sábado, 5 de março de 2016

Não se esqueça: no fim das contas, a escolha é sua!


Não se esqueça: no fim das contas, a escolha é sua! 

Por Alessandra Leles Rocha 

A deterioração da política no Brasil não representa uma discussão atual; mas, remonta de uma práxis secular instalada por aqui. Sim, são séculos de práticas corruptas desdobradas em péssimas gestões, as quais resultam automaticamente no prejuízo aos cofres públicos e ao suprimento das carências da população, sobretudo a parcela mais humilde. Antes de olhar para o agora é fundamental debulhar as páginas do passado para perceber como há uma dificuldade constante em romper com tudo aquilo que obstrui o nosso desenvolvimento e progresso efetivos.

No contexto dos tempos republicanos e democráticos deste país não estivemos diante de projetos governamentais que se sustentassem, por exemplo, a partir de propostas voltadas efetivamente a educação, a saúde, o trabalho, a segurança, a previdência social, ao lazer e cultura. Aliás, projetos são, talvez, de uma ordem complexa e contrária demais aos interesses individuais das classes representativas nacionais; por isso, nas vezes em que aparecem mencionados são constitutivamente vagos e inconsistentes, incapazes de se colocarem a termo de execução e aquisição de bons resultados.

Em razão desses desafortunados vieses é que a população brasileira permaneceu sustentando as cortes, mesmo após o fim da regência monárquica em seu território. O péssimo hábito foi, então, incorporado e o cidadão apesar de perceber as agruras diárias dessa desigualdade, não conseguiu ir além de padecer enclausurado pelo sentimento da vitimização. Os maus tratos sociais seculares os impingiram lições de comportamento subserviente e capaz de sobreviver de quireras e esmolas.

No fundo o resultado disso foi bom para todos. Bom para os governantes, ou representantes do povo, que por meio da apatia ignorante ou comodista do cidadão não encontraria obstáculos para agir segundo os seus próprios interesses. Bom para o povo que não precisaria despender seu esforço, justificando-se vítima das circunstâncias; as quais jamais sinalizariam por si só nenhuma transformação contundente. Como no dito popular ficou “Tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Mas, tudo o que envolve relações sociais não se estabelece inerte. Ainda que as práticas se perpetuem, fatores de diversas ordens podem interferir e desequilibrar, rompendo uma calmaria aparente.  

Foi exatamente isso que aconteceu nas últimas duas décadas no Brasil. Depois de romper com desastrosos ciclos econômicos que impunham a recessão, a carestia, à inflação, acirrando perversamente a desigualdade social entre os cidadãos brasileiros, a conquista de uma economia equilibrada proporcionou os caminhos para construção de uma sociedade mais justa. Finalmente, as pessoas puderam usufruir da acessibilidade e da inclusão social, a transformar sonhos em conquistas reais e palpáveis, a vivenciar a significância da sua cidadania.

Foram tempos de grandes conquistas; mas, em momento algum, foi questionado se suficientes para remover definitivamente as antigas práticas, nem sobre o que era preciso fazer para dar sustentação e continuidade à nova realidade instituída. Então, antes do imaginado, em plena efervescência da felicidade social, um movimento retrógrado na economia iniciou a derrocada das transformações e se fortaleceu nas “práticas corruptas desdobradas em péssimas gestões, as quais resultam automaticamente no prejuízo aos cofres públicos e ao suprimento das carências da população, sobretudo a parcela mais humilde”.

O comportamento vitimizado de antes passou a ser de contestação; pois, tirar o doce da boca de uma criança é sempre ao som de muita birra e grito. As perdas foram profundas demais e, especialmente a geração nascida no pós-estabilidade econômica, não estava preparada para lidar com tamanho revés. Assim, as novidades impuseram à sociedade uma urgência de reação. Contudo, não estou convencida de que isso significa dizer que o país tornou-se mais politizado; pois, uma genuína politização demanda um processo muito longo, o que não é o caso.  

Mas, o que acontece quando não se está preparado para o inusitado é sempre surpreendente; quase como trocar um pneu com o carro andando.  Então, de repente configurou-se um processo de segmentação social entre dois grandes grupos que se apegaram a uma figura, que fosse capaz de atenuar, ou mesmo, resolver a situação por meio de palavras e promessas. Inspirados, talvez, na própria cultura do futebol brasileiro, esses grupos passaram a agir como ferrenhos torcedores em dia de clássico, banalizando e comprometendo a gravidade da situação do país.

Ao contrário do cidadão conseguir enxergar a letárgica paralisia que consumiu a sobrevivência da nação, justamente pela ausência de uma representação popular imbuída de responsabilidade e valores éticos e morais consistentes, ele se deixou levar pelo desgastado modelo de bipolarização da Guerra Fria, entre a farta distribuição de ofensas e agressões físicas entre “bons” e “maus”, “direita” e “esquerda”. Um verdadeiro espetáculo indigno para qualquer país; já que impede a reflexão cidadã e a manifestação de opiniões isentas.

Aliás, a comunicação corre risco nesse modelo, não só pelo excesso de ruídos e interferências, como na violência contra os veículos de informação, na figura dos jornalistas agredidos brutalmente no seu exercício profissional. É bom lembrar que foi a intolerância e o desrespeito total à liberdade de imprensa que culminou o ataque de terroristas fundamentalistas a sede do Charlie Hebdo, no XI distrito de Paris, o qual causou comoção em todo o mundo, inclusive no Brasil. Cada vez mais precisamos de informação da nossa realidade, das nossas mazelas, para não nos tornarmos solidários e indignados apenas com o que acontece além de nossos muros.

Vivemos a gota d’água de um círculo histórico que parecia infindável. Mas, a reafirmação repetida dos absurdos e incompetências, por linhas tortas, conduziu as decisões às mãos do Judiciário nacional, o que se tem chamado de judicialização do poder. Logo o Judiciário, cujo ingresso de seus membros se estabelece constitucionalmente a partir de exame de provas e títulos, ao contrário de escolha pelo voto popular. Quando o povo se sente abandonado e ignorado pelos representantes que ajudou a eleger é a Justiça a sua última esperança, a única a dar voz e vez aos seus direitos.

Por isso, para que seja possível vislumbrar o futuro é fundamental conhecer o passado e o presente. Nada é obra do acaso, nem tampouco acontece da noite para o dia. Histórias se constituem a partir de sucessivos fatos que se propagam em direções diversas; daí a importância, também, de pensar pela própria cabeça, não se deixar levar pelas ingerências e limitações impostas por uns e outros. Como disse a escritora, dramaturga, roteirista e filósofa norte-americana Ayn Rand, “A menor minoria na Terra é o indivíduo. Aqueles que negam os direitos individuais não podem se dizer defensores das minorias”. Tome as rédeas da sua cidadania e reflita o que é melhor para o seu país, de modo que possa repercutir a todos os seus cidadãos sem distinção de qualquer natureza. A escolha é sua.