Onde estão os
limites???
Por Alessandra
Leles Rocha
Nas inevitáveis observações cotidianas, algo tem se mostrado cada vez
mais enfático para mim: vida e limite são sinônimos. Não se trata de pensar
apenas na finitude da vida, ou seja, a morte; mas, em todas as faces desse enigmático
prisma. Da menor partícula constituinte da matéria, o átomo, há limites para
defini-lo em núcleo e eletrosfera. Cada uma de nossas células, por sua vez, está
devidamente envolta por uma membrana. Nossa pele, maior órgão do corpo humano, também
delimita nossa forma e nos permite viver em um ambiente repleto de elementos
diversos. Sem limites a vida seria disforme, irreconhecível, disfuncional;
portanto, ela só existe graças a eles!
Mas, na contramão do óbvio e inevitável, a humanidade tem
encontrado imensa dificuldade quando o assunto é limite. Se acotovelando daqui
e dali, sem muito espaço para bom senso e boa educação, o ser humano vive como
se estivesse sozinho no planeta e pudesse agir no impulso de suas vontades. Os limites
sociais estabelecidos nas leis, nos códigos, nos manuais, parecem obsoletos e
incapazes de exercer sua função com eficácia. O primitivismo individualista da
raça humana, indomado pela razão, reluz a flor da pele e entorpece os sentidos
para não reagir à lucidez e não reconhecer os anseios e necessidades coletivos.
É a fúria dos egos disputando territórios!
Ao contrário de pensar se “eu devo”, as pessoas pensam “eu
posso” porque “eu quero”. Então, EU POSSO dirigir embriagado porque EU QUERO; EU TENHO pleno controle da
situação. EU POSSO “furar” a fila porque
EU QUERO; A MINHA pressa é maior. EU POSSO desrespeitar o professor (a) porque
EU QUERO; afinal, quem paga o salário dele (a) são meus pais (ou EU mesmo). EU
POSSO ser indelicado (a) com o funcionário (a) da loja porque EU QUERO; “o
cliente sempre tem razão”. EU POSSO bisbilhotar a vida alheia porque EU QUERO. EU
POSSO... EU POSSO... Até o dia, em que o outro decide fazer o mesmo com relação
a você; então, o SEU LIMITE passa a ser afetado diretamente, causando um
tremendo desconforto e mal estar.
De repente, tal como um passe de mágica, a percepção da importância
do limite se torna palpável. Os limites existem para nos proteger, não
simplesmente dos ataques os quais nós mesmos somos os maiores fomentadores;
mas, para agirem como um alerta de que não podemos atirar flechas sem que haja
uma resposta na mesma proporção e intensidade. Os limites servem para nos
relembrar a todo instante que cuidar da própria vida já é tarefa demasiada para
se ocupar com a dos semelhantes. Nascemos com a obrigação vital de alongar os
nossos limites físicos, cognitivos e evolutivos; o que representa um desafio e
tanto para demandar tempo com interesses difusos. Não são os outros o nosso
maior obstáculo ou desafio; somos nós mesmos, com nossas neuroses, pequenezes,
limitações, dualismos e complexos. O famoso
Eu, que tanto gostamos de falar, é sem dúvida alguma a voz mais assustadora e
avassaladora dos nossos caminhos; pois, comanda sem resistência a fortaleza de
nosso inconsciente.
Se a raça humana pretende permanecer sobre a Terra por mais tempo há de
admitir, reconhecer e respeitar a existência dos limites; a começar do limite geográfico
que confina bilhões de pessoas nos parcos espaços de terra disponíveis. A água potável
também caminha para o limite do racionamento; assim como, os alimentos. A economia
mundial luta para reencontrar os limites para sua sustentabilidade. O meio
ambiente clama pela preservação dos limites de sua sobrevivência. ... De uma
forma ou de outra o espelho sempre nos mostra onde estão os limites; é só abrir
os olhos, a mente e a alma para conviver com eles em harmonia e paz de espírito.