Em
municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, a taxa de assassinatos
de jovens chegou a 3,65 por mil adolescentes — ou seja, para cada mil
adolescentes que completam 12 anos, mais de três são vítimas de homicídios
antes de chegar aos 19 anos. Se nada mudar, 43 mil jovens poderão ser mortos
até 2021.
No Nordeste, o índice é de 6,5, número que representa um aumento
maior que o dobro desde 2005. Dados são do Índice de Homicídios na Adolescência
2014, divulgado nesta semana pelo UNICEF e parceiros.
Em municípios
brasileiros com mais de 100 mil habitantes, a taxa de assassinatos de jovens
chegou a 3,65 por mil adolescentes — ou seja, para cada mil adolescentes que
completam 12 anos, mais de três são vítimas de homicídios antes de chegar aos
19 anos. Divulgado nesta semana pelo Índice de Homicídios na Adolescência 2014
(IHA), o número é o mais alto já registrado pela pesquisa, elaborada desde
2005. Levantamento alerta para a situação do Nordeste, que concentra sete das
dez capitais brasileiras mais perigosas para a juventude.
Realizado
pelo governo brasileiro em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a
Infância (UNICEF), o estudo alerta que, se as condições que
prevaleciam em 2014 não mudarem, 43 mil adolescentes poderão ser mortos, entre
2015 e 2021, nos 300 municípios analisados. A estimativa diz respeito somente
às cidades com mais de 100 mil habitantes. O IHA é calculado para cada grupo de
mil pessoas entre 12 e 18 anos.
Fortaleza tem
o maior índice, com 10,94 homicídios para cada grupo de mil jovens na faixa
etária visada pelo relatório. Na lista com as dez capitais mais violentas, a
cidade é seguida por Maceió (9,37), Vitória (7,68), João Pessoa (7,34), Natal
(7,10), Salvador (6,87), São Luís (6,68), Teresina (6,59), Belém (5,32) e
Goiânia (4,76). As cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo ocupam,
respectivamente, a 19ª e a 22ª posição entre as capitais, com IHAs 2,71 e 2,19.
Segundo a
pesquisa, em quase todos os estados do Nordeste, com exceção de Pernambuco, há
pelo menos dois municípios com índices superiores a 6. A região apresenta o IHA
médio mais elevando — 6,5. Se a situação não melhorar, 16,5 mil jovens
nordestinos poderão ser mortos de 2015 a 2021.
O cenário
alarmante é sintoma do acúmulo de altas no IHA regional — de 2005 a 2014, a
taxa do Nordeste passou de pouco menos de 3 para quase 7. A segunda região mais
violenta do Brasil, o Norte, tem um índice de homicídios contra adolescentes de
3,9.
Desde
2012, o número dos adolescentes entre 12 e 18 anos morrendo por agressão é
proporcionalmente mais alto do que do resto da população brasileira — 31,6 para
cada 100 mil adolescentes em 2014 comparados com 29,7 para cada 100 mil pessoas
no geral.
“O que
temos visto hoje no Brasil é que a falta de oportunidades tem determinado
cruelmente a vida de muitos adolescentes”, afirma a representante do UNICEF no
Brasil, Florence Bauer.
“Enquanto
o Brasil nas últimas décadas conseguiu reduzir a mortalidade infantil
significativamente, o número de mortes entre os adolescentes cresceu de uma
maneira alarmante. É primordial que o país valorize melhor a segunda década de
vida e dê à adolescência a importância que ela merece”, acrescentou a
especialista.
As mortes
de crianças menores de 1 ano foram reduzidas de 95.938, em 1990, para 37.501,
em 2015. Durante o mesmo período, o número de adolescentes de 10 a 19 anos
assassinados aumentou de 4.754 para 10.290, segundo o DATASUS.
O IHA é
elaborado em parceria entre o UNICEF, o Ministério dos Direitos Humanos (MDH),
o Observatório de Favelas e o Laboratório de Análise da Violência, da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV-UERJ). Acesso o relatório sobre
2014 clicando
aqui.
Questão racial e de gênero
Os
cálculos do IHA também abordam parâmetros de gênero, cor, idade e meio
utilizado no homicídio. Em 2014, os adolescentes do sexo masculino tinham um
risco 13,52 vezes superior ao das adolescentes do sexo feminino, e os
adolescentes negros, um risco 2,88 vezes superior ao dos brancos. As chances de
ser morto por arma de fogo é 6,11 vezes maior do que por outros meios.
Outro
estudo conduzido pelo UNICEF, em colaboração com a Assembleia Legislativa do
Ceará e o governo do estado, traz uma análise de homicídios ocorridos em
Fortaleza e em outros seis municípios cearenses, com conclusões semelhantes. As
vítimas eram, na maioria, meninos (97,95%) e negros ou pardos (65,75%),
moradores das periferias.
Os
adolescentes assassinados eram, em sua maioria, pobres – 67,1% viviam em lares
com renda familiar entre um e dois salários mínimos – e 70% estavam fora da
escola há pelo menos seis meses. Em Fortaleza, metade dos homicídios de
adolescentes aconteceu em média a 500 metros da casa da vítima.