domingo, 2 de julho de 2017

Em países em desenvolvimento, 214 milhões de mulheres não têm acesso a métodos contraceptivos

É o que revela um estudo divulgado nesta semana (29/06) pelo Guttmacher Institute. Documento alerta ainda que, em 2017, 50 milhões de mulheres grávidas no mundo farão menos de quatro visitas de acompanhamento pré-natal e 35 milhões não darão à luz em uma unidade de saúde. Para o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), gestações devem ser desejadas, planejadas e seguras.



Nos países em desenvolvimento, 214 milhões de mulheres querem evitar a gravidez, mas, por diversas razões, não fazem uso de métodos contraceptivos modernos. É o que revela um estudo divulgado nesta semana (29) pelo Guttmacher Institute. Organismo avalia que, nessas nações, demandas por contracepção, bem como por serviços de saúde materna e neonatal não estão sendo atendidas.
Segundo o levantamento, em 2017, 50 milhões de mulheres grávidas no mundo farão menos de quatro visitas de acompanhamento pré-natal e 35 milhões não darão à luz em uma unidade de saúde. Para atender a demanda por métodos contraceptivos e saúde materna e neonatal nas regiões em desenvolvimento, seriam necessários US$ 52,5 bilhões de dólares anualmente, ou 8,39 dólares por pessoa.
Apesar dos desafios de saúde pública, o relatório “Adding It Up: Investing in Contraception and Maternal and Newborn Health, 2017” (Investindo em contracepção e saúde materna e neonatal) também revela um aumento estável no uso de métodos contraceptivos modernos em países em desenvolvimento, mesmo com o crescimento do número de mulheres em idade reprodutiva.
O resultado foi uma queda ao longo dos últimos três anos na demanda não atendida por contracepção – em 2014, eram 225 milhões de mulheres sem acesso a métodos de prevenção da gravidez. Entretanto, investimentos em planejamento reprodutivo são descritos pelo relatório como essenciais para manter esses ganhos e ampliar o progresso.
Mulheres com demandas por contracepção não atendidas representam 84% das gestações não planejadas nos países em desenvolvimento, revela o relatório. O estudo também aponta que, entre as mulheres que terão filhos em 2017, nessas mesmas nações, somente 61% terão passado por quatro ou mais atendimentos pré-natais e 27% não farão seus partos em unidades de saúde.
Existem grandes disparidades entre regiões: as taxas apresentadas são piores na África, onde menos da metade das mulheres grávidas fazem quatro ou mais visitas de atendimento pré-natal e um pouco mais da metade têm seus filhos em unidades de saúde. Em contrapartida, na América Latina e Caribe, aproximadamente 90% das mulheres têm quatro ou mais atendimentos pré-natais e mais de 90% têm seus filhos em centros de saúde.

Investimentos

Para atender a demanda por métodos contraceptivos e por serviços de saúde materna e neonatal nas regiões em desenvolvimento, seriam necessários 52,5 bilhões de dólares anualmente, ou 8,39 dólares por pessoa. A nova pesquisa mostra que estes investimentos são vantajosos economicamente: investir em contraceptivos faz com que o custo dos cuidados com saúde materna e neonatal sejam menores, uma vez que há uma diminuição do número de gestações não planejadas.
Para cada dólar gasto em contraceptivos, 2,30 dólares são economizados no custo dos cuidados relacionados à gravidez, estima o Guttmacher Institute.
“Investir em contraceptivos e saúde materna e neonatal tem um ótimo impacto em prevenir mortes desnecessárias de mães e recém-nascidos”, afirma a Dr.ª Jacqueline E. Darroch, principal autora do estudo. “Com o investimento de 8,39 dólares por pessoa, os índices de mortalidade materna poderiam decrescer para um quarto dos níveis atuais e, em relação a mortes neonatais, o número cairia para um quinto das taxas atuais.”
O impacto dos investimentos teria um grande alcance, levando a:
• Menos 67 milhões de gestações não desejadas (queda de 75%);
• Menos 23 milhões de nascimentos não planejados (queda de 76%);
• Menos 36 milhões de abortos induzidos (queda de 74%);
• Menos 2,2 milhões de mortes neonatais (queda de 80%);
• Menos 224 mil mortes maternas (queda de 73%).
Além disso, investir nesses serviços traria benefícios sociais e econômicos para as mulheres, seus parceiros e parceiras, suas famílias e para a sociedade. Avanços incluem melhoras na educação de mulheres e crianças, aumento nos rendimentos e redução da pobreza.
Pesquisas anteriores concluíram que mulheres usam diversas justificativas para o não uso dos métodos contraceptivos, como a preocupação em relação a efeitos colaterais e riscos à saúde e a crença de que não estão sujeitas a ficarem grávidas por não manterem relações sexuais com frequência. Esta situação indica que contraceptivos de qualidade e aconselhamento ao planejamento reprodutivo são urgentemente necessários.

UNFPA lembra contexto brasileiro

No Brasil, estimativas coletadas pelo governo e pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) indicam que a demanda não atendida por contraceptivos se encontre entre os 6% e 7,7%, afetando aproximadamente de 3,5 a 4,2 milhões de mulheres em idade reprodutiva.
Do total de nascimentos ocorridos nos últimos cinco anos, apenas 54% foram planejados para aquele momento. Entre os 46% restantes, 28% eram desejados para mais tarde e 18% não foram desejados.
O UNFPA considera que a gravidez não planejada, especialmente na adolescência, está associada a desigualdades mais amplas que afetam principalmente as mulheres dos estratos sociais mais vulneráveis. A agência da ONU defende que todas as gestações sejam desejadas e que todos os partos sejam seguros.