A
Economia explica ..., mas não explica tudo!
Por
Alessandra Leles Rocha
Uma das manchetes desse domingo
traz “Número de trabalhadores subocupados
cresce e trava consumo no Brasil” 1.
Mas, qual a surpresa? Essa mania de querer que o fim do filme seja diferente,
ou o final do livro, ou da novela, já deu. A realidade é o que é, meus caros. E
como diz um velho ditado, “a gente colhe
o que planta”, apesar de que, de vez em quando, a colheita é surpreendida por
razões alheias à nossa vontade.
Bem, para melhor entender o
assunto, os “trabalhadores subocupados
são os profissionais que trabalham menos de 40 horas semanais e gostariam de
atuar por mais tempo, conforme a definição do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística). E esse tipo de trabalhador está em crescimento no
país”, ou seja, “no terceiro
trimestre de 2021, o número de subocupados chegou a 7,771 milhões no país. Esse
resultado significa alta de 9,4% frente a igual trimestre de 2019 (7,102
milhões), no pré-pandemia. Em termos absolutos isso quer dizer que, ao longo de
dois anos, o grupo teve acréscimo de 669 mil pessoas” 2.
Por mais que esse seja apenas um
aspecto dentro dos milhares que constituem a Economia e sua relação com o
mercado de trabalho, ele escancara de maneira irrefutável os erros e as
incapacidades da atual gestão. Nem antes e nem depois do início da Pandemia, o
Brasil se mostrou consistente e responsável diante das demandas socioeconômicas.
O país patinou sobre os problemas e não saiu do lugar, não apresentou
resultados mínimos satisfatórios e quis, a todo custo, impor ao longo da
Pandemia uma retomada das atividades econômicas totalmente mal planejada e desorganizada.
Daí mais um dado pífio para somar ao desastre anunciado.
É incrível, como o Brasil não
enxerga nem dentro e nem fora dos seus limites geográficos! Realmente, essa
gestão vive em uma realidade paralela, em um mundo à parte. Nós não somos
autossuficientes para agir dessa maneira imprevidente, irresponsável. A suficiência
e a eficiência brasileira dependem dos arranjos estabelecidos de acordo com o
cenário global. Por isso é necessária uma análise contínua dos panoramas de
nossos importadores e exportadores para traçarmos os planejamentos internos. O que
advém positivamente desses contextos é que poderia resultar na mitigação dos impactos
socioeconômicos, tais como redução nos níveis de desemprego, desalento,
subocupação, informalidade etc.
Mas, considerando que “a economia brasileira deverá crescer 5% em
2021, mas em 2022 há riscos de forte desaceleração e o PIB do país deve
aumentar apenas 1,4%, segundo previsões da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE)”3,
as perspectivas de melhoria se esvaem como fumaça. Mesmo porque, não se trata
só dos desacertos, equívocos e tropeços das políticas econômicas nacionais.
Quando se acreditava no arrefecimento da Pandemia em razão da imunização, a
variante Ômicron surgiu e tensionou as expectativas no contexto mundial,
sinalizando uma condição crítica para a dinâmica cotidiana, dado o seu alto
poder de disseminação e contaminação.
À revelia de um mundo acostumado
a viver dentro de um certo parâmetro socioeconômico, ao longo de décadas, a
conjuntura atual aponta para uma mudança de direção rumo ao empobrecimento
generalizado. Ainda que isso afete mais alguns do que outros, em razão dos já
existentes abismos profundos das desigualdades, todos irão sofrer impactos
negativos nesse sentido. E será preciso unir forças e esforços para atenuar os
efeitos desse processo.
Algo que já se iniciou pelo
entendimento de que quanto mais heterogênea é a imunização no planeta, mais
riscos de cronificação da Pandemia e surgimento de novas variantes do vírus Sars-Cov-2
existem. De modo que o desequilíbrio de poder econômico, tão arraigadamente
defendido por muitos, nesse caso, precisa ser repensado rapidamente, ou a
humanidade arrastará a Pandemia por tempo indeterminado, ocasionando consequências
socioeconômicas imprevisíveis e potencialmente devastadoras.
As aparências enganam. Durante séculos
a humanidade vem se permitindo viver e governar sem pesar sobre a balança os
prós e os contras de suas decisões. Vem postergando o futuro ou estabelecendo subterfúgios,
em formas de placebos inócuos, para lidar com os problemas cristalizados pela
ação do tempo. Como se “mitigar” fosse
a palavra de ordem capaz de substituir satisfatoriamente o “resolver”. Por isso, a vida
veio seguindo tão temerariamente cambaleante, dando passos à frente e atrás sem
saber exatamente onde firmava os pés.
Agora, a conjuntura atual, impôs um
certo tipo de reset a essa situação,
ou seja, “Nada do que foi será / De novo do jeito que já foi um dia [...]” 4. Em meio ao Sars-COV-2 e suas variantes,
eis que surge o H3N2 (o vírus da Influenza), se espalhando pelo Brasil como
rastilho de pólvora. Gente doente. Gente contaminando gente por ande passa. Hospitais
e serviços de saúde lotados. Pouca vacina para atender a demanda súbita. ...
Ah, e não se pode esquecer das
chuvas torrenciais que afetaram regiões de Minas Gerais e Bahia, nos últimos
dias. Gente desabrigada. Gente que perdeu o pouco que tinha. Cidades tomadas pelas
águas. Redes de água e esgoto destruídas. Rede elétrica comprometida. ... A pergunta que não quer calar, então, é: qual
será a próxima surpresa? Um novo vírus? Uma nova intempérie? Ou somente mais um
erro de cálculo da Economia?
Talvez, seja hora de colocar a
bola no chão, raciocinar calmamente sobre os fatos. Interromper o curso desse imbróglio
gratuito que vem girando como uma bola de neve, avassalador, arrastando tudo o
que há pelo caminho. Nunca presenciei um final de ano tão chocho, tão
baixo-astral, tão infeliz. A motivação, o entusiasmo, a alegria, que sempre
foram a marca registrada desse período anual, parece que foram reduzidos à pó
frente a tantas adversidades. As pessoas foram tão massacradas pelas contingências
da vida que não há realmente o que comemorar, o que celebrar em relação ao
amanhã.
Albert Einstein dizia que “Não se deve ir atrás de objetivos fáceis, é
preciso buscar o que só pode ser alcançado por meio dos maiores esforços” e
o momento atual nos pede exatamente isso. Na verdade, o que nos falta é a consciência
pulsante para que “Não confundamos
esperança do verbo esperançar com esperança do verbo esperar. Violência? O que
posso fazer? Espero que termine... Desemprego? O que posso fazer? Espero que resolvam...
Fome? O que posso fazer? Espero que impeçam... Corrupção? O que posso fazer? Espero
que liquidem... Isso não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar,
esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir!
Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com os outros para fazer de
outro modo” (Mario Sergio Cortella – filósofo, escritor e professor
brasileiro). E aí, entendeu?!
1 https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/12/numero-de-trabalhadores-subocupados-cresce-e-trava-consumo-no-brasil.shtml
2 Idem 1.
4 Como uma onda (1983) - Lulu Santos / Nélson Motta - https://www.youtube.com/watch?v=XFa73hlzR-4