Por
Alessandra Leles Rocha
Como
tudo na vida, a maternidade é mais um processo da vida humana no qual a mulher
não dispõe de um “manual de instruções” para lhe facilitar os caminhos. Diante
do acontecimento, da surpresa, da explosão de emoções, a vida simplesmente vai
ditando o ritmo e descortinando as infinitas possibilidades de trajeto.
Por
isso, é tão bom falar sobre as mães! Ao mesmo tempo em que parecem tão
diferentes na sua singularidade existencial, são tão semelhantes na sua
condição maternal. Cuidados impressos delicadamente na sua carga genética
transcendem a estrutura de seus átomos e moléculas e se revelam nas ações do
dia a dia. Assim, elas nem ao menos necessitam de palavras para perceber na
sutileza das alterações comportamentais de sua prole qual é o problema, o que
está demais ou de menos, qual a razão da dor, da tristeza, da ansiedade, da
euforia,... Seus sentidos estão sempre (ou quase sempre) atentos aos filhos,
cumprindo o rito de garantir a preservação de sua própria espécie.
Mas
por trás da magnitude, da beleza encantadora da maternidade há sempre o ser
humano mulher, repleto de virtudes e defeitos, o que faz do seu papel maternal
nem sempre uma relação isenta de turbulências e percalços. É! Estamos falando
de dois indivíduos, mãe e filho (a), que apesar de uma ligação
afetivo-emocional extremamente forte e complexa esbarra nas particularidades
comportamentais e de personalidade bastante distintas. O sonho de um “mar de
rosas” algumas vezes se esquece de que podem sim existir espinhos! Parafraseando
Clarice Lispector 1, mães passam a vida
tentando corrigir os erros que cometeram na sua ânsia de acertar; portanto, não
há como estabelecer uma relação cem por cento perfeita!
Ainda
que uma oportunidade ímpar para a mulher, de desfrutar a experiência de nutrir
e acalentar dentro do próprio corpo o desenvolvimento de um novo ser, parte de
si mesma, há de se ter a responsabilidade e o compromisso necessários para
permitir o verdadeiro cumprimento do rito natural da vida. De tantas outras
transformações e aprendizados que fazem parte da evolução humana, a maternidade
está no rol daquelas sem opção de retorno. Uma vez mãe não se pode voltar atrás
e desfazer o acontecido; no corpo, na alma, nos sentimentos e emoções o
registro fica impresso, impossível de ser apagado. A intensidade do
acontecimento marca tão profundamente que não há como esquecer e a vida se
redimensiona numa escala muito além da compreensão. Entretanto, na certeza de
que regras sempre possuem exceções, nem todas as mulheres podem de fato
realizar a maternidade no seu sentido biológico, ou seja, gestando no próprio
corpo o seu filho (a). Seriam elas “menos” mães se decidissem adotar? Em
hipótese alguma! Toda a complexidade que envolve a maternidade inclui como
fundamento essencial a disponibilidade afetiva e emocional em se doar na
criação de um outro ser. Eleger um filho
(a), quando não se pode gerar um, é um ato de profundo desprendimento e
generosidade, porque é a vontade sublime em ser mãe que determina a
concretização dessa maternidade.
Ser
mãe é, portanto, tudo isso e muito mais. Para entender o mundo, a vida, as
relações humanas, basta olhá-las bem de perto, pondo reparo em cada gesto, em
cada olhar, em cada palavra ou silêncio. De repente você se dará conta de que
encontrou o seu norte, o sul, o leste, o oeste, todas as direções e caminhos a
serem seguidos. Que o medo e a insegurança não parecem mais lhe consumir a
alma, porque você sabe da existência de mãos sempre firmes e atentas a lhe
proteger e abençoar. Que a felicidade pode ser comemorada na simplicidade de um
pedaço de bolo, regado por uma xícara de café quentinho. Que a cura dos males
do corpo e da alma estão no calor do abraço, das beijocas e dos carinhos suaves
da sua mãe. Então, como não acreditar em anjos se as mães existem?!