Na
era do “castelo de areia” intelectual
Por
Alessandra Leles Rocha
Por
tantos descaminhos que a Educação já trilhou talvez um dos piores deles foi
desenvolver a crença na qual a aquisição do certificado, ou diploma, resume
toda a importância do ato de aprender, de adquirir conhecimento e técnica, de
moldar as habilidades. Como se um simples pedaço de papel pudesse de fato
determinar com o máximo de precisão a qualidade do trabalho a ser desenvolvido
por seu detentor.
Ora,
ora! Quem nunca ouviu a celebre frase escolar “quem não cola não sai da escola”?
O que parece algo tão simples e infantil como o ato de copiar do colega as
questões da prova, ou levar as respostas prontas em diminutos papeizinhos escondidos
com capricho, se cronifica sim com o passar dos anos.
Cada
serie cursada pelo aluno representa um degrau a mais na complexidade e exigência
do ensino. Sendo assim, a ausência de segurança no próprio conhecimento fará
com que ele, muitas vezes para não desapontar a família ou ficar em desvantagem
aos amigos e demais colegas, utilize desse recurso para prosseguir; vai
lentamente construindo seu “castelo de areia” intelectual. Até nos trabalhos
com consulta, esse tipo de aluno também não mede esforços para "não se esforçar".
É! São aqueles que não fazem nada e pedem para colocar o nome na capa do
trabalho. Por isso, nem sempre as avaliações fazem justiça ao real conhecimento
e aprendizado dos alunos.
Os
anos passam, os ensinos fundamental e médio ficaram para trás e quando se
deparam com o ingresso no terceiro grau costumam continuar a optar pelo caminho menos
espinhoso. Quando dão sorte de ingressar em alguma instituição pública conduzem
o cotidiano amparados pelas experiências de outrora; não se preocupam além de
conseguir a média para aprovação e
chegar até o fim. Quando não conseguem, buscam o caminho das instituições
privadas onde os níveis de cobrança e exigência são bem mais flexíveis do que
na rede pública. E mesmo com toda a flexibilidade não deixam as vivências do
passado se perderem no desuso .
Entretanto,
não se pode esquecer que os próprios cursos de graduação públicos ou privados
tem uma parcela significativa de responsabilidade nessa questão! Na medida em
que não se cumpre de maneira satisfatória a função de orientação desses
trabalhos por parte dos próprios docentes e/ ou a disciplina de metodologia
científica inexiste na grade curricular ou é ministrada superficial e
inconsistente as necessidades 1. Apesar da
ampliação de fomento por parte dos órgãos ligados a pesquisa e extensão no país
(CAPES, CNPq e outros), promovendo a participação mais efetiva dos cursos no
desenvolvimento da ciência e da tecnologia, percebe-se nitidamente a
dificuldade dos alunos no momento de trabalharem com as ferramentas metodológicas
e a execução das pesquisas.
Infelizmente,
dando suporte a esse mascarar vergonhoso da capacidade intelectual encontra-se
no mercado gente disposta a ganhar dinheiro; pessoas que anunciam na mídia, e
até mesmo dentro de instituições de ensino, à venda de trabalhos de graduação e
pós-graduação em diferentes áreas 2. Principalmente os chamados “trabalhos de conclusão de curso” que nem sempre cumprem de fato o seu
papel de finalizadores de todo um processo psicopedagógico de formação
discente.
Se
há a venda é porque há quem compre, o principio é logico! Mas, se engana mesmo
quem pensa ser dotado da mais pura “esperteza” nesse caso; ainda que não se
deem conta, quem vende os trabalhos comete crime de falsidade material e quem
compra de falsidade material e ideológica. Além disso, numa época em que a
crise econômica mundial desembarca em nosso país milhares de trabalhadores
estrangeiros, muitos deles com um nível profissional e intelectual bem mais
sólidos que o nacional, o despreparo de quem se apresenta confiante nesse tipo
de certificado durante os processos seletivos fica bem evidenciado 3.
Somos
um país de quase duzentos milhões de habitantes e grande parte desse povo em
fase economicamente ativa e produtiva, portanto a competitividade e as disputas
por um “lugar ao sol” no mercado de trabalho são cada vez mais acirradas.
Estudar é sempre o diferencial para quem quer conquistar um espaço; mas,
estudar de verdade! Estudar com afinco, todos os dias, sob o sol e a chuva,
enfrentando todos os desafios, superando todos os limites. Só o estudo nos
permite escolher, reconhecer as próprias aptidões e desbravar os próprios
caminhos. Quem faz o que gosta, o que tem mais afinidade, sairá sempre em
vantagem e o mundo já deixou de determinar os trabalhos de maneira estática e
tradicional; hoje, ele está de braços abertos para receber as novidades, os
novos caminhos para se exercer um dado oficio.
Portanto,
não há atalhos para a Educação! É por isso, também, que estamos diante de uma absurda
carência de mão de obra qualificada no país! Na hora de colocar a “mão na massa”,
de falar uma língua estrangeira, de dominar os conhecimentos,... o diploma “se
esfacela”, não se sustenta 4. Talvez seja
por isso que o medo da concorrência se torne tão aflorado! A formação de um
individuo que dignifique ser chamado cidadão e profissional depende de um
conjunto de elementos devidamente inter-relacionados: família, escola, cursos
de aprimoramento, leitura, vivência cultural. E para fundir tudo isso é preciso
tempo e dedicação; uma escolha a ser encaminhada ainda nos primeiros anos de
vida. Como dizem por aí, “sucesso só vem antes do trabalho no dicionário”!