Escrever
é preciso!
Por Alessandra Leles Rocha
Imagino que ninguém, quando aprende a ler e a
escrever, se dá conta do grande presente recebido. Sim! Esse momento geralmente
acontece na infância e, de fato, não estamos aptos à tamanha reflexão. Mas, mesmo
depois, anos e anos mais tarde, a grande maioria das pessoas ainda passa
despercebida por esse “divisor de águas” na vida de um ser humano.
Escrever foi sim, o grande salto evolutivo para
nossa espécie! Registrar aquilo que nossos sentidos captam e traduzem em
emoções, sentimentos, reflexões,... somente nós podemos fazê-lo. Foi a escrita
que nos abriu as portas para o desenvolvimento, para o progresso, para a
extensão de nosso próprio ser.
Temos signos, símbolos, palavras ao controle da
mente e das mãos. Escrevemos com carvão, com lápis, canetas, computadores.
Escrevemos na solidão coletiva, desde as banalidades cotidianas aos ensaios
preciosos das divagações existenciais. Escrevemos por obrigação ou por gosto,
nas manhãs preguiçosas ou nas madrugadas inquietantes; mas, no fundo escrevemos
porque escrever é preciso.
Falar é bom! Mas, palavras faladas se perdem no
tempo, no espaço! Para falar e ser verdadeiramente compreendido, as vezes falta
palavras; poucas ou muitas que tragam a clareza, a emoção, o entusiasmo
necessário para se fazer entender. Por isso, prefiro falar no silêncio e fazer
do papel (ou da tela do computador) o grande mensageiro. Não há erro! Letrinha
por letrinha se encontram no imaginário e voam suaves ao encontro das mãos;
dali em diante ganham forma, cor, tamanho, significado, viram prosa, viram
verso. Depois podem até voltar para a boca e se repetir sem vergonha, mas
primeiro é bom que seja assim o caminho.
Escrever é mesmo um estado de encantamento. Ainda
que humano, gente de carne e osso, quem escreve sabe bem o que é ganhar asas feitas
de palavras. Quem escreve voa, transcende além do visível, revira a alma do
avesso e do direito. Não é um voar à toa, sem sentido, sem razão; voa porque
precisa desbravar, conhecer, elucidar, entender para extrair as próprias
conclusões e, até quem sabe, reinventar o que parece desconexo, feio,
indigerível na vida. Nesse voar tão alto e tão profundo, o escritor então faz
companhia para a liberdade.
Por isso escrever faz tão bem! Perdoa, purifica,
aquieta, ama,... É simplesmente você se deixando conhecer por dentro e por
fora. Escrever não é mania de intelectual, moda de vanguarda, coisa de outro
mundo! Todos podem, todos devem; afinal, todos tem algo a dizer em registro.
Reavivar os diários, os cadernos, as agendas, as folhas avulsas de papel,...
eles esperam ansiosos para cumprir essa missão; querem ser fotografias do
pensamento! Querem o carinho de outros olhos diante de si, o folhear de outras
mãos, a percepção de outros sentimentos. Querem salvar o presente, para que o
futuro se debruce nas recordações do passado.
Escreva. Renda-se a esse milagre. Conte historias.
Semeie impressões. Registre cada instante da vida que escorre por suas mãos e
descubra que esse é o melhor caminho para jamais se sentir sozinho (a).