Sussurros na calada da
noite
Por Alessandra Leles
Rocha
No silêncio de mais uma noite o Brasil urde sua velha práxis
e reafirma, a todos, o seu desdém absoluto em relação à vontade popular de
extirpar a CORRUPÇÃO sistêmica no país 1.
Aliás, o povo só é lembrado por aqui quando o assunto envolve pagamento de
mais impostos ou para pedir-lhe votos nas eleições. No mais, quem é o povo?...
Justo ontem, quando o país foi acordado com a trágica notícia
do acidente aéreo ocorrido com o time da Chapecoense, que vitimou 71 pessoas
entre atletas, jornalistas, convidados e tripulação, os ‘nobres’ deputados
valeram-se sordidamente do clima de consternação para ‘legislarem em causa
própria’ e promover uma acintosa retaliação ao Poder Judiciário, o qual tem
exercido com firmeza o combate à CORRUPÇÃO no país, tornando públicas as relações
espúrias dos ‘representantes do povo’ estabelecidas no âmago do poder nacional.
Foi um exemplo clássico de anticidadania.
Primeiro, porque a manifestação popular em relação as DEZ
MEDIDAS ANTICORRUPÇÃO, propostas pelo Ministério Público Federal e apoiadas
pelos Ministérios Públicos de todo o Brasil, aconteceu por meio legítimo, legal
e formal, a partir de abaixo-assinado que contou com cerca de dois milhões de
assinaturas de apoio de mais de mil instituições em todo o país, sendo entregue
simbolicamente no dia 29/03/2016 ao Congresso Nacional.
Portanto, não houve vandalismo, quebra-quebra, divergência ideológica
de grupos radicais ou coisa que o valha, para demonstrar a insatisfação popular
existente sobre os gravíssimos casos de CORRUPÇÃO nacional. Apenas cidadãos
valendo-se de um mecanismo democrático para registrar a sua opinião e concordância
em relação à necessidade de aprimoramento da legislação brasileira sobre esse
assunto.
Segundo, porque se é preciso ‘proteger a pele de uns e outros’
contra as investigações sobre CORRUPÇÃO e fazer dessa prática absurda algo de ‘menor
importância’; então, significa que não passa de falácia o discurso em torno do
corte de gastos. Ora, o cidadão brasileiro sabe muitíssimo bem a importância que
a CORRUPÇÃO desempenha no país no sentido de fragilizar a economia e impor a
ele uma carga tributária desleal e perversa; afinal, quando o recurso ‘desaparece’
alguém precisa dar um jeito de suprir, não é?! Então, o que adianta cortar as
despesas do governo, quando outros tantos veios continuam abertos para o escape
desses recursos?
Assim, vieram justificar a Proposta de Emenda Constitucional
do Teto dos Gastos Públicos como ‘solução’ para não se criar novos impostos em
meio à grave crise econômica que enfrenta o país 2.
No entanto, vejamos que governo nenhum fabrica dinheiro, os recursos com os
quais ele administra advém da receita de impostos e tributos pagos pelos
milhões de cidadãos. E, infelizmente, esse mesmo dinheiro é o que escoa sem
restrições para as práticas de CORRUPÇÃO; bem como, o luxo, as regalias, tudo
do bom e do melhor que os ‘representantes do povo’ usufruem são frutos do suor
e do trabalho do povo brasileiro materializados nessa receita.
Portanto, a tal ‘justificativa’ além de inconsistente não
convence ninguém. O Brasil chegou ao ponto que chegou nessa crise, por conta de
uma má administração dos recursos e da facilidade de inserção das práticas CORRUPTAS
para desaparecer com o dinheiro público. Para que haja um verdadeiro equilíbrio
fiscal no país e se possa reverter à gravidade da situação atual é fundamental
empenho e seriedade na tomada de decisões; por isso, o Congresso Nacional
deveria ter mais dignidade e honradez para com seus compromissos
Constitucionais.
No fim, é como disse José Saramago, no livro Ensaio sobre a
Lucidez, “Sempre chega a hora em que
descobrimos que sabíamos muito mais do que antes julgávamos”. Mais uma vez,
sussurros na calada da noite fazem o país amanhecer desmoralizado. Embora já
soubéssemos que o fio do bigode há muito não vale mais nada, nem que o fundo do
poço não significa nada; agora, a certeza é definitiva.
1 http://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/c%C3%A2mara-aprova-medida-que-pune-ju%C3%ADzes-por-abuso-de-autoridade/ar-AAkVWCa?li=AAggXC1&ocid=mailsignout
2 http://veja.abril.com.br/politica/senado-aprova-em-1o-turno-texto-base-da-pec-do-teto/