Um brinde à primavera!
Por Alessandra Leles Rocha
É! Tem horas que o mundo parece tão feio, tão sem graça, tão cruel, tão... tão... tão... mas aí, chegando meio fora da hora combinada, em trajes não muito glamourosos, a primavera chega para cumprir seu papel mais uma vez. Ufa! Ainda que o ser humano tenha dado seu “jeitinho” de alterar a natureza e comprometer em muitos aspectos a força vital dos acontecimentos, a invisibilidade da força que move a vida de repente se traduz real e materializada no cotidiano. Folhas, flores, frutos e sementes surgem diante dos nossos olhos para resgatar antigas lições e restaurar as boas e vibrantes energias.
Passada a fase melancólica e reflexiva, dos dias de pouco sol, de temperaturas entontecendo os termômetros nas aventuras de sua oscilação, das roupas sisudas, da cabeça baixa e olhar distante ou endurecido, a hora agora é para comemorar! A esperança se senta ao trono esbanjando alegria e felicidade! De mãos dadas com o novo, ela chega cumprindo a promessa de trazer a vida de volta através da exuberância do ambiente.
Calma! Sem desespero! Ainda que esfuziante e altíssimo astral, a primavera não chega de sobressalto! Ela é manhosa, desabrocha lenta e preguiçosa do seu sono de beleza. Ela faz mistério da surpresa anual; vai contando devagarzinho, folha por folha, flor por flor,... Até ficarmos totalmente inebriados, rendidos aos seus encantos.
Com a chegada da primavera somos chacoalhados para ativar os sentidos; religar as emoções internas as percepções diversas que nos bombardeiam: imagens, cores, formas, sabores, texturas, odores. Um novo convite para refazer os votos com a vida e com tudo o que ela espera e aposta em nós.
Instigados por tanta beleza seria impossível não nos transformar! De fora para dentro, nossa metamorfose também vai se completando para que possamos “romper o casulo e dar asas a nossa linda borboleta”. A vida parece voltar a pulsar a flor da pele, a mexer com nossa essência; estamos, ou parecemos, mais livres, mais leves, mais soltos para enfrentar os altos e baixos, as surpresas, os desafios. Menos afoitos e muito mais otimistas, aceitar a evolução natural da existência se torna palavra de ordem e as etapas a serem cumpridas abandonam o peso de um fardo.
Um brinde à Primavera! Não apenas a primavera que acontece em parte do mundo, mas aquela que acontece dentro de cada um e é a oportunidade ímpar de enxergar e entender a vida com novos olhos e coração. Esta é a hora para “baixar as armas”, desanuviar a alma, extravasar os melhores sentimentos, entrar de fato em comunhão com a natureza, da qual todos fazemos parte. Como disse Henfil 1, “Se não houver frutos, valeu a beleza das flores... se não houver flores, valeu a sombra das folhas... se não houver folhas, valeu a intenção da semente” 2.