A espera de um coração para se aninhar
Por Alessandra Leles Rocha
No fim,
frente ao caos contemporâneo, diante de tanta loucura individualista em nome de
um lugar ao Sol, o que nos resta é sempre o amor. Só ele para curar as feridas,
salvar todas as almas “perdidas”, construir e reconstruir os castelos, os
sonhos e as esperanças, acordar os sentidos e redimensionar a vida.
O
que move a grande máquina humana se dissolve entre as diminutas moléculas
químicas em meio ao impulsionar quase ríspido de uma bomba chamada coração. Ele
pulsa, bate e apanha, mas leva a sério o que irá transformar sutilmente as
nossas emoções. Fará a boca secar, os olhos brilharem de um modo diferentemente
especial, os pelos se eriçarem a simples troca de olhar, o corpo se mover num
movimento quase coreografado... Somos surpreendidos sem aviso, sem preparação,
sem roteiro. Acontece. O amor acontece. Não há como fugir. Não há como negar.
Não há como resistir. Não há...
Ah! E como
é bom encontrar-se nesse estado de êxtase devastador! Um cataclismo
biofisiológico que de vez em quando precisa romper os preceitos da razão e nos
defrontar com as minucias da existência. O amor pesa o equilíbrio, o modo de
ver e enxergar a vida, amplia a paleta de cores do cotidiano, derrama doses
generosas de ousadia, de paciência, de companheirismo, de cuidados,... de todas
as melhores virtudes que possamos ter dentro da alma. Quem ama está sempre
pronto; pronto para ser e estar, para somar, dividir e multiplicar.
No tempo em
que muitas das relações humanas se iniciam a partir do mundo digital, para amar
é preciso bem mais que um teclado e uma tela. Só coexistindo, interagindo olhos
nos olhos, de mãos dadas, em dias de sol e de chuva, que ele realmente se
afirma (ou não). Quem pensa que basta plantar uma única semente para o amor
está enganado; pois, são necessários muitos elementos para edificar essa grande
árvore. Para amar, de fato e de direito, é preciso dar tempo ao tempo para não
cair nas armadilhas do idealismo e da precipitação. Muito mais que
encantamento, o amor pede admiração, doação, cumplicidade, generosidade,
flexibilidade, liberdade e, sobretudo, um respeito incomensurável pelo
semelhante.
Por sorte,
a vida nos oferta a possibilidade de viver o amor várias vezes, de diferentes
formas, em fases distintas. Cada experiência deixa suas marcas, lições,
lembranças, recordações para aquecer a alma; sempre um estímulo para uma
próxima vez. Porque se existem ou não cupidos a nos flechar pelas ruas, ou se
Santo Antônio e São Valentim são mesmo “santos casamenteiros”, a verdade é que
o amor está sempre no ar, à espreita, a espera de um coração para se aninhar.
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Trabalho Gráfico de Alessandra Leles Rocha.