domingo, 7 de agosto de 2016

"Não é o que você faz, mas quanto amor você dedica no que faz que realmente importa". Madre Teresa de Calcutá

Reminiscências mitológicas para o humanismo contemporâneo


Por Alessandra Leles Rocha


De quatro em quatro anos a humanidade é convidada a celebrar a fraternidade entre os povos através dos Jogos Olímpicos. Superar os próprios limites é a empreitada de cada atleta na busca pelo pódio. Tudo bem, que entre a grandeza dessas ideias e aspirações e a realidade humana e visceral escondem-se elementos nada edificantes ou altruístas; mas, tomando-se como ponto de partida só o lado bom da história, que tal nos inspirar e ousarmos nos permitir o máximo da superação?
Olimpíada é a ascensão do esporte como representação do humano. Força, coragem, destreza,... Um misto de sentimentos, de emoções, que nivelam os participantes à condição única e vital de seres humanos. Na plasticidade dos movimentos, na conquista da perfeição, o que se vê de mais importante são os corpos, independentemente se homens ou mulheres. O esporte iguala e respeita a todos, na medida em que seu objetivo maior é a superação dos limites. Inclusive, na vela e no hipismo, eles e elas competem lado a lado.
Por isso, esse é um tempo tão profícuo para reflexão. Nenhuma diferença humana é grande, ou forte o suficiente, para impedir que pessoas estejam juntas, compartilhando o mesmo espaço, dividindo as mesmas alegrias e tristezas. De repente, tudo fica tão simples, tão singelo, porque barreiras ideológicas, ou filosóficas, ou religiosas se permitem serem mais flexíveis, mais tolerantes, mais generosas.
Desse modo, a logística dos Jogos Olímpicos busca atender as demandas e as expectativas de um contingente especialmente plural, proporcionando-lhes dias de bem-estar e alegria que, talvez, no restante do ano não seja possível.  Afinal, não podemos nos esquecer de que fora da bandeira Olímpica o mundo tem hasteado a bandeira da guerra e do horror. Milhões de pessoas estão sendo sumariamente condenadas a abandonar tudo e sair vagando em busca de um amanhã.
Estamos falando de gente, cuja guerra em suas diferentes faces marca a alma como quem marca um gado a ferro. Cicatrizes expostas com muita ou pouca nitidez, muitas vezes só traduzidas pela tristeza do olhar e a carência de palavras. Perdas que são impossíveis de serem reparadas ou de serem justificadas. Essa gente é simplesmente o legado cruel dos seres humanos a si mesmo, contrariando o princípio biológico da preservação da própria espécie.
Portanto, de quatro em quatro anos um “tempo sabático”. Um resgate da  essência para a nossa metamorfose. Mas, será que precisaremos mesmo continuar esperando por esse alento?  Será que precisamos ser heróis além das competições? Por que subjugar nossos semelhantes de maneira tão perversa, impossibilitando-os tantas vezes de poder desfrutar da própria beleza do esporte?
O mundo por si só já é uma grande arena. Não há maratona que supere a corrida diária pela sobrevivência. Quantos são os montes, os desertos, os oceanos e mares que precisamos enfrentar em nome da esperança? Sem contar os pesos depositados sobre os ombros, que fazem sangrar e doer os pobres mortais.
Viver é um eterno desafio... sem pódio, sem louros, sem medalhas que consigam dimensionar de uma única vez a plenitude da consagração. Às vezes, um bom resultado aqui, outro ali; mas, ninguém será completo na realização da própria existência. Os erros nos perseguem. Os enganos. A arrogância. O destemor... e quaisquer outros obstáculos que as forças superiores a nós nos venham impingir. Afinal, somos humanamente mortais.  
Assim, aproveite esse tempo Olímpico para se inspirar, para se extasiar diante do silêncio que fala na ação de cada desportista e lembre-se dessas palavras: “Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é o seu caráter, suas ideias e a nobreza dos seus ideais” 1. 



1 Charles Spencer Chaplin, mais conhecido como Charlie Chaplin, foi um ator, diretor, produtor, humorista, empresário, escritor, comediante, dançarino, roteirista e músico britânico.