quarta-feira, 5 de junho de 2019

05 DE JUNHO - DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE (CRIADO PELA ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS NA RESOLUÇÃO 27, DE 15 DE DEZEMBRO DE 1972)

Reflexões para um crescimento humano sem limites




Por Alessandra Leles Rocha




Lá se vão cinquenta anos, meio século, desde que a humanidade passou a se preocupar efetivamente com os seus próprios caminhos em relação à sua convivência com o Meio Ambiente. Diante do mais lógico e óbvio, um grupo de pessoas ilustres denominado Clube de Roma se reuniu em abril de 1968 para debater os limites do crescimento humano.
A partir de modelos matemáticos desenvolvidos pelo MIT, nos EUA, os resultados apontaram que a Terra não suportaria o crescimento populacional, dadas as pressões geradas sobre os recursos naturais e energéticos; bem como, os elevados níveis de poluição gerados. De modo que, essa discussão se transformou no Relatório do Clube de Roma ou Relatório Meadows, publicado em 1972, e que vendeu mais de 30 milhões de cópias em 30 idiomas.  
Penso que foi uma demonstração científica para uma análise de puro bom senso. Afinal, foi o crescimento humano e sua dispersão sobre o planeta que impuseram um confronto relacional com o Meio Ambiente, deflagrando guerra aonde só deveria haver uma coexistência pacífica. Inicialmente por mera questão de sobrevivência; mas, com o tempo, uma questão de empoderamento cognitivo. O desenvolvimento intelectual dos seres humanos o conduziu à glória e, concomitantemente, à ruína lenta e gradativa.
Tanto o modo como à humanidade pautou o seu uso e ocupação do solo, quanto as Revoluções Industriais que se seguiram a partir da segunda metade do século XVIII são sim, fatores que explicam consistentemente os descaminhos trilhados por nós. Em nome de valores como o status social, o poder, o consumo, a ganância, a propriedade,... as sociedades subverteram a própria sobrevivência. E dentro da tendência natural do crescimento humano ao longo do tempo era certo que o impacto negativo gerado se desdobraria em repercussões catastróficas.
Não é à toa que ano após ano, as notícias socioambientais são cada vez mais dramáticas; apesar do Relatório Meadows e de todos os outros, oriundos de eventos sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade -Conferência de Estocolmo, 1972; Rio 92; Rio +10 (em Joanesburgo); Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, em NY (2015) -, que o sucederam nesses últimos cinquenta anos.
A humanidade bateu seu martelo quanto as suas prioridades e, apesar de inúmeras discussões e debates acalorados, não se preocupa em exercitar o bom senso quando o assunto é energia, poluição, saneamento, saúde, ambiente, tecnologia, crescimento populacional, ou seja, aspectos que repercutem diretamente no DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. Mas, deveria! Basta ver o exemplo dos oceanos. Bilhões de toneladas de lixo, principalmente plásticos, se arrastam por meio das correntes marítimas e alcançam os rincões mais remotos do planeta. Contribuições voluntárias de quem não está nem aí para o mundo.
Esta não é uma discussão sobre o BEM ou sobre o Mal, sobre o certo ou o errado. O que importa refletir e entender é que se alguns fazem a sua parte em relação ao Desenvolvimento Sustentável outros não; mas, qualquer que seja a parcela de prejuízo (ou eventual benefício) será compartilhada por todos. Segundo Mahatma Gandhi, “um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível”.
Veja, por exemplo, a epidemia de Dengue, no Brasil. A resistência de alguns em exercitar a sua cidadania e evitar a proliferação dos focos do mosquito não impede que este voe distâncias maiores e faça vítimas sem distinção, prejudicando a sociedade. Tão fácil tão simples de agir; mas, as pessoas refutam em assumir uma responsabilidade, uma pró-atividade, a qual antes de ser com os outros é, primeiramente, com elas mesmas. Elas são o primeiro alvo para os mosquitos, os quais não quiseram combater.
Do mesmo modo o Desenvolvimento Sustentável, também, não é somente para alguns e, nem tampouco, é coisa de outro mundo. As pessoas precisam entender que ninguém está pedindo para apagar a história e renegar os avanços científicos e tecnológicos conquistados até aqui. O que se espera é construir uma base de desenvolvimento capaz de suprir as necessidades de todos, sem comprometimento de exaustão dos recursos naturais renováveis e não renováveis; mas, com planejamento estratégico, soluções mitigadoras, responsabilidade e bom senso. E isso é possível.
No entanto, tem havido uma resistência ao diálogo. A sociedade tem trazido a discussão socioambiental para um ringue de confronto ideológico, um acirramento tão desnecessário quanto totalmente, antiproducente; o que é um contrassenso descomunal, visto que não há lados, ou segmentos, quando vivemos todos sobre uma pequena e limitada esfera azul suspensa na imensidão do espaço sideral.
Não há porque defender apenas alguns interesses, alguns pontos de vista, em detrimento de outros. O assunto é, antes de tudo, de interesse coletivo e não individual ou particularizado. Afinal, todos precisam de uma água limpa para a sua sobrevivência. Ou de um ar sem poluentes, sem particulados, sem gases tóxicos, para respirar. Ou de um solo capaz de produzir alimentos sem a presença de contaminantes industriais ou industrializados. Ou de áreas de matas e florestas para conter o avanço de arboviroses, tais como, o vírus da Malária, vírus da Dengue, da Chikungunya, da Zika e da Febre Amarela. Enfim...
Infelizmente, o fluxo das relações socioambientais tem caminhado aceleradamente para a mercantilização. O problema é que transformá-las em capital, automaticamente, faz o mesmo com a vida, inclusive a humana. Ao promover quaisquer tipos de desequilíbrio ao desenvolvimento sustentável, a humanidade coloca em risco a si mesma.
Então, imediatamente eu me recordo de uma citação do escritor Augusto Cury que diz, “O dinheiro pode nos dar conforto e segurança, mas ele não compra uma vida feliz. O dinheiro compra a cama, mas não o descanso. Compra bajuladores, mas não amigos. Compra presentes para uma mulher, mas não o seu amor. Compra o bilhete da festa, mas não a alegria. Paga a mensalidade da escola, mas não produz a arte de pensar. Você precisa conquistar aquilo que o dinheiro não compra. Caso contrário, será um miserável, ainda que seja um milionário”.
A maioria das situações atuais de catástrofes, quando analisadas ainda que superficialmente, já dá conta da presença da ação antrópica como responsável. Nosso maior algoz não é o Meio Ambiente, não é o Desenvolvimento Sustentável, não são as leis ou a falta delas. O nosso maior algoz somos nós, seres humanos de carne e osso com a nossa genuína cupidez 1. Desqualificar as ciências, os estudos socioambientais, os grandes e renomados pesquisadores, nada disso muda o curso da história, nada disso impede de a vida sucumbir à destruição.
Se prosseguirmos nessa direção, obstinados e imprevidentes, arrogantes e enceguecidos, nossa sina será materializar em breve as palavras de Carlos Drummond de Andrade, no poema O Homem e as Viagens 2, publicado no livro As impurezas do Branco, de 1973; ou seja, nos faltará lugar para fincar pé na imensidão incomensurável do céu.  



  1 Ambição, geralmente, por propriedades e/ou bens materiais; desejo excessivo por riquezas; cobiça que faz abandonar os principais valores morais.