É possível medir a violência?
Por Alessandra Leles Rocha
Empregar força
física ou intimidação moral contra alguém, para obrigá-lo (a) a submeter-se à
vontade alheia é violência. Então, diante dessa explicação tão objetiva, eu
pergunto a você leitor (a), é possível medir a violência?
Como qualquer
comportamento, emoção ou sentimento a ideia de mensurar a violência é
completamente sem propósito. Afinal de contas, estamos falando da subjetividade
humana, a qual de maneira individual e bastante particular estabelece as suas considerações
dentro do contexto de relação com o mundo externo.
É por
isso que não há uma fórmula, uma régua, capaz de determinar com exatidão o
nível de impacto, de sofrimento e/ou de repercussões e marcas causadas pela violência
a cada ser humano.
Assim, a manifestação
publicada no Jornal Le Monde 1, contra o movimento Time’s up 2
de combate à violência sexual no ambiente de trabalho e de apoio as suas
vítimas, me causou espanto e reflexão.
No mundo
inteiro há violência. No mundo inteiro os números da violência se agigantam
cada vez mais contra o sexo feminino. No Brasil, o Instituto Maria da Penha
aponta que “a cada 7,2 segundos uma mulher é vítima de violência física” 3.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) em
2017, “o custo da violência contra as mulheres pode chegar a 2% do PIB mundial;
o que equivale a 1.5 trilhões de dólares - aproximadamente a economia do Canadá”4.
Portanto, a luta contra a violência, especialmente
aquela cometida contra as mulheres, não é uma questão de “puritanismo sexual”
como sugeriu a publicação de uma centena de artistas e intelectuais franceses.
A violência é sempre um processo, uma cascata de
atos e discursos que se sucedem ao longo do tempo, causando estragos e prejuízos,
podendo culminar no desfecho fatal do suicídio ou do Feminicídio. E sabemos
muito bem, que uma simples palavra se reveste de intenção.
Passar a história a limpo, realmente, é um desafio
e tanto. Nunca houve equilíbrio na relação entre homens e mulheres, na medida
em que elas sempre estiveram à mercê da objetivação, da alienação da sua
natureza subjetiva. Homens e mulheres saíram das cavernas, mas a caverna
permanece neles.
Aos trancos e barrancos na sua luta pela igualdade
de direitos e deveres, que absolutamente não tem relação com substituir ou
sobrepor o homem, as conquistas sociais que visibilizaram as mulheres são também
o fogo a arder o ódio de muitos.
Faz-se necessário compreender que a violência contra
as mulheres é um ato de contenção social, desde os primórdios. É uma forma de
resguardar território, de demonstrar poder (inclusive material), de demonstrar
superioridade pela força, enfim...
O que as pessoas contrárias ao movimento Time’s up não entendem é que o silêncio
também fala, também repercute em outros atos de violência, também se torna visível
nas marcas que deixa pelos corpos. Veja pelos exemplos do bullying. Afinal, “não há crime perfeito”.
Infelizmente, deveríamos concordar com o que
disse Jean-Paul Sartre, “A
violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”. A verdade
é que sempre haverá quem aplauda e reverencie as práticas da violência, porque no
fundo da alma a barbárie nunca foi totalmente extirpada do ser humano.