segunda-feira, 14 de maio de 2012

Crônica da Semana!!!


Onde estão os limites???

Por Alessandra Leles Rocha

Nas inevitáveis observações cotidianas, algo tem se mostrado cada vez mais enfático para mim: vida e limite são sinônimos. Não se trata de pensar apenas na finitude da vida, ou seja, a morte; mas, em todas as faces desse enigmático prisma. Da menor partícula constituinte da matéria, o átomo, há limites para defini-lo em núcleo e eletrosfera. Cada uma de nossas células, por sua vez, está devidamente envolta por uma membrana. Nossa pele, maior órgão do corpo humano, também delimita nossa forma e nos permite viver em um ambiente repleto de elementos diversos. Sem limites a vida seria disforme, irreconhecível, disfuncional; portanto, ela só existe graças a eles!
       Mas, na contramão do óbvio e inevitável, a humanidade tem encontrado imensa dificuldade quando o assunto é limite. Se acotovelando daqui e dali, sem muito espaço para bom senso e boa educação, o ser humano vive como se estivesse sozinho no planeta e pudesse agir no impulso de suas vontades. Os limites sociais estabelecidos nas leis, nos códigos, nos manuais, parecem obsoletos e incapazes de exercer sua função com eficácia. O primitivismo individualista da raça humana, indomado pela razão, reluz a flor da pele e entorpece os sentidos para não reagir à lucidez e não reconhecer os anseios e necessidades coletivos. É a fúria dos egos disputando territórios!
       Ao contrário de pensar se “eu devo”, as pessoas pensam “eu posso” porque “eu quero”. Então, EU POSSO dirigir embriagado porque      EU QUERO; EU TENHO pleno controle da situação.  EU POSSO “furar” a fila porque EU QUERO; A MINHA pressa é maior. EU POSSO desrespeitar o professor (a) porque EU QUERO; afinal, quem paga o salário dele (a) são meus pais (ou EU mesmo). EU POSSO ser indelicado (a) com o funcionário (a) da loja porque EU QUERO; “o cliente sempre tem razão”. EU POSSO bisbilhotar a vida alheia porque EU QUERO. EU POSSO... EU POSSO... Até o dia, em que o outro decide fazer o mesmo com relação a você; então, o SEU LIMITE passa a ser afetado diretamente, causando um tremendo desconforto e mal estar.
       De repente, tal como um passe de mágica, a percepção da importância do limite se torna palpável. Os limites existem para nos proteger, não simplesmente dos ataques os quais nós mesmos somos os maiores fomentadores; mas, para agirem como um alerta de que não podemos atirar flechas sem que haja uma resposta na mesma proporção e intensidade. Os limites servem para nos relembrar a todo instante que cuidar da própria vida já é tarefa demasiada para se ocupar com a dos semelhantes. Nascemos com a obrigação vital de alongar os nossos limites físicos, cognitivos e evolutivos; o que representa um desafio e tanto para demandar tempo com interesses difusos. Não são os outros o nosso maior obstáculo ou desafio; somos nós mesmos, com nossas neuroses, pequenezes, limitações, dualismos e complexos.  O famoso Eu, que tanto gostamos de falar, é sem dúvida alguma a voz mais assustadora e avassaladora dos nossos caminhos; pois, comanda sem resistência a fortaleza de nosso inconsciente.   
Se a raça humana pretende permanecer sobre a Terra por mais tempo há de admitir, reconhecer e respeitar a existência dos limites; a começar do limite geográfico que confina bilhões de pessoas nos parcos espaços de terra disponíveis. A água potável também caminha para o limite do racionamento; assim como, os alimentos. A economia mundial luta para reencontrar os limites para sua sustentabilidade. O meio ambiente clama pela preservação dos limites de sua sobrevivência. ... De uma forma ou de outra o espelho sempre nos mostra onde estão os limites; é só abrir os olhos, a mente e a alma para conviver com eles em harmonia e paz de espírito.