O
silêncio vale ouro e a verborragia vale... nada.
Por
Alessandra Leles Rocha
Polemizar tem sido a estratégia da
ignorância; sobretudo, quando a polêmica é ofensiva, degradante, repulsiva. Lançam-se
ideias bizarras e vulgares, as quais de tão vazias, só conseguem mesmo levantar
uma cortina de fumaça, e daí não se precisa expor o tamanho da fragilidade intelectual
e dialógica, da ausência completa de bons argumentos, que é característica
comum a certos indivíduos. Assim, o palavrório non sense corre solto, acompanhado de toda uma encenação truculenta
e destemperada, que apenas serve de escudo de papelão para reafirmar uma
valentia e uma credibilidade que existem apenas na seara da imaginação.
Mas, pior do que ter gente que se
presta a um papel tão lastimável desses, é descobrir que isso só acontece em
razão da existência de outros dispostos a legitimar tal comportamento. Isso significa
que não é o discurso uníssono o que de maior fomenta o repúdio, mas o eco da
estupidez absurda que se propaga em nuvens de ignorância gratuita. Infelizmente,
o ser humano parece ter perdido a consciência de fazer valer e apresentar
diante da sociedade o seu melhor. Aqui e ali expressam-se nas piores camadas da
sua essência, desfazendo-se, a tal ponto, daquilo que se chamaria decoro e elegância
da condição humana e dando a medida exata do seu tamanho existencial enquanto indivíduo.
Assim, lá vão eles e suas claques
fantasmagóricas transitando pelo absurdo. Gente que se tivesse um mínimo traço
de dignidade e de consciência, entenderia que esse espetáculo dantesco, o qual
fazem tanta questão de participar, oferece muito mais razões para chorar do que
para rir, para se constranger do que para vangloriar; pois, nada de bom se
consegue extrair dele. Tudo ali é insanidade, é loucura, é desespero, em estado
bruto. Uma incapacidade visível de conviver e coexistir consigo e com os
outros, haja vista a limitação que os reveste e a impossibilidade natural de
fazer o mundo curvar-se aos delírios e vontades de suas idealizações.
O que significa que, ao contrário
de ascender ao alto de seus pesudo e pequenos poderes, eles elevam a um
pedestal de plena visibilidade e destaque os alvos de suas ofensas ultrajantes,
de suas violências inomináveis. Reafirmando, assim, sem subterfúgios, o valor e
a qualidade dessas pessoas. E ao agir dessa forma, é como se desconsiderassem
ou negassem as palavras assertivas de George Bernard Shaw, quando diz que “o silêncio é a mais perfeita expressão do
desprezo”.
No impulso do descontrole verborrágico,
eles só fazem admitir publicamente o quanto aquelas determinadas pessoas são importantes,
marcantes, inesquecíveis, perturbadoras, irritantemente incomodativas à sua paz
e equilíbrio. O que no fundo é, simplesmente, um modo às avessas de se curvar e
reverenciá-las.
Pois é, em momentos assim, se
percebe como a inteligência é tão importante e necessária. Como lapidar o
conhecimento e ajustá-lo as emoções e aos sentidos é tão imperioso para se
evitar constrangimentos. Me fez até recordar de Jorge Luis Borges, poeta e
escritor argentino, quando tão sabiamente registrou em palavras que “As ditaduras fomentam a opressão, as
ditaduras fomentam o servilismo, as ditaduras fomentam a crueldade; mas, o mais
abominável é que elas fomentam a idiotia”.
Porque não importa, se algo dessa
natureza tenha acontecido ontem ou hoje, na expressão do ódio excessivo,
destilado por gestos, ações e compulsiva verborragia, cria-se uma linha tênue que
faz do algoz um escravo eterno das lembranças, consumido pela certeza convicta
de suas escolhas diante do Bem e do Mal. Enquanto suas vítimas serão sempre vítimas.
Seres humanos marcados pela dor das lembranças, da indignação diante do injustificável
sofrimento; mas, cujas almas não padecem o peso de uma insanidade deliberada. Então,
elas podem viver livres das sombras do remorso ou do pesar, sem que isso as
martele no ritmo da desinquietação. É como bem dizia Ibrahim Sued, “Os cães ladram e a caravana passa” (Ditado Árabe)
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