Degustando sal; tosquiando ovelhas!
Por Alessandra Leles Rocha
Sob
efeito da gigantesca nuvem de poeira que se instalou após a mais nova crise
ética no Senado da República, em meio aos fragmentos noticiados pela mídia o
cidadão vai colocando as ideias em ordem e se deparando com a profundidade
abissal dos fatos.
Por
detrás da expressão “lobo em pele de cordeiro”, a verdade é que estamos diante
da materialização da mais completa inversão de valores. A lisura, o bom senso,
o respeito, a dignidade, e tantos outros adjetivos a compor o lastro da ética e
da moral, os quais deveriam estar continuamente presentes no cotidiano da
sociedade, já se sabe a bom tempo, aqui e ali, considerados obsoletos e em
desuso por boa parcela da população brasileira. Infelizmente, tornaram-se “exceção”
ao contrário de regra trivial da sociedade.
Então,
de repente (não mais que de repente) vestir-se desses elementos pode deixar
qualquer um “acima de quaisquer suspeitas”. Ao hastear a bandeira desses valores
e se inflamar no discurso retórico e combativo, o indivíduo se destaca com um “grande
diferencial” e encobre sutilmente as ranhuras e deslizes de sua própria conduta.
Quem iria dizer não é mesmo? Essa foi a pergunta que não quis calar desde
então.
Ora,
ora! Mas um lobo é sempre um lobo; não há o que lhe possa esconder a verdadeira
essência. Não há verniz que seja capaz de desaparecer com todas as
imperfeições. Como costumeiramente se diz, “não há crime perfeito”. Na medida
em que o ser humano não vive só, está sempre rodeado direta ou indiretamente
por seus pares, a vida se entrelaça num emaranhado novelo que faz com que uns
sejam “testemunhas” dos outros. Em algum momento as atitudes tomadas podem se
tornar uma “mancha” difícil de ser retirada. Já parou para pensar com quantas
pessoas você conversou ao logo de um dia? E quantas você apenas viu (e de algum
modo viram você também)? Por quantos lugares você passou? Sobre quais assuntos
você conversou? Opinou mais ou de menos? Concordou ou discordou? É! Não somos
tão imperceptíveis, ou invisíveis, como gostaríamos, ou poderíamos, supor!
Por
certo, ninguém conhece ninguém em profundidade. Nem mesmo o próprio indivíduo
conhece a si mesmo até que lhe apertem os calos. Mas, até então, tínhamos uma
mensuração de valor a partir do arcabouço comportamental e da ideologia
defendida pelas pessoas. Certamente, uma apuração de resultado bastante
inconsistente, frágil e questionável; mas, ainda sim, a mais usual entre as
pessoas. Pois é, ledo engano meus caros! Há mais lobos em pele de cordeiro do
que imaginávamos! Só que agora eles estão hábeis em se vestir de “bons moços” e
fazer figuração no segmento que anda tão “démodé”
e restrito. Em meio às divagações dessa história toda, fico pensando como
enfrentará esse novo “it” o pessoal de recursos humanos, caso a prática se
estenda como rastilho de pólvora. Afinal, como saber se aquele pretenso
candidato é realmente o que diz e aparenta ser? Quais as ferramentas de seleção
poderão ser de fato eficazes para “separar o joio do trigo”?
Dizia
minha bisavó, no alto de sua sabedoria, que só se conhecia alguém em profundidade
após juntos compartilharem a degustação de um saco de sal. Tarefa difícil, não
é mesmo?! Por isso, um bom teste; porque, um saco de sal demora muito tempo
para acabar e enquanto isso, milhões de fatos acontecem e as pessoas se revelam
e se transformam. Assim, sem muito esforço, deixando apenas o tempo correr no
seu ritmo natural e a vida falar por si, usando da boa observação e
interpretação das “entrelinhas” quem sabe não se chega a um novo jeito de tosquiar
cordeiros, hein?!