Entre
escombros... Entre escolhas.
TERRORISMO. sm. Modo de coagir, combater ou ameaçar
pelo uso sistemático do terror. (Aurélio – Dicionário da Língua Portuguesa)
Por
Alessandra L. Rocha
Lamentavelmente, acordamos com a
notícia de mais um terrível atentado terrorista na Europa, dessa vez em
Bruxelas, na Bélgica. Segundo a Agência de Imprensa France-Presse (AFP),
“Pelo menos 34 pessoas morreram e mais de 150 ficaram feridas nas explosões que
ocorreram nesta terça-feira no aeroporto de Zaventem, em Bruxelas, e na estação
de metrô de Maalbeek, no centro da capital europeia” 1.
Mas, apesar da comoção que as imagens e notícias nos causam é fundamental
refletir seriamente sobre o que se esconde nas sombras do radicalismo
intolerante disseminado pelo mundo.
De acordo com as palavras do
filósofo e teórico político Jean-Jacques Rousseau, “Se a razão que faz o homem
é o sentimento que o conduz”. Partindo dessa lógica, me parece muito difícil,
então, crer que tamanha crueldade parta somente de fundamentos ideológicos
arraigados e distorcidos. É preciso que tais doutrinas encontrem abrigo e
amparo nas emoções e sentimentos humanos, de modo que haja uma frieza plena
para não se envolver e, nem tampouco, pensar nos milhões de passantes ao redor. Não,
não há ideias suficientemente grandiosas que sejam, em sã consciência, capazes
de preterir a vida e o bem estar dos seres humanos; a não ser que, tudo isso,
nos parecesse de fato sem a menor a importância.
Por excelência os viventes do
planeta desenvolveram, cada um a sua forma, o seu instinto de sobrevivência para
garantir a manutenção das espécies. Sendo assim, quando nos deparamos com o movimento
contrário a esse princípio entre os humanos, nos deparamos com um fenômeno em
que a exceção passa a se tornar regra e eleva os riscos em relação ao nosso
futuro. A vida tem sido relegada mais e mais as últimas instâncias de
prioridade, entre o TER e o SER, o primeiro é o que deve ser preservado; muito
embora, o que vale o TER se não há o SER para desfrutá-lo? Entretanto, apesar
disso, revire as páginas da história e veja quantos foram os que sucumbiram aos
ditames do TER, as honras e as glórias do ouro e do poder.
Talvez a explicação desse
comportamento esteja pautada em uma dose generosa de egoísmo a corroer a
humanidade. Deixamo-nos levar pelas
palavras, pelos ídolos, porque nos é conveniente pensar sob uma ótica
individual dos interesses, daquilo que se pode lucrar, mesmo que eventualmente
prejudique o outro. É assim que muitos não conseguem enxergar as mazelas do
mundo e se postam a margem, numa bolha de isolamento ideológico altamente
resistente, a qual os permite cometer as piores e mais abomináveis atrocidades
contra seus pares, sem lamentar ou sentir nenhum sentimento de culpa.
Não se consegue extinguir as
diversas faces do terrorismo porque sempre há quem aplauda e reverencie tais
práticas. As ideologias de extremo radicalismo exercem um fascínio sobre mentes
egoisticamente vulneráveis; por isso, eles mantêm certo equilíbrio na
rotatividade de adeptos para suas investidas, não lhes deixando faltar recursos
de nenhuma natureza, especialmente, financeiros. Sim, porque as ideologias usam
do dinheiro para manterem-se vivas, para persuadir novos seguidores, para
apontar uma série de benefícios que só através dele é possível obterem em curto
prazo.
Dizia Martin Luther King que, “A
verdadeira medida de um homem não se vê na forma como se comporta em momentos de
conforto e conveniência, mas em como se mantém em tempos de controvérsia e
desafio”. Por pior que sejam as circunstâncias da vida pós-moderna, algo ela
nos tem revelado em concordância com essas palavras: as máscaras estão pelo
chão. Sim, o posicionamento das pessoas tem dito muito sobre elas, sobre o grau
de envolvimento e sensibilização em relação aos sofrimentos e obstáculos a
serem vencidos pela coletividade. Observando com atenção todos aqueles tidos
como engajados e atuantes em favor do bem social, quantos realmente se mostram
defensores dos fracos, dos oprimidos, dos escravizados? Por quais causas eles
realmente militam? Será que estão preocupados com os milhões de desempregados,
ou os que concorrem em verdadeira ‘roleta-russa’ por um leito de UTI nos
hospitais públicos, ou os que não conseguem estudar pela ausência de
transporte, ou... ou...? Será que estão na defesa da liberdade e demais
garantias de direitos humanos?
É. Quem vê cara não vê coração e de
repente se descobre o real tamanho dessa legião de seres desumanos pelo mundo. Anônimos
e famosos que hasteiam suas ideologias com um orgulho feroz. Manifestam suas
filosofias de botequim, sem nenhuma cerimônia. E no fim das contas, querem mais
é que tudo se exploda bem longe do seu quintal de indiferença e alienação. São
os donos da verdade; aliás, como se essa fosse passível de uma única definição.
Tudo o que não sai de seus pontos de vista é rechaçado com veemência e
desqualificado sem direito a contestação; seja na política, na economia, na religião,
ou no futebol.
Portanto, os atos de terrorismo não
estão presentes somente na Bélgica, ou na Europa. Eles estão aonde o ser humano
está. O terror está no derramamento de sangue; mas, também, na omissão
silenciosa. Ele está nas bombas que explodem em locais cotidianos; mas, também,
nas palavras verbalizadas ou não dos meios de comunicação. Ele está na
idolatria, na ignorância, na incapacidade de dialogar e de reconhecer os
próprios erros; afinal, quem foi que disse que o ser humano é perfeito, hein? Temos
que parar de relativizar a vida, estabelecendo quem pode viver quem pode morrer
quem pode trabalhar quem pode ser feliz, quem... Nenhum fim justifica qualquer
meio para alcançá-lo; então, quem escolhe o lado do terror, o escolhe por
vontade própria.
1 http://www.msn.com/pt-br/noticias/mundo/explos%c3%b5es-no-aeroporto-e-metr%c3%b4-de-bruxelas-deixam-mais-de-30-mortos/ar-BBqLLhh?li=AAggXC1&ocid=U206DHP