Por
Alessandra Leles Rocha
Por mais clichê que possa parecer, a
verdade é que tudo passa pela Educação. Não só a Educação que fornece valores e
princípios ao ser humano, aquela oriunda da família; mas, a Educação que
transforma o ser humano em cidadão, que lhe provém os conhecimentos de mundo,
aquela que se recebe dos professores na escola.
E só refletindo sobre isso com muita
seriedade e compromisso é que se consegue dimensionar a importância do
professor na sociedade. Essa figura tão significativa e que foi sendo traída ao
longo da história por sucessivas ações de desqualificação e desrespeito.
Mais do que o dom de ensinar, esses
profissionais se dedicam a aprimorar seus conhecimentos em longos anos de
estudo, para que dessa forma tenham condições de entrar em uma sala de aula e
compartilhar tudo aquilo que aprenderam. E se “tempo é dinheiro”, imaginem só
quanto foi investido de tempo e de dinheiro nessa empreitada!
Sem contar, que muito além das
técnicas e teorias, a prática cotidiana da docência vem impingindo ao professor
outras demandas de conhecimento que vão muito além da sua formação básica. Trata-se
de lidar com a realidade dura e impactante, no que diz respeito ao mais profundo
da desorientação social, que se reflete em alunos carentes de afeto, de
atenção, de cuidados, de orientação para descobrirem o seu verdadeiro lugar no
mundo.
No entanto, não deveria ser da
alçada do professor lidar como agente direto de solução de questões tão
complexas quanto o bullying, a violência, a depressão, os distúrbios alimentares
etc.etc.etc.; mas, acaba sendo. E eles, na maioria das vezes, desdobram-se sozinhos
para enfrentar esses desafios. Pena que ninguém vê. Ninguém reconhece. Ninguém valoriza.
Não é à toa que o interesse em ser
professor se reduz a cada ano. É difícil pensar que alguém queira uma profissão
que passe pela mais ampla desvalorização social, como é o caso da docência. Do
Estado gestor aos pais e responsáveis pelos alunos, a sociedade não parece nem
um pouco preocupada em promover melhorias e assegurar garantias a esses
profissionais.
Os que insistem e resistem a essa
enxurrada de descaso, no fim das contas acabam, sem querer, fornecendo munição
ao velho e roto discurso do “sacerdócio docente”; como se o professor não fosse
gente, não tivesse família, sonhos e demandas. Como se a indiferença social
pudesse continuar existindo e se disseminando porque sempre haverá os que se
sujeitam em nome do ideal.
A verdade é que não se trata de idealismo
ou de se contentar com migalhas. Esses profissionais enxergam longe,
compreendem em profundidade que a carência educacional se reflete diretamente
no desemprego, amplia as filas dos programas sociais, exaspera a violência,
enfim... Assim, essa limitação do poder de compra desacelera a economia, enfraquece
a geração de novos empregos e a ampliação da renda, desenvolve diversos níveis
de tensão social, ou seja, o perverso ciclo que vive o país.
O que fazem os persistentes
professores, nas escolas Brasil afora, é buscar tornar compreensível aos alunos
que eles não devem frequentar as suas aulas apenas para conseguir notas e mudar
de série; mas, para adquirir o conhecimento que é exatamente o que espera deles
o mundo lá fora. Ninguém os questionará as médias obtidas nessa ou naquela
disciplina. Deles será posto à prova o conhecimento construído ao longo dos
anos. E se não sabe, eles recorrem à fila do desemprego para ver se há alguém
que saiba.
E é esse conhecimento, lapidado com
a ajuda sábia e hábil dos professores, que também molda o cidadão do amanhã. Na
dinâmica da significação e da ressignificação dos conteúdos é que os alunos
ampliam sua criticidade, sua reflexão sobre a vida e o mundo diariamente. Segundo Paulo Freire 1,
“quando o homem compreende a sua realidade, pode levantar hipóteses sobre o
desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim, pode transformá-la e o seu
trabalho pode criar um mundo próprio, seu Eu e as suas circunstâncias”.
Por isso, quando conscientes ou não
menosprezamos a figura do professor acentuamos nossa arrogância e prepotência humana,
como se tivéssemos nascidos prontos e aptos para os desafios da vida. Quando na
verdade, por detrás de cada risco, cada símbolo, cada letra desenhada em uma
folha de papel existiu a presença desse guia, desse mentor intelectual, desse
cidadão a fazer jus a própria cidadania.
Como disse Rubem Alves 2, “ensinar é um exercício de
imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos
aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não
morre jamais...”. Então, meus cumprimentos a todos os professores que residem
além das fronteiras de nossa razão e sensibilidade.