Paz
– a completa liberdade da alma
Por
Alessandra Leles Rocha
Gandhi dizia que “não existe
um caminho para a paz; a paz é o caminho”; mas, afinal, qual será a real
compreensão desse conceito para a humanidade? Talvez do ponto de vista individualizado
e utópico o ser humano assimile o significado da paz; entretanto, quando se
trata da difusão e confraternização com seus semelhantes, a paz encontre tanta
dificuldade para se consolidar plenamente atingível. De olho nos próprios interesses,
o indivíduo vive “pacífico” até que algo, ou alguém, interfira no seu caminho. E
por mais absurdo que possa parecer, não precisa ser necessariamente um obstáculo
concreto e real, de impacto e projeção inimaginável; basta ser uma antipatia,
um preconceito, uma intolerância qualquer para que o conflito seja deflagrado.
A flexibilização dos limites
anda deveras contraditória. Em assuntos que mereceriam um debate maior de idéias
por afetarem a vida da sociedade diretamente, a grande maioria das pessoas se
cala, ou se omite, ou ignora, aceitando as decisões que a minoria aprovar. Em outros,
que são na maioria das vezes de foro íntimo e pessoal, a turba enfurecida se
levanta e não poupa protestos e indignações descabidas, usando de todos os princípios
que puderem para justificá-los. Mas todos eles quando arguidos sobre a paz são unânimes
em dizer que são favoráveis a ela!
De fato o ser humano não
traz em sua carga genético-comportamental elementos que justifiquem uma índole pacífica.
A disputa pela liderança e poder nos grupos sociais marca o Homo sapiens desde
os tempos mais remotos da história. Entretanto, o domínio da razão permitiu o exercício
e a elaboração das diretrizes de conduta social (princípios éticos e morais) de
modo a apaziguar e domar a primitividade dos seus instintos. Entre leis e códigos
de controle religioso, político e/ou social, a humanidade equilibra-se na tênue
fronteira entre a guerra e a paz. Contudo, na medida em que há diferenças entre
os tipos de controle exercidos cada grupo se valerá de sua ética para
justificar-se nas ações, o que os distancia da busca por um ponto de convergência
e pacificação coletiva.
No mundo do século XXI que
vive a crise da economia globalizada e tem a luta de cada país pela retomada de
seu status e garantia de sobrevivência e manutenção dos indicadores sociais de
sua população (moradia, emprego, educação, saúde, alimentação, segurança), que
enfrenta os desdobramentos das Mudanças Climáticas e Ambientais a devastar
parcelas importantes da porção de terra do globo, que assiste ao fluxo migratório
de refugiados de diferentes nacionalidades em busca da reconstrução de sua
cidadania e dignidade, que convive com a escassez de água potável e alimentos
em diversos países, que assiste ao genocídio de milhares de pessoas por divergência
ideológica frente a longos governos ditatoriais,... será que realmente precisam-se
despender esforços e recursos de guerra com questões sem importância?
Talvez a consciência sobre a
diversidade do planeta seja o primeiro passo para uma coexistência pacifica. A Terra
é um planeta altamente plural, diversificado em gênero, em credo, em etnia, em
valores culturais, em comportamentos sociais; mas, um espaço geográfico único para
a convivência. Os pensamentos ultranacionalistas, por exemplo, que produziram
duas grandes guerras, que promoveram a divisão bipolar do planeta em nome de um
“novo colonialismo”, que separaram países com trincheiras e muros,... já foram
suficientemente considerados inapropriados e ineficazes para o progresso e o
desenvolvimento mundial; ainda que, infelizmente, tenham restado sementes até
os dias atuais.
Ao invés de enxergar o ser
humano na sua imagem rasa e irreal que nos chega à retina e desdobra no irremediável
preceito de julgamento das aparências, é preciso reconhecer que cada indivíduo
tem seu valor e importância na manutenção do hoje e na construção do amanhã. Entre
tantas características que possui o ser humano, certamente a perfeição não faz
parte da lista; por isso, não há seres melhores ou piores a se mensurar de maneira
clara e precisa, aqui e ali o ser humano tem seus dias de glória e derrota. O que
se faz necessário é saber em quê, como e quando ele pode oferecer a sua parcela
de contribuição em favor de uma sociedade mais livre, mais igualitária, mais
fraterna. Não adianta se proclamar, ou ser proclamado, pacifista se persistir
em distribuir farpas e fel quando os seus olhos denunciam a existência do que
eles consideram “imperfeições humanas”. A paz não vem de fora para dentro, ela
é estado de espírito, a mais completa liberdade da alma.