quinta-feira, 31 de agosto de 2017

"Gosto de ser um espírito livre. Alguns não gostam disso, mas esse é o jeito que eu sou". Diana, Princesa de Gales.

Princesa? O que é uma princesa?



Por Alessandra Leles Rocha



O tempo passa, a sociedade se transforma; mas, a força com a qual o discurso penetra o inconsciente coletivo parece inabalável. Durante séculos e séculos o imaginário feminino foi habilmente manipulado pelo o encantamento despertado pelas princesas. Entre tiaras de diamantes, vestidos de baile, castelos, súditos e serviçais à disposição, mulheres ao redor do mundo se renderam as promessas sonhadoras e fizeram uma barganha por um final feliz com seu príncipe encantado.
Não apenas fomentado pela ficção, o sonho de princesa na realidade conta com uma lista de quarenta e três estados monárquicos ainda nos dias atuais, sendo que o Reino Unido mantém o seu destaque pela influência exercida há séculos no cenário geopolítico mundial. Mas, não foi só por isso. Nos anos 80, o mundo conheceu a princesa que iria reescrever os contos de fadas, Diana Frances Spencer, ou Diana, Princesa de Gales.
Se levarmos em consideração a escrita mítica de que a monarquia existe por força de um “direito divino”, no qual a legitimidade era considerada como algo manifesta por Deus e a soberania exercida como um direito próprio; Diana foi uma predestinada. Embora de origem nobre, o que marcou a sua trajetória como Princesa de Gales foi a sua própria essência.
Apesar do respeito à Realeza Britânica e as obrigações naturais advindas do título de nobreza, Diana não se permitiu esquecer o senso de humanidade existente dentro de si. Por isso, havia nela respeito às instituições e pessoas ao contrário de obediência. Nesse sentido, ela reconhecia a importância da sua imagem pública, como agente de transformação social, e não se sentia à vontade para ser uma princesa meramente figurativa.
Do ideário romantizado do casamento, em 29 de julho de 1981 na Catedral de São Paulo, em Londres, televisionado para aproximadamente um bilhão de pessoas, os dezesseis anos seguintes da sua vida foram um intenso processo de ressignificação do que se acreditava, até então, ser uma princesa. Se para muitos foi um choque, por outro lado Diana contribuiu para a desconstrução de um estereótipo principesco.
O castelo, o príncipe,... No mundo real nem tudo são flores e felicidade. As histórias terminam em “viveram felizes para sempre” e as pessoas pareciam acostumadas a aceitar isso com naturalidade, sem questionar o depois. Até então, nenhuma princesa veio nos contar como era. Diana o fez; a Princesa de Gales dividiu com o mundo as alegrias e as tristezas da vida no seu reino.
Mas, não se restringiu a isso. O poder presente na condição de princesa se ampliou no poder conquistado pelo engajamento social, que conseguia enxergar além daqueles muros. Isso lhe conferiu sentido, razão existencial, em meio ao conflitado “casamento dos sonhos”. Mas, também, lhe gerou um ônus de perseguições, difamações e especulações. Decepcionados pela realidade não contada nos contos de fadas, muita gente se sentiu traída diante da verdade, tornando-a um bode expiatório para uma avalanche de injúrias e maledicências, dentro e fora da Realeza.
Por outro lado, milhões se sentiram libertos de um discurso ilusório e enganador; bem como, amparados pelas iniciativas de uma Princesa que acreditava em um mundo mais justo, mais belo, mais humano, sem que isso fosse simples retórica. A blindagem que a nobreza lhe revestia não a impediam de ser, de sentir, como qualquer pessoa; por isso, a credibilidade depositada nas suas ações.  Diana construiu um legado factível de realizações e transformações mundo afora, ao contrário de qualquer história de princesa. Ela tornou-se um mito de simpatia, de beleza, de humanidade, sem perder por um instante sequer o seu lado mãe e mulher.
Como disse a pioneira na aviação dos Estados Unidos, autora e defensora dos direitos das mulheres, Amelia Mary Earhart, “Coragem é o preço que a vida exige em troca da paz”. Muito antes do que se poderia imaginar Diana se foi; linda, no auge do seu esplendor e vitalidade. Mas, felizmente, não é por isso que não a esquecemos. Nos últimos vinte anos o tempo passou, a sociedade se transformou; mas, a força com a qual a sua presença e o seu discurso penetraram o inconsciente coletivo foi indubitavelmente inabalável.