Um
sorriso verde... amarelo
Por
Alessandra Leles Rocha
Não é de hoje que na terra Brasilis tudo vira ópio para inebriar o
povo e fazê-lo esquecer das verdades inconvenientes. É assim com o carnaval, com
os mais variados feriados ao longo do ano, o futebol,... Pretextos não faltam
para driblar a consciência e deixar de pulsar a cidadania com mais pujança. Então,
a chama olímpica transita pelos quatro cantos do país, iluminando a euforia...
Sob um manto de ufanismo
ilimitado o Brasil se colocou a frente de concorrer para sediar grandes eventos
mundiais: Jogos Pan-Americanos, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos. Dispensando a devida consciência sobre suas próprias
limitações, se pôs a contradizer os mais cautelosos com discursos extremamente
otimistas e repletos de promessas, de benesses e de benfeitorias que a ousada
empreitada poderia proporcionar.
No entanto, enquanto o
governo punha a materializar aquilo que só pertencia a sua fértil imaginação e
ao projeto no papel (sabemos bem que, o papel aceita tudo), o Brasil permanecia
o mesmo de sempre, com todas as suas carências e demandas a serem socorridas,
ou seja, falo do descumprimento em relação ao básico, ao essencial previsto
constitucionalmente no Capítulo II, dos Princípios Fundamentais.
Enquanto aspergiam sonhos
pelo ar, com a aplicação em profusão de recursos públicos, mais a população se distanciava
da construção de uma sociedade livre, justa e solidária, do desenvolvimento
nacional, da erradicação da pobreza e da marginalização, da redução das desigualdades
sociais e regionais; enfim, da promoção do bem de todos, sem preconceitos de
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação 1.
Dos discursos, muito pouco se
tornou algo concreto. A maior parte das promessas, das benesses e das
benfeitorias ficou inacabada pelo caminho ou nem saiu do papel. Dinheiro, muito
dinheiro mal empregado e que, se algum dia quiser ter retorno, precisará de
mais para dar fim aos projetos. Uma falta total de planejamento e de respeito
ao erário público.
Pois é, dinheiro perdido que
fez falta aos milhões de cidadãos brasileiros na manutenção da sua dignidade e sobrevivência.
Como é possível esquecer a carência de uma Educação de qualidade, com mais
escolas, com mais infraestrutura, com melhores salários para seus
profissionais? Ou de uma Saúde de qualidade, com mais hospitais, com mais
infraestrutura, com mais medicamentos, com melhores salários para seus
profissionais? Ou de uma Habitação de qualidade? Ou de uma Segurança de
qualidade? Enfim...
E nesses anos todos em que
se arrastaram as expectativas criadas em torno desses grandes eventos, no mundo
real o país descia ‘ladeira abaixo’ na sua economia, numa expressão de completo
desgoverno que só fez criar um abismo sem precedentes. Em junho desse ano, o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a pior taxa de
desemprego da nossa história: 11,4 milhões brasileiros desempregados. Apenas um, de tantos
outros reflexos da pior recessão econômica que já se abateu sobre o país.
Sem
cerimônia a verdade é uma só: significa que a tal ‘festança’ nunca foi
para o bico de todos os brasileiros, não. Exceto pelo fato de que todos pagaram
a conta de organizá-la, sem exceção, levando-se em consideração o que deu certo
e o que não deu. No entanto, na hora de curtir, de assistir aos eventos
esportivos, a perversa realidade da pirâmide social permanece a apontar que apenas
uma ínfima parcela com dinheiro sobrando para pagar, a peso de ouro, pelos
ingressos terá o privilégio. A massa, a grande massa da população, assistirá
pela TV, ou pela internet, ou qualquer outro veículo de informação. De repente,
até mesmo, ouvindo o burburinho do lado de fora das arenas esportivas, enquanto
vende algum produto (refrigerante, lanchinho etc.) para fazer uma renda extra
em tempos de crise.
Então, é mesmo uma pena ter que extrair a fórceps alguma
euforia em meio ao caos. Segundo o provérbio, “o melhor da festa é esperar por
ela”; e, enquanto a aguardávamos, a ilusão da expectativa poderia até causar
algum traço de alegria. Mas, depois de duas festas já realizadas, ficou
evidente que o dia seguinte seria de pura e indigesta ressaca... MORAL. Como
disse Carlos Drummond de Andrade 2, “[...] a noite
esfriou,/ o dia não veio,/ o bonde
não veio,/ o riso não veio/
não veio a utopia/ e tudo acabou/
e tudo fugiu / e tudo mofou,/ e
agora, José?”.