Mundo
novo. Velhas práticas.
Por
Alessandra Leles Rocha
Não importam ideologias. A
verdade é que na história mundial não faltam episódios de atentados políticos
de gravidade, muitas vezes letal. Abraham Lincoln (1865), Prudente de Morais
(1897), o Arquiduque Francisco Ferdinando (1914), João Pessoa (1930), Mahatma
Gandhi (1940), Leon Trótsky (1940), Carlos Lacerda (1954), John F. Kennedy
(1963), Malcom X (1965), Martin Luther King (1968), Robert F. Kennedy (1968),
Fidel Castro (entre 1959 e 2006), João Goulart (1976), Juscelino Kubitschek de
Oliveira (1977), Ronald Reagan (1981), Silvio Berlusconi (2009), Marielle Franco
(2018) são alguns desses exemplos 1. Sem
contar Nicolas Sarkozy (1997), George W. Bush (2008), José Serra (2010) e François
Hollande (2012), agredidos por atos mais constrangedores do que propriamente
violentos.
Como se vê o mundo busca o
novo; mas, as velhas práticas nunca morrem.
A questão é que elas expõem o nível de tensão que paira sobre os
cinturões de poder, independentemente se aqui, ali ou acolá. É algo que parece intrínseco
as relações humanas. Quaisquer que seja o desconforto sentido a reação imediata
se modula pela violência, no chamado “olho por olho, dente por dente”, o qual o
próprio Mahatma Gandhi afirmava que acabaríamos todos cegos.
E ele tinha razão. Estamos cegos.
Perdemos a capacidade de enxergar a vida na sua pluralidade, na sua
diversidade; mas, também, a capacidade de ouvir e de falar. Cada indivíduo
parece centrado na sua verdade, na sua ideologia, na sua convicção, como se
isso resumisse o mundo. E assim nos tornamos membros de uma grande e nova Babel
2, onde todos falam ninguém se entende e todos
têm a sua própria razão.
Se estamos presos a ler o mundo apenas pela ótica das nossas
convicções nos tornamos efetivamente limitados para coexistir. Isso significa,
portanto, mais vulneráveis às investidas temerárias de uma intolerância desmedida,
que no fim das contas culmina na violência. Desse modo, o mundo perde e se
perde, tentando corrigir “erros”. E não há nada mais relativo do que apontar
erros e acertos, quando tudo depende de como se lê o mundo.
Enquanto cada um se permite
afrontar o outro, o mundo patina sem sair do lugar, sem encontrar um
denominador comum que satisfaça os anseios e as demandas coletivas por uma
agenda social mais positiva. Atentados são iniciativas que atacam bem mais do
que a vida de um ou de alguns. Eles atentam contra toda a subjetividade que se
reveste a vida humana. Atentam contra a cidadania, a paz, o desenvolvimento, a
igualdade, a liberdade, enfim...
É inadmissível que em pleno
século XXI ainda se assista a atentados políticos, ou de quaisquer naturezas. Há
uma necessidade urgente de se reencontrar o ponto de partida, quando
ainda não estávamos cegos, quando ainda sabíamos pensar, refletir e dialogar; porque para isso não precisamos de nada nas mãos.