Papel
de Pai
Por
Alessandra Leles Rocha
Foram
muitas e, talvez, rápidas as transformações impostas à sociedade contemporânea.
Tempos de guerra e de paz, aprimoramentos científicos e tecnológicos,
readaptações sociais, mudanças nos perfis de comportamento; mas, algo ainda
permanece distante do enquadramento necessário: a paternidade.
Apesar
da evolução no modo de agir paterno, no qual muitos homens aprenderam a
participar e dividir com as mulheres as tarefas cotidianas, tais como preparar
a mamadeira, trocar as fraldas, dar o banho, levar e buscar os filhos na
escola; a verdadeira compreensão do papel paternal permaneceu obscura.
Na
balança das ponderações podemos considerar que foram décadas e décadas de um
modo de ser, agir e pensar extremamente masculinizado e sem traços
significativos de liberdade de expressão, sobretudo, quando o assunto eram os
sentimentos e as emoções. Então, gerações e gerações masculinas foram
preparadas para atuar sob o script de diferentes papeis; menos o de serem humanos
em seu sentido literal, o que refletiu negativamente na sua paternidade. Também,
que cada um tem suas particularidades psicoemocionais a serem respeitadas. Uns
são mais extrovertidos, outros mais autoritários, alguns mais distraídos,...
características mescladas proporcionalmente no que há dentro e fora deles. Mas,
tudo isso não pode, no entanto, absolvê-los quando o assunto é ser pai.
Afinal
de contas, esse papel naturalmente coloca condições que não há como
flexibilizar, sem que a parte mais vulnerável – o (a) filho (a) – venha a
ressentir. Independentemente, se a paternidade foi uma escolha voluntária ou
não, uma vida está a caminho e para que se desenvolva plenamente, ela não
requer apenas a junção das metades genéticas de um homem e de uma mulher.
Aquele pequenino ser, antes mesmo de se apresentar ao mundo, embora no ventre
da mãe precisa igualmente do afeto, da responsabilidade, do compromisso e da
disponibilidade de seus genitores.
Não
adianta bradar aos quatro cantos que não dispõe de tempo, de recurso
financeiro, de paciência, de vocação e etc., porque, quando se quer tudo se
torna possível e um filho é uma extensão daqueles que o geraram. Se você não se
descuida de si mesmo, como se descuidar de um pedaço de você? Como não querer
que as suas melhores qualidades se destaquem através de seu filho? Como não
querer compartilhar as vitórias dele? Como não querer defende-lo das agruras do
mundo? Como não querer impedi-lo de chorar? Como não querer velar o seu sono?
Como não querer cuidá-lo na doença? Como não querer?...
Diante
de tantos casos de indiferença, de abandono, de negligência, ao longo de
décadas, a sociedade tem buscado promover a construção de novos paradigmas para
a paternidade. O que se aplica às mães em termos de consolidar a manifestação
espontânea da responsabilidade desde os aspectos básicos da formação do
individuo (alimentação, saúde, educação, lazer, cultura, moradia, transporte)
até os aspectos psicoemocionais (amor, dignidade, respeito, liberdade, segurança),
também se aplica aos pais. Não basta só o nome na certidão! Não basta só pagar
a pensão! Não basta só ligar no aniversário! Não basta só presentear no Natal!
Não basta a intervenção do Estado, nem da Justiça, nem de ninguém! Está nas
bases, nos valores, nos princípios de cada individuo a vontade de querer “ser o
melhor pai do mundo”.
Papel
de pai é todo dia, é toda hora, é todo segundo! A vida é muito curta e não nos cabe
acreditar que pela lei natural da vida, os pais e as mães tenderão a morrer
primeiro! Tudo pode mudar em um segundo e aí fica o remorso, a dor, a angústia,
o pesar por não ter sido, não ter estado, não ter feito o imprescindível para o
seu filho. Ficarão pairando no ar, todas as palavras não ditas, todos os
olhares não trocados, todas as risadas não ocorridas, todos os abraços não
dados, todas as lágrimas não enxugadas,... toda uma vida de esperanças e
expectativas frustradas.
Então,
não desperdice o papel de pai! Seja herói de verdade! Lute para que a vida não
deixe em seu filho tantas cicatrizes na alma e no corpo! Lute para construir
uma relação de amor, cumplicidade e companheirismo com seu filho! Lute para ser
quem mais conhece o seu filho! Lute para ser o primeiro da fila nas conquistas
dele! Lute com você mesmo para que a paternidade sobressaia a qualquer gota de
individualismo, ou de egocentrismo, que teime em existir em você!