsabilidade. Embora saibam a verdade dos fatos, o que elas fazem é tentar dividir com os apelos do mundo virtual a sua própria anticidadania.  

Infelizmente, esse foi um dos desafios impostos pela contemporaneidade. A facilidade e o volume das informações acenam com a possibilidade de ter quem fale por nós, pense por nós, decida por nós, escolha por nós. Não precisando, então, consumir tempo e energia analisando, refletindo, questionando, o que acontece ao nosso redor. Nem, tampouco, estabelecendo quaisquer comparações entre fatos e argumentos.

Entretanto, o afã em torno das Fake News é tão intenso que, ao extrapolar as fronteiras do bom senso e da insistência, acaba se esgarçando e não chegando ao objetivo final. Não adianta, as mentiras têm mesmo pernas curtas! De modo que o próprio arranjo das conjunturas cotidianas, com todo o seu leque de surpresas, as impede de se sustentar por muito tempo.

Além disso, elas próprias catalisaram o surgimento dos veículos de checagem de informações e notícias para depuração e divulgação da verdade que alicerça os fatos. De repente, o campo de ação das Fake News se estreitou! Elas não estão sós e livres na sua missão persuasiva e desestabilizadora. Milhares de olhos estão sobre elas, seguindo seus passos e revelando suas identidades secretas.

E isso é curioso, porque uma parcela significativa da população costuma demostrar um certo desinteresse, um certo descaso, pela história, desconsiderando que esta é algo vivo, que acontece a cada segundo. Então, quando vejo o trabalho dos serviços de checagem atuando, vejo a história confrontando essas pessoas e reafirmando a importância do seu papel para o desenvolvimento e o equilíbrio social.

Basta uma passada de olhos nas páginas amareladas da história para ver como mentiras dilapidaram, corromperam, mataram, destruíram, exterminaram, ... civilizações inteiras, em tempos em que a inexistência e/ou a precariedade dos veículos de informação e comunicação impossibilitava conter tais arroubos. Daí a necessidade da reflexão plural pautada na checagem das informações, a partir de fontes seguras, precisas, isentas.

Nada mais oportuno para colaborar com o fracasso natural das Fake News! Afinal, o que certamente levaria algum tempo para cair em desgraça por si mesmo, através da checagem não chega a ganhar ampla notoriedade. Se esvai. Vira fumaça. Vira lenda. E não permite acender a sua chama deletéria dentro da sociedade. Não permite realizar e fixar seus estragos nas páginas da história. O que significa salvar vidas, sonhos, desenvolvimento e progresso.