quinta-feira, 1 de junho de 2017

"Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome". Mahatma Gandhi

Será que a Terra é mesmo azul?


Por Alessandra Leles Rocha



As vésperas de comemorarmos mais um Dia Mundial do Meio Ambiente, o mundo (sem muita surpresa) recebeu, hoje, a notícia de que os EUA estão fora do acordo climático de Paris 1. Os apelos internacionais das agências de meio ambiente e de cientistas foram insuficientes para demovê-los dessa atitude, o que é uma pena.
As questões ambientais, infelizmente, sempre esbarraram nas questões de desenvolvimento econômico; ainda que, todas as análises e simulações demonstrassem que a preservação ambiental e as práticas de desenvolvimento sustentável gerassem um lucro muito mais consistente e real, em longo prazo. Mas, a Revolução Industrial nos ensinou a termos pressa, a querer cada vez mais, a lucrar em espaços de tempo cada vez menores. Por isso, não conseguimos estabelecer uma relação direta entre o equilíbrio ambiental e a preservação da própria espécie humana, porque estamos demasiadamente presos ao TER ao invés do SER.
Desde que a sociedade descobriu a potencialidade da produção industrial e tecnológica, ela vem perdendo a capacidade de enxergar as suas demandas existenciais, sobretudo, o seu instinto de sobrevivência. O ser humano tem interferido de maneira tão drástica e decisiva sobre o meio ambiente, que ele por conta própria tem se colocado na iminência de perder os três As essenciais, ou seja, Alimento, Água e Abrigo; algo que nenhuma outra espécie é capaz de fazer.
As transformações no comportamento humano, no que diz respeito as suas necessidades e ambições pessoais e materiais, vêm proliferando tanto as formas de poluição e degradação do espaço geográfico, quanto impactando diretamente na salubridade das pessoas. Estamos distantes de respirar um ar limpo. Ou de ingerir uma água essencialmente pura. Ou de comermos alimentos produzidos sem a intervenção e modificação genética. Ou de optarmos pelo deslocamento utilizando veículos ou estratégias não poluentes. Enfim...
Só não temos nos dado conta de que a busca desenfreada pelo nosso “conforto”, o nosso “padrão de vida”, a qual nos foi doutrinada por inúmeros discursos desenvolvimentistas, tem feito com que todo o dinheiro conseguido com a nossa força de trabalho diária se dissipasse, quando os problemas de saúde começam a nos afligir sem piedade.
Já parou para pensar sobre quantas vezes você ficou doente ou foi ao médico nos últimos seis meses? Quais são as doenças crônicas que você precisa tratar regularmente? Como está a qualidade do seu sono? Você se sente estressado? Tem dores de cabeça ou de estômago? Já se sentiu em pânico, alguma vez?... essas e tantas outras perguntas, caro leitor, estão diretamente relacionadas ao equilíbrio do meio ambiente. Aceite você ou não, essa é uma verdade incontestável.
Daí a importância da nossa reflexão sobre o assunto. Quando os tratados internacionais e nacionais sobre Meio Ambiente e Sustentabilidade são quebrados, o impacto sobre as vidas de bilhões de seres humanos, como você e eu, é incomensurável. A falta de água, por exemplo, leva milhões de pessoas a migrar. Essa migração promove a necessidade de reorganização espacial e de recursos, por parte de outras nações; o que, quase sempre, culmina em atitudes de intolerância e violência.
Só para que possam se inteirar desse assunto, há milhões de pessoas migrantes do clima 2. Muitos dos campos de refugiados existentes foram criados para atender a essas pessoas. Portanto, não é só a guerra dos homens que obriga o deslocamento de seres humanos. O aumento no número de pessoas deslocadas pelas mudanças climáticas só tende a pressionar de forma insustentável a capacidade de oferta de assistência e proteção a elas.
Agora, imaginem essa situação somada aos desmatamentos indiscriminados de grandes florestas (para transformação de áreas de pastagem ou cultivo de monoculturas de exportação), a carência de tratamento de água e esgoto (reduzindo a oferta de água utilizável pela população), a emissão continua de monóxido de carbono e outros gases poluentes nos grandes centros urbanos, o processo de povoamento das encostas sem planejamento (para atender as carências habitacionais existentes)..., hein?
Essa já é a nossa realidade. Passaram rápido demais as transformações anunciadas pelo Clube de Roma, em 1966 3; bem como, de todos os outros grandes eventos em torno do Meio Ambiente. Então, isso significa que a humanidade fez e continua a fazer a sua opção, deixando no papel as boas ideias e trazendo para a prática os irremediáveis descaminhos, cujo preço, somos cobrados diariamente.
Só espero que não cheguemos todos à experimentação da consumação plena do que escreveu Manuel Bandeira, no poema O Bicho, “Vi ontem um bicho / Na imundície do pátio / Catando comida entre os detritos. / Quando achava alguma coisa, / Não examinava nem cheirava: / Engolia com voracidade. / O bicho não era um cão, / Não era um gato, / Não era um rato. / O bicho, meu Deus, era um homem”.