Operários - de Tarsila do Amaral
Humanos. Isso explica tudo.
Por Alessandra
Leles Rocha
“Ninguém nasce
odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua
religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a
odiar, elas podem ser ensinadas a amar”. Nelson Mandela
Adoro
essa afirmação. Simples, direta e bastante reflexiva. Por detrás das ações,
comportamentos e bizarrices humanas está toda uma construção identitária
fundamentada pelos valores que nos foram transmitidos em nosso ambiente familiar.
Exemplos. Bons e ruins que ajudaram a moldar o nosso barro, a nossa essência;
os quais, infelizmente, muitas vezes não pudemos contestar.
Por isso,
a educação de um ser humano é algo tão complexo e multifacetado. Não é possível
negligenciar esse processo seja nos mínimos ou máximos detalhes. É imprescindível
estar atento, sempre alerta ao menor sinal de desvio ou de tropeço; sobretudo,
quando se trata das relações sociais. Não, não podemos admitir que os outros
sejam tratados diferentemente do modo com que gostaríamos que nos tratassem. Mas,
então, por que repassar a ideia de que isso é possível?
Pois
é, educar é tarefa difícil. Quase sempre o ser humano esquece que o ato de aprender
está muito mais relacionado aos exemplos do que as palavras; daí, a impossibilidade
de se valer de milhões de pesos e medidas para educar alguém. Como saber o que
é certo ou errado frente a tantos referenciais distintos, a tantas exceções
para uma regra que deveria ser única? A cabeça chega a dar nó.
É por
essas e por outras que a humanidade tem necessitado mais e mais de se
posicionar diante da realidade. Vivencia-se muito da violência; mas, ela em
todas as suas faces não é mais do que o reflexo dessa ‘deseducação’, na medida
em que os indivíduos têm se distanciado das virtudes e valores que constituem
as bases para o equilíbrio da dinâmica social.
O
que se vê aqui e ali é a repetição sucessiva e trivial da despreocupação, do
apego, da ausência de disciplina e determinação, da instabilidade, da
agressividade, da impaciência, da ignorância,... Assim, os conflitos começam a
eclodir ainda na infância. Seja na família ou na escola, que são os primeiros círculos
sociais, as crianças começam a reproduzir esse processo de desconstrução
humana. Até que, de repente, alcançam a
maturidade e transformam a gravidade da violência em algo insustentável e
totalmente prejudicial ao coletivo.
A grande
questão é que milhões de seres humanos não conseguem compreender o seu papel
individual nesse processo. Eles pensam que o incômodo sentido por eles é
responsabilidade de outros, como se eles não tivessem contribuído com uma
parcela. Há uma dificuldade imensa em se autodiagnosticar quanto à ausência dessas
virtudes e valores; já que, o ser humano não sabe lidar com as suas próprias
imperfeições e erros. Quando ele erra há uma tentativa desesperada em tentar
justificar o fato, como uma consequência inevitável de algo que partiu do outro
e não dele.
Portanto,
é a partir disso que seres humanos externam a sua intolerância, o seu
desrespeito, a sua total incapacidade de conviver com a diversidade da sua espécie.
Cada um, na sua pequena ilha existencial, se acha perfeito demais para aceitar
a perfeição alheia. Ou, no fundo, admitir que gostaria de ser, ou de agir, ou
de pensar exatamente como o outro. E essa luta ideológica, filosófica, comportamental
foi incorporada ao longo de anos e anos de exemplos e discursos transmitidos em
sociedade.
Desse
modo, muitas pessoas acreditam que a única solução para romper com esse ciclo é
tornar as leis, os códigos, as doutrinas cada vez mais rígidas e intolerantes
contra essa violência social. Mas, se observarmos que diante das leis
existentes ainda há quem se predisponha a quebrar as regras, esse argumento torna-se
inconsistente. Ou seja, ou o ser humano se transforma pela própria lapidação de
sua consciência ou de nada adianta o cabresto das leis.
A raça
humana é mais bela composição de diferenças que se complementam. Jamais seremos
iguais, como cópias de um mesmo carimbo; mas, apesar dessa verdade inconteste, nossa
humanidade nos coloca em patamar de igualdade pela sobrevivência. Nossos
anseios individuais são sempre os mesmos. Queremos dignidade, pão,
conhecimento, segurança, lazer, sonhos, amor... Então, por que pensar, por um
instante sequer, que uns sejam mais importantes ou melhores do que os outros?
Nascemos,
vivemos e, indubitavelmente, morreremos. Ninguém escapa dessa sina. Nem adianta
dinheiro, poder, posses, beleza, nada. É assim e pronto. Portanto, olhe-se no
espelho e veja através dele a presença de bilhões de outros como você. Gente que
ri e chora. Que sofre. Que lamenta as agruras. Que lambe as feridas. ...Que sonha
com a imortalidade para não admitir a pequenez de ser humano. Isso explica
tudo.