quinta-feira, 31 de março de 2016

"Se não estás prevenido ante os meios de comunicação, te farão amar o opressor e odiar o oprimido". Malcolm X



Será que todos sabem mesmo o que é RESPONSABILIDADE? 


Por Alessandra Leles Rocha 


RESPONSABILIDADE. Sf. 1. Qualidade ou condição de responsável. 2. P.ext. Condição de causador de algo (esp. dano); culpa. 3. Aquilo (tarefa, ação) pelo qual alguém é responsável; obrigação, dever. 4. Jur. Condição jurídica de quem, sendo considerado capaz de conhecer e entender as regras e leis e de determinar as próprias ações, pode ser julgado e punido por seus atos. (mini Aurélio – O Dicionário da Língua Portuguesa)


Para romper com quaisquer discursos tendenciosos, o verbete acima se faz claro sobre o que é RESPONSABILIDADE e de que modo se pode pautar uma reflexão acerca de tudo o que a envolve. Assim, independente de quaisquer outras considerações ou particularidades, a RESPONSABILIDADE é condição natural para a manutenção do equilíbrio e da ordem social. Quando cada um sabe o papel que lhe cabe na seara individual e coletiva da sociedade e o cumpre de maneira satisfatória e competente, o cotidiano ganha a fluidez necessária para se almejar pelo desenvolvimento, pelo progresso, pela evolução.
O Brasil vive sob os pilares de Estado Democrático de Direito, ou seja, sustenta os seguintes princípios: - a soberania, - a cidadania, - a dignidade da pessoa humana, - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e, - o pluralismo político; pelo menos é o que diz a Carta Magna da nação em seu artigo 1º. Me expresso dessa forma, porque para efetivamente cumpri-los há de se impregnar de muita RESPONSABILIDADE; algo que, na história desse país, sempre esteve tão frágil. 
Sim. As falácias meticulosamente engendradas e exaustivamente repetidas em ciclos dão testemunho disso. Basta tomar como exemplo, aquelas baseadas no artigo 3º da Constituição vigente e traçarmos um paralelo com a própria realidade. Será que nossos representantes, eleitos por voto direto, têm mesmo construído uma sociedade livre, justa e solidária? Ou garantido o desenvolvimento nacional? Ou erradicado a pobreza e a marginalização, através da redução das desigualdades sociais e regionais? Ou promovido o bem de TODOS, sem preconceitos de quaisquer naturezas? Será?
Infelizmente, no Brasil, depois de eleitos os representantes do povo se esquecem de sua RESPONSABILIDADE, como em um passe de mágica. O que lhes importa de fato é a manutenção do poder; não, que 9,1 milhões de brasileiros estejam desempregados, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – 2,6 milhões a mais que há um ano. Ou que os pedidos de falência registrem alta de 36% no acumulado do 1º bimestre em comparação a mesmo período do ano anterior, segundo dados da Boa Vista SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), com abrangência nacional. Ou que pessoas continuem a mercê da desassistência nos hospitais públicos, em razão da falta de profissionais, medicamentos, estrutura em geral. Enfim...
Essa falta de RESPONSABILIDADE secular em nosso país chegou ao seu ápice, ou seja, a engrenagem travou. A deterioração da gestão pública reflete hoje a cronicidade do descaso, do desrespeito, da negligência com os miseráveis pagadores de impostos. Todas aquelas cifras bilionárias exibidas na mídia e nenhum resultado prático e eficiente em prol do cidadão. Só desperdício aqui, ali, acolá. Enquanto se avolumam os casos de corrupção, as obras inacabadas, o mau emprego dos recursos, as esperanças, tecidas por promessas ardilosamente maquiavélicas, se esvaem etéreas. Segundo o provérbio, “Ninguém é obrigado a prometer; mas, se o fez torna-se obrigado a cumprir”; entretanto, a ‘justificativa’ vem na forma de outro dito popular: “Devo não nego; pago quando puder”. Então, quem aguenta tamanha IRRESPONSABILIDADE? 
Ao absterem-se da RESPONSABILIDADE, a qual nem deveria precisar de nenhum ordenamento jurídico, mas tão somente do bom senso que emana das boas índoles, nossos governantes ferem severamente o Poder Democrático que emana do povo. Tripudiam da Democracia desqualificando seus entes mais importantes, os cidadãos, imputando-lhes dias de incerteza e penúria, diante da imobilidade voluntária no cumprimento de suas responsabilidades.  
Tudo isso não é ficção, nem teoria da conspiração. É a realidade estampada minuto a minuto pelos veículos de comunicação, que cabe opiniões diversas é claro. Mas, longe das tendenciosidades bi polarizadas, permita-se apenas olhar com os próprios olhos e ver as filas dos desempregados se agigantarem em busca do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) nas agências da Caixa Econômica Federal ou dos serviços de atendimento ao trabalhador. Ou a presença da inflação galopante na hora das compras no mercado, quando se descobre que o dinheiro de ontem não compra nem a metade dos produtos agora. Ou o aumento na demanda dos alunos por uma vaga nas escolas públicas, diante da impossibilidade dos pais em pagar as mensalidades na rede particular. Ou o impacto das novas cifras tributárias sobre os serviços de água, luz, combustível etc...  
Sendo assim, como disse José Saramago, prêmio Nobel de Literatura (1998), “Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos, sem responsabilidade talvez não mereçamos existir”. Portanto, diante dos fatos que nos consomem o corpo e o espírito será que todos sabem mesmo o que é RESPONSABILIDADE?
* Postado também no http://desenrolandoasideias.blogspot.com.br/