Até
quando São Paulo vai desperdiçar recicláveis?
Por Paulo Itacarambi,
vice-presidente do Instituto Ethos
Mais de 75% dos moradores da cidade de São Paulo priorizam a coleta seletiva. No entanto, metade do lixo separado pelo paulistano não tem o tratamento adequado e vai parar em aterros sanitários comuns. As 21 cooperativas de reciclagem conveniadas com a prefeitura da cidade alegam estar trabalhando acima de sua capacidade.
Essa falta de infraestrutura para a reciclagem acarreta prejuízos e perdas para a cidade, que gasta com a coleta seletiva e locais para armazenamento e não se aproveita dos resíduos de forma sustentável, resultando em custos expansivos e desnecessários com o lixo.
Gestão responsável dos resíduos sólidos
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi sancionada em 2 de agosto de 2010, após tramitar no Congresso Nacional por 21 anos. A lei, que representa um marco na área de resíduos sólidos, faz distinção entre resíduo (lixo que pode ser reaproveitado ou reciclado) e rejeito (o que não é passível de reaproveitamento), além de reunir princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes para a gestão dos resíduos sólidos.
A lei deve seguir o princípio da corresponsabilidade, ou seja, a responsabilidade sobre a gestão dos resíduos sólidos deve ser compartilhada entre o poder público, as empresas e os consumidores. O cumprimento dessa lei deve ser uma ação conjunta de todos, a qual se inicia no momento da compra (a real necessidade de algo que irá gerar resíduos e impactar o meio ambiente) até o descarte e a reciclagem (ação de empresas, dos governos e dos próprios consumidores).
Os números na cidade de São Paulo indicam que os consumidores estão mudando sua mentalidade e querem reciclar o lixo. As empresas também oferecem logísticas para o transporte desses resíduos. O que falta são cooperativas para dar a esses resíduos o destino necessário e assim instituir na cidade uma gestão responsável dos resíduos sólidos.
Mais de 75% dos moradores da cidade de São Paulo priorizam a coleta seletiva. No entanto, metade do lixo separado pelo paulistano não tem o tratamento adequado e vai parar em aterros sanitários comuns. As 21 cooperativas de reciclagem conveniadas com a prefeitura da cidade alegam estar trabalhando acima de sua capacidade.
Essa falta de infraestrutura para a reciclagem acarreta prejuízos e perdas para a cidade, que gasta com a coleta seletiva e locais para armazenamento e não se aproveita dos resíduos de forma sustentável, resultando em custos expansivos e desnecessários com o lixo.
Gestão responsável dos resíduos sólidos
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) foi sancionada em 2 de agosto de 2010, após tramitar no Congresso Nacional por 21 anos. A lei, que representa um marco na área de resíduos sólidos, faz distinção entre resíduo (lixo que pode ser reaproveitado ou reciclado) e rejeito (o que não é passível de reaproveitamento), além de reunir princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes para a gestão dos resíduos sólidos.
A lei deve seguir o princípio da corresponsabilidade, ou seja, a responsabilidade sobre a gestão dos resíduos sólidos deve ser compartilhada entre o poder público, as empresas e os consumidores. O cumprimento dessa lei deve ser uma ação conjunta de todos, a qual se inicia no momento da compra (a real necessidade de algo que irá gerar resíduos e impactar o meio ambiente) até o descarte e a reciclagem (ação de empresas, dos governos e dos próprios consumidores).
Os números na cidade de São Paulo indicam que os consumidores estão mudando sua mentalidade e querem reciclar o lixo. As empresas também oferecem logísticas para o transporte desses resíduos. O que falta são cooperativas para dar a esses resíduos o destino necessário e assim instituir na cidade uma gestão responsável dos resíduos sólidos.
Os números do
desperdício
Na atual sociedade de consumo, em que acumular bens é sinônimo de bem-estar e na qual se destaca uma espécie de adoração pelo descartável, a quantidade de lixo produzida chega a surpreender. A cidade de São Paulo, por exemplo, gera, em média,17 mil toneladas de lixo diariamente (lixo residencial, de saúde, restos de feiras, podas de árvores, entulho etc.). Dessas, 13.300 são de resíduos sólidos.
Os trabalhos de coleta de resíduos domiciliares, seletivos e hospitalares são executados pelas duas concessionárias que atuam na cidade: Ecourbis e Loga. Diariamente é percorrida uma área de 1.523 km² e estima-se que mais de 11 milhões de pessoas sejam beneficiadas pela coleta. Cerca de 3.200 pessoas trabalham no recolhimento dos resíduos e são utilizados 492 veículos (caminhões compactadores e outros específicos para o recolhimento dos resíduos de serviços de saúde).
O jornal paulistano Metro procurou dez das 21 cooperativas conveniadas com a prefeitura de São Paulo para fazer a triagem dos recicláveis e essas dez entidades afirmaram que, em média, 50% do lixo reciclável trazido pelos caminhões é rejeitado. As duas empresas responsáveis pela coleta seletiva (tanto do lixo orgânico como do reciclável) confirmam a informação de que não conseguem descarregar mais da metade dos resíduos dos caminhões disponíveis nas 21 cooperativas da cidade.
Os representantes das cooperativas afirmam que, nos últimos seis anos, a quantidade de material cresceu seis vezes e as centrais de triagem estão saturadas. Responsabilizam a prefeitura por não haver mais locais de triagem. A prefeitura, por sua vez, afirma que está implantando quatro novos postos de triagem, que as cooperativas consideram insuficientes para dar conta da quantidade de recicláveis que chegam.
Os números nacionais
A maior cidade brasileira está com problemas na área de reciclagem de lixo. Os consumidores separam seus lixos, que são coletados separadamente, mas na hora de descartá-los e encaminhá-los para a reciclagem o problema aparece.
Esse é o nó da reciclagem em nível nacional. Das cidades brasileiras, 18% possuem coleta seletiva, mas não conseguem dar conta de todos os recicláveis recolhidos. De um lado, não existem cooperativas suficientes para triar e encaminhar os materiais para a reciclagem. Do lado do mercado, nem todos os recicláveis têm a mesma atratividade.
Segundo dados do IBGE de 2008, o alumínio é o material mais reciclado no Brasil, com 91,5% da matéria-prima da indústria vinda de reciclados. As garrafas PET são o segundo material reciclado mais utilizado (54,8%). A taxa de reciclagem do vidro vem se mantendo estável nos últimos anos, com 47% do total. Do aço consumido na indústria, 46,5% vêm de latas recicladas. Já 43,7% do total de papel consumido na indústria são de reciclados.
Quem manda é o mercado
A pesquisa do IBGE também concluiu que os altos níveis de reciclagem de alguns materiais estão mais associados ao valor das matérias-primas e aos altos níveis de pobreza e desemprego do que à educação e à conscientização ambiental. É por conta disso que o papel, o vidro, a resina PET, as latas de aço e as embalagens cartonadas, de mais baixo valor de mercado, apresentam índices de reciclagem bem menores do que as latas de alumínio.
Cada quilo de latinhas de alumínio é vendido a R$ 1,50. Como elas são pesadas, um catador consegue ganhar um bom dinheiro recolhendo uma quantidade menor do material. Já o papelão, que consegue alcançar o preço de R$ 0,19 o quilo, precisa de uma quantidade muito maior para render bem ao catador. O papel-jornal chega a R$ 0,11 o quilo. A PET consegue ser vendida a R$ 0,85 o quilo. Já o ferro atinge R$ 0,15 o quilo e a embalagem longa-vida, R$ 0,23.
O IBGE sugere que, para todos os materiais terem atratividade, o governo deveria estabelecer um preço mínimo para cada um deles. E esse preço deveria ser resultado de uma ampla conversa com todas as partes interessadas: indústria, catadores e sociedade.
A falta dessas cooperativas resulta em desperdícios, maiores impactos sobre o meio ambiente e gastos. Produtos que poderiam ter outros destinos são jogados em aterros, a céu aberto, ou até mesmo poluindo os rios, acarretando em novos gastos para diminuir esses impactos e criar novos produtos que poderiam se utilizar desses resíduos como matéria-prima.
Impactos do desperdício
Ainda de acordo com o IBGE, 73, 3% das cidades brasileiras não dão a destinação correta a seus resíduos e rejeitos. Os impactos desse desperdício são:
- emissões de metano;
- contaminação do solo, da água e do ar;
- acúmulo de lixo em grandes bolsões, causando desestabilização dos terrenos e das estruturas existentes;
- entupimento de redes de esgoto e canais de drenagem;
- obstrução do leito de rios;
- proliferação de insetos, roedores e microorganismos patogênicos.
Algumas questões ficam no ar. Por que há tão poucas cooperativas? O que falta para percebermos a importância da reciclagem? Legislação? Incentivo? E até quando São Paulo vai jogar dinheiro fora e deixar de lado a sustentabilidade?
Na atual sociedade de consumo, em que acumular bens é sinônimo de bem-estar e na qual se destaca uma espécie de adoração pelo descartável, a quantidade de lixo produzida chega a surpreender. A cidade de São Paulo, por exemplo, gera, em média,17 mil toneladas de lixo diariamente (lixo residencial, de saúde, restos de feiras, podas de árvores, entulho etc.). Dessas, 13.300 são de resíduos sólidos.
Os trabalhos de coleta de resíduos domiciliares, seletivos e hospitalares são executados pelas duas concessionárias que atuam na cidade: Ecourbis e Loga. Diariamente é percorrida uma área de 1.523 km² e estima-se que mais de 11 milhões de pessoas sejam beneficiadas pela coleta. Cerca de 3.200 pessoas trabalham no recolhimento dos resíduos e são utilizados 492 veículos (caminhões compactadores e outros específicos para o recolhimento dos resíduos de serviços de saúde).
O jornal paulistano Metro procurou dez das 21 cooperativas conveniadas com a prefeitura de São Paulo para fazer a triagem dos recicláveis e essas dez entidades afirmaram que, em média, 50% do lixo reciclável trazido pelos caminhões é rejeitado. As duas empresas responsáveis pela coleta seletiva (tanto do lixo orgânico como do reciclável) confirmam a informação de que não conseguem descarregar mais da metade dos resíduos dos caminhões disponíveis nas 21 cooperativas da cidade.
Os representantes das cooperativas afirmam que, nos últimos seis anos, a quantidade de material cresceu seis vezes e as centrais de triagem estão saturadas. Responsabilizam a prefeitura por não haver mais locais de triagem. A prefeitura, por sua vez, afirma que está implantando quatro novos postos de triagem, que as cooperativas consideram insuficientes para dar conta da quantidade de recicláveis que chegam.
Os números nacionais
A maior cidade brasileira está com problemas na área de reciclagem de lixo. Os consumidores separam seus lixos, que são coletados separadamente, mas na hora de descartá-los e encaminhá-los para a reciclagem o problema aparece.
Esse é o nó da reciclagem em nível nacional. Das cidades brasileiras, 18% possuem coleta seletiva, mas não conseguem dar conta de todos os recicláveis recolhidos. De um lado, não existem cooperativas suficientes para triar e encaminhar os materiais para a reciclagem. Do lado do mercado, nem todos os recicláveis têm a mesma atratividade.
Segundo dados do IBGE de 2008, o alumínio é o material mais reciclado no Brasil, com 91,5% da matéria-prima da indústria vinda de reciclados. As garrafas PET são o segundo material reciclado mais utilizado (54,8%). A taxa de reciclagem do vidro vem se mantendo estável nos últimos anos, com 47% do total. Do aço consumido na indústria, 46,5% vêm de latas recicladas. Já 43,7% do total de papel consumido na indústria são de reciclados.
Quem manda é o mercado
A pesquisa do IBGE também concluiu que os altos níveis de reciclagem de alguns materiais estão mais associados ao valor das matérias-primas e aos altos níveis de pobreza e desemprego do que à educação e à conscientização ambiental. É por conta disso que o papel, o vidro, a resina PET, as latas de aço e as embalagens cartonadas, de mais baixo valor de mercado, apresentam índices de reciclagem bem menores do que as latas de alumínio.
Cada quilo de latinhas de alumínio é vendido a R$ 1,50. Como elas são pesadas, um catador consegue ganhar um bom dinheiro recolhendo uma quantidade menor do material. Já o papelão, que consegue alcançar o preço de R$ 0,19 o quilo, precisa de uma quantidade muito maior para render bem ao catador. O papel-jornal chega a R$ 0,11 o quilo. A PET consegue ser vendida a R$ 0,85 o quilo. Já o ferro atinge R$ 0,15 o quilo e a embalagem longa-vida, R$ 0,23.
O IBGE sugere que, para todos os materiais terem atratividade, o governo deveria estabelecer um preço mínimo para cada um deles. E esse preço deveria ser resultado de uma ampla conversa com todas as partes interessadas: indústria, catadores e sociedade.
A falta dessas cooperativas resulta em desperdícios, maiores impactos sobre o meio ambiente e gastos. Produtos que poderiam ter outros destinos são jogados em aterros, a céu aberto, ou até mesmo poluindo os rios, acarretando em novos gastos para diminuir esses impactos e criar novos produtos que poderiam se utilizar desses resíduos como matéria-prima.
Impactos do desperdício
Ainda de acordo com o IBGE, 73, 3% das cidades brasileiras não dão a destinação correta a seus resíduos e rejeitos. Os impactos desse desperdício são:
- emissões de metano;
- contaminação do solo, da água e do ar;
- acúmulo de lixo em grandes bolsões, causando desestabilização dos terrenos e das estruturas existentes;
- entupimento de redes de esgoto e canais de drenagem;
- obstrução do leito de rios;
- proliferação de insetos, roedores e microorganismos patogênicos.
Algumas questões ficam no ar. Por que há tão poucas cooperativas? O que falta para percebermos a importância da reciclagem? Legislação? Incentivo? E até quando São Paulo vai jogar dinheiro fora e deixar de lado a sustentabilidade?