Ao
alcance das mãos... do coração.
Por
Alessandra Leles Rocha
Nesse mundo mergulhado na
tecnologia, no virtualismo das relações, em que milhões de pessoas escondem-se do
estabelecimento de uma coexistência real, ao mesmo tempo em que clamam pela
presença do outro através da busca desenfreada por seguidores nas redes
sociais, qual é de fato a disposição humana em coexistir?
Nas telas os indivíduos se predispõem
a apresentar uma imagem perfeita (ou quase) de si mesmos. Não há sofrimento,
não há carência, não há nada que possa torná-los menos interessantes aos
demais. Mas, toda essa idealização só faz mostrar o quanto as relações sociais correm
perigo; especialmente, a amizade.
Isso significa que as pessoas estão
desenvolvendo todo tipo de empecilhos na fiação natural da coexistência. Estamos
cada vez mais raivosos, intolerantes, indelicados, impacientes no tête-à-tête com os semelhantes,
como se ninguém fosse suficientemente bom para compartilharmos o cotidiano. Então,
como ter sensibilidade suficiente para enxergar e perceber uma grande amizade?
Na periferia dos comportamentos, como
se tem conduzido, basta uma ínfima contrariedade para descartar o outro sem cerimônias.
Ora, ser humano é naturalmente ser imperfeito. Aqui e ali nossas variantes
menos afáveis e acolhedoras dão o ar de sua graça e nos tornam um tanto quanto
esquisitos, bizarros, difíceis aos olhos de quem está ao nosso redor. É;
ninguém será um primor de criatura vinte e quatro horas por dia. Aliás, nem os
dias são sempre maravilhosos como nas propagandas de margarina.
Somos o que somos e ponto final. Está
nessa singularidade, repleta de arestas e desalinhos, o perfil de cada ser. É por
essa razão que não podemos banalizar punir e nem fugir as relações humanas
desse modo. Precisamos expandir a consciência sobre o óbvio para que sejamos aptos
a oportunizar os encontros.
De repente, nas esquinas da vida a
gente encontra pessoas capazes de se sentirem à vontade conosco; muito embora,
aparentemente, sejam tão diferentes de nós. Coisas de uma inexplicável teia de afinidades
que surgem a partir de uma convivência que se estabelece respeitosa e harmônica.
Ao contrário do idealismo que teima
em nos tomar de assalto pela vida afora, relações humanas (incluindo a amizade,
é claro) não florescem pelo prisma dos nossos quereres; não se molda o outro a
nossa vontade. Ou somos capazes de aceita-lo como é, ou então, ele certamente
se encaixará no rol de outro tipo de relação social diferente da amizade, por
exemplo.
E nessa aceitação é preciso estar
ciente de que haverá tempos de guerra e de paz. Sorrisos e lágrimas. Silêncios e
reconciliações. Haverá de tudo um pouco daquilo que só os seres humanos são
capazes de viver, de experimentar e de compartilhar.
Portanto, precisamos muito refletir
sobre isso. Por onde caminha a nossa disposição social em estar com o outro,
ainda que, não necessariamente no mesmo espaço geográfico? O que de fato entendemos
sobre o significado desse “partilhar”? A humanidade está visivelmente padecendo
de uma solidão rodeada de gente. Cada um no seu mundinho tecnológico, limitado
por uma tela que os carrega para longe do mundo real; muito embora, não consiga
dissipar na mesma velocidade todas as suas angústias, tristezas e frustrações.
No fundo, nem poderia ser
diferente, pois a Era Digital é feita por pessoas. E o que um ser de carne e
osso precisa só outro ser de carne e osso pode oferecer. Esse toque é insubstituível. É nele que reside
toda a fiação das relações humanas, inclusive a possibilidade de grandes
amizades. Por isso, não abro mão de ter amigos ao alcance das mãos; mas, sobretudo,
do coração.