Brasil tem hoje 9 mil pessoas
em situação de refúgio, forçadas a abandonar seu país de origem por um fundado
temor de perseguição. ACNUR, ONU Mulheres e Rede Brasileira do Pacto Global da
ONU integram iniciativa ‘Empoderando refugiadas’, que busca sensibilizar a área
de recursos humanos das empresas no Brasil.
A Gesplan é uma
pequena empresa de assessoria contábil de São Paulo. Com apenas 30
funcionários, vem demonstrando abertura para a contratação de refugiados.
Atualmente conta com três estrangeiros, ou 10% de seu quadro, sendo dois
africanos – um funcionário da Nigéria e outra de Guiné-Conacri – e Hayat, uma
jovem síria de 22 anos.
“Inicialmente o nome
‘refugiados’ assusta, pois é como se eles estivessem fugindo, mas vimos que era
plenamente possível contratá-los. São pessoas com muita capacitação e que falam
vários idiomas. Nossa empresa é pequena, imagina isso em uma multinacional?”,
relata o diretor da Gesplan, Mauro de Andrade.
O depoimento de
Mauro fez parte do segundo encontro do projeto “Empoderando Refugiadas”,
promovido pela Rede Brasileira do Pacto Global da ONU no dia 4 de fevereiro na
sede da ONG Mulheres do Brasil, em São Paulo, em parceria com a ONU Mulheres,
Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), Programa de Apoio para a Recolocação
dos Refugiados (PARR), Caritas e Fox Time.
A proposta foi
sensibilizar a área de recursos humanos das empresas para a contratação de
refugiadas e refugiados no Brasil e contou também com a participação de
representantes da sociedade civil organizada e poder público. Além disso, uma
oficina foi promovida com refugiadas de países da África e Ásia, que puderam
ter lições introdutórias de língua portuguesa e finanças pessoais.
De acordo com o
assistente de Proteção do ACNUR, Vinícius Feitosa, o Brasil tem hoje 9 mil
pessoas em situação de refúgio, forçadas a abandonar seu país de origem por
“fundado temor de perseguição” – no jargão técnico do direito internacional –,
seja por motivos de raça, religião, nacionalidade, opinião política ou
participação em grupos sociais, o que caracteriza uma violação generalizada de
direitos humanos.
“Diante dessa
situação, eles precisam da garantia de proteção do Estado brasileiro. Portanto,
ao receberem o protocolo provisório de refúgio, já conseguem ter acesso ao CPF
e carteira de trabalho e podem ser contratados”, afirmou.
Coordenadora do
Grupo Temático de Direitos Humanos da Rede Brasileira do Pacto Global, a
assessora de Responsabilidade Social da Itaipu Binacional, Heloísa Covolan,
destacou que o principal objetivo é sensibilizar as empresas sobre o impacto
que a violação de direitos humanos acarreta aos negócios. “O setor privado é o
grande promotor das violações. E a contratação de refugiadas e refugiados
mostra sensibilidade das empresas brasileiras para uma causa nobre, que
inclusive será mostrada como ‘case’ de sucesso na sede da ONU em Nova York, em
março.”
Sobre a questão de
gênero, a assessora da ONU Mulheres, Adriana Carvalho, lembrou dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) – adotados pelos 193 países-membros da ONU em
setembro de 2015 –, sendo o ODS 5 específico para “alcançar igualdade de gênero
e empoderar todas as mulheres e meninas”.
Ela também convidou
as empresas a assinarem os Princípios de Empoderamento das Mulheres (Women’s
Empowerment Principles – WEPs), uma parceria da ONU Mulheres com o Pacto
Global da ONU. Vinícius Feitosa comentou que as refugiadas – que correspondem a
30% das pessoas em situação de refúgio no Brasil – são um público mais
vulnerável, uma vez que podem ser vítimas de preconceito de gênero e violência
sexual.