segunda-feira, 4 de abril de 2022

O silêncio vale ouro e a verborragia vale... nada.


O silêncio vale ouro e a verborragia vale... nada.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Polemizar tem sido a estratégia da ignorância; sobretudo, quando a polêmica é ofensiva, degradante, repulsiva. Lançam-se ideias bizarras e vulgares, as quais de tão vazias, só conseguem mesmo levantar uma cortina de fumaça, e daí não se precisa expor o tamanho da fragilidade intelectual e dialógica, da ausência completa de bons argumentos, que é característica comum a certos indivíduos. Assim, o palavrório non sense corre solto, acompanhado de toda uma encenação truculenta e destemperada, que apenas serve de escudo de papelão para reafirmar uma valentia e uma credibilidade que existem apenas na seara da imaginação.

Mas, pior do que ter gente que se presta a um papel tão lastimável desses, é descobrir que isso só acontece em razão da existência de outros dispostos a legitimar tal comportamento. Isso significa que não é o discurso uníssono o que de maior fomenta o repúdio, mas o eco da estupidez absurda que se propaga em nuvens de ignorância gratuita. Infelizmente, o ser humano parece ter perdido a consciência de fazer valer e apresentar diante da sociedade o seu melhor. Aqui e ali expressam-se nas piores camadas da sua essência, desfazendo-se, a tal ponto, daquilo que se chamaria decoro e elegância da condição humana e dando a medida exata do seu tamanho existencial enquanto indivíduo.

Assim, lá vão eles e suas claques fantasmagóricas transitando pelo absurdo. Gente que se tivesse um mínimo traço de dignidade e de consciência, entenderia que esse espetáculo dantesco, o qual fazem tanta questão de participar, oferece muito mais razões para chorar do que para rir, para se constranger do que para vangloriar; pois, nada de bom se consegue extrair dele. Tudo ali é insanidade, é loucura, é desespero, em estado bruto. Uma incapacidade visível de conviver e coexistir consigo e com os outros, haja vista a limitação que os reveste e a impossibilidade natural de fazer o mundo curvar-se aos delírios e vontades de suas idealizações.

O que significa que, ao contrário de ascender ao alto de seus pesudo e pequenos poderes, eles elevam a um pedestal de plena visibilidade e destaque os alvos de suas ofensas ultrajantes, de suas violências inomináveis. Reafirmando, assim, sem subterfúgios, o valor e a qualidade dessas pessoas. E ao agir dessa forma, é como se desconsiderassem ou negassem as palavras assertivas de George Bernard Shaw, quando diz que “o silêncio é a mais perfeita expressão do desprezo”.

No impulso do descontrole verborrágico, eles só fazem admitir publicamente o quanto aquelas determinadas pessoas são importantes, marcantes, inesquecíveis, perturbadoras, irritantemente incomodativas à sua paz e equilíbrio. O que no fundo é, simplesmente, um modo às avessas de se curvar e reverenciá-las.

Pois é, em momentos assim, se percebe como a inteligência é tão importante e necessária. Como lapidar o conhecimento e ajustá-lo as emoções e aos sentidos é tão imperioso para se evitar constrangimentos. Me fez até recordar de Jorge Luis Borges, poeta e escritor argentino, quando tão sabiamente registrou em palavras que “As ditaduras fomentam a opressão, as ditaduras fomentam o servilismo, as ditaduras fomentam a crueldade; mas, o mais abominável é que elas fomentam a idiotia”.

Porque não importa, se algo dessa natureza tenha acontecido ontem ou hoje, na expressão do ódio excessivo, destilado por gestos, ações e compulsiva verborragia, cria-se uma linha tênue que faz do algoz um escravo eterno das lembranças, consumido pela certeza convicta de suas escolhas diante do Bem e do Mal. Enquanto suas vítimas serão sempre vítimas. Seres humanos marcados pela dor das lembranças, da indignação diante do injustificável sofrimento; mas, cujas almas não padecem o peso de uma insanidade deliberada. Então, elas podem viver livres das sombras do remorso ou do pesar, sem que isso as martele no ritmo da desinquietação. É como bem dizia Ibrahim Sued, “Os cães ladram e a caravana passa” (Ditado Árabe) ...