Mentira.
Inverdade. Falsidade. Fuxico. Invenção... Fake
News.
Por
Alessandra Leles Rocha
É claro que as Fake News fizeram um estrago gigantesco
durante a pandemia; bem como, em todas as outras frentes do negacionismo que
vem se presenciando há algum tempo. Embora representem um desserviço
orquestrado para atrapalhar o fluxo natural do cotidiano, uma observação mais
atenta sobre elas aponta como têm se tornado mais e mais fugazes. Pois é, quem
diria!
Acontece que o volume de
informações circulantes através das Tecnologias da Informação e Comunicação
(TICs) é tão grande, que os próprios disseminadores de Fake News se perdem no controle dos conteúdos. Mentirosos contumazes
costumam passar por esse dissabor, quando não conseguem manter a mesma versão
da mentira a todos com quem se relaciona.
Aí, alguém mais atento e
perspicaz, começa a seguir o fio da história e percebe uma quantidade
significativa de contradições e de desajustes, e interrompe a propagação da
mesma sob a alegação de uma mentira deslavada. Fazendo desacreditar por
completo a tal narrativa. E quanto mais se insiste na disseminação de mentiras
ou Fake News, dentro de uma mesma
temática, pior a situação fica. Afinal de contas, a insistência tende a gerar
suspeitas.
Vamos e convenhamos, quando
alguém precisa reforçar para você uma ideia sobre isso ou aquilo, é sinal de
que está tentando lhe convencer a respeito, custe o que custar. Agora, imagina
se isso acontece de manhã, de tarde, de noite, de madrugada. Então, sem se dar
conta dos argumentos empregados, é inevitável que os mesmos acabem caindo na
vala do paradoxal, do absurdo, do incoerente, tornando-se vazios e chatos.
Agora, imagine só a avalanche que
está por vir nos próximos 46 dias de campanha eleitoral! Sim, porque mesmo
cientes de que as Fake News serão punidas
pela Justiça Eleitoral, a força do hábito que se instituiu no país pode não
conseguir controlar seus arroubos. No entanto, dado o recorte de tempo tão
limitado não podemos desconsiderar, em hipótese alguma, que as chances de
esvaziarem seus propósitos são imensas.
Considerando experiências eleitorais
anteriores, em que panfletos e santinhos dos candidatos já enfureciam os
cidadãos pela insistência, imagine só, o que que pode acontecer diante das Fake News! Vai ser um tal de bloquear daqui, silenciar dali,
nas redes sociais, como nunca se viu! Nem mesmo toda a criatividade bem-humorada
do brasileiro será capaz de cumprir o papel das Fake News na doutrinação do inconsciente coletivo.
Aliás, sob esse aspecto é bom
ressaltar que certas pessoas se valem das Fake
News para justificar esse ou aquele comportamento, para posar de vítimas
inocentes desse tipo de abordagem e persuasão tecnológica; mas, fazem isso
apenas para atenuar sua própria intenção e responsabilidade. Embora saibam a
verdade dos fatos, o que elas fazem é tentar dividir com os apelos do mundo
virtual a sua própria anticidadania.
Infelizmente, esse foi um dos
desafios impostos pela contemporaneidade. A facilidade e o volume das
informações acenam com a possibilidade de ter quem fale por nós, pense por nós,
decida por nós, escolha por nós. Não precisando, então, consumir tempo e
energia analisando, refletindo, questionando, o que acontece ao nosso redor. Nem,
tampouco, estabelecendo quaisquer comparações entre fatos e argumentos.
Entretanto, o afã em torno das Fake News é tão intenso que, ao
extrapolar as fronteiras do bom senso e da insistência, acaba se esgarçando e
não chegando ao objetivo final. Não adianta, as mentiras têm mesmo pernas
curtas! De modo que o próprio arranjo das conjunturas cotidianas, com todo o
seu leque de surpresas, as impede de se sustentar por muito tempo.
Além disso, elas próprias catalisaram
o surgimento dos veículos de checagem de informações e notícias para depuração
e divulgação da verdade que alicerça os fatos. De repente, o campo de ação das Fake News se estreitou! Elas não estão
sós e livres na sua missão persuasiva e desestabilizadora. Milhares de olhos
estão sobre elas, seguindo seus passos e revelando suas identidades secretas.
E isso é curioso, porque uma
parcela significativa da população costuma demostrar um certo desinteresse, um
certo descaso, pela história, desconsiderando que esta é algo vivo, que
acontece a cada segundo. Então, quando vejo o trabalho dos serviços de checagem
atuando, vejo a história confrontando essas pessoas e reafirmando a importância
do seu papel para o desenvolvimento e o equilíbrio social.
Basta uma passada de olhos nas
páginas amareladas da história para ver como mentiras dilapidaram, corromperam,
mataram, destruíram, exterminaram, ... civilizações inteiras, em tempos em que
a inexistência e/ou a precariedade dos veículos de informação e comunicação
impossibilitava conter tais arroubos. Daí a necessidade da reflexão plural
pautada na checagem das informações, a partir de fontes seguras, precisas,
isentas.
Nada mais oportuno para colaborar com o fracasso natural das Fake News! Afinal, o que certamente levaria algum tempo para cair em desgraça por si mesmo, através da checagem não chega a ganhar ampla notoriedade. Se esvai. Vira fumaça. Vira lenda. E não permite acender a sua chama deletéria dentro da sociedade. Não permite realizar e fixar seus estragos nas páginas da história. O que significa salvar vidas, sonhos, desenvolvimento e progresso.