Árvores da vida
Por Alessandra Leles Rocha
Autômatos de um mundo mergulhado em um sistema impertinente e apressado de viver, há tempos andamos cabisbaixos e afoitos sem desperdiçar sequer um momento na contemplação do ambiente. O ar tão poluído e asfixiante que nos aflige a respiração, lacrimeja irritantemente nossos olhos e resseca a boca, nos faz esquecer de que ele poderia estar ainda muito pior se não fosse a benevolência das árvores a cumprirem silenciosas o seu papel. Mesmo que ralo, inconstante, insuficiente, o verde é realmente a nossa esperança!
Diante das grandes catástrofes naturais, se não houvesse a vegetação para auxiliar de forma significativa a absorção das águas das chuvas, para reter com as tramas de suas raízes parte do solo que cobre as encostas, para umidificar o ar superaquecido pelo agravamento do efeito estufa,... o que seria da vida no planeta?
Bendita a semente que cai displicente sobre a terra e germina calmamente na certeza de se fazer grande, forte e presente! Como é benção divina parar por alguns breves minutos sob a sombra de uma árvore e sentir dela o frescor da natureza. Chega a dar vontade de ficar ali debaixo, quietinha (o), esperando a vida descobrir o valor dessa pausa especial!
Sei que dedos em riste apontam severos para essas obras do Criador. Dizem que elas atraem vento! Sujam as cidades! Estragam os passeios! Etc.etc.etc. Anunciam sem cerimônia o corte de árvores nos cartazes afixados nos postes de eletricidade. Colocam fogo. Matam com veneno. E sem se darem conta das sentenças pronunciadas, são os mesmos que clamam o desequilíbrio do clima e seus efeitos sobre a dinâmica do cotidiano, que fazem caminhada e piquenique nos parques e praças, a sombra acolhedora daquelas que tanto são insultadas.
Beneficiado com tamanha diversidade de espécies na composição de sua flora, o Brasil precisa aprender a valorizar mais essa riqueza. O tão discutido desenvolvimento sustentável precisa urgentemente alinhavar a sobrevivência das espécies com os chamarizes do progresso. O extrativismo vegetal 1 que sempre foi marca importante no desenvolvimento econômico das regiões brasileiras não pode se dar ao luxo de permanecer nos modelos arcaicos do inicio da colonização que puseram abaixo as reservas de Pau-Brasil 2, e depois se seguiram com a destruição avassaladora da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica, do Cerrado, do Pantanal. Se precisamos da diversidade de matérias-primas contidas na nossa flora para atender uma infinitude de demandas, a vida no seu contexto mais amplo e essencial precisa que o equilíbrio seja palavra de ordem 3.
Destruir árvores ou quaisquer outras formas vegetais é de fato um crime; um crime que não dá oportunidade ao agredido de se defender e, portanto, é covarde e cruel. A humanidade cresce e precisa de espaços para garantir as suas necessidades – moradias, escolas, hospitais etc. -; mas, isso não significa que a ela pertença o direito de ocupá-los a revelia da Natureza. Ainda que o conhecimento e a tecnologia tenham permitido ao ser humano habitar em diferentes áreas, na verdade nem todas poderiam realmente ser ocupadas 4 – mangues, veredas, encostas são alguns exemplos – não apenas por uma questão de legislação ambiental, mas de puro bom senso e precaução.
No dia da árvore, que elas voltem a ser o grande símbolo da vida e estimulem as futuras gerações a dedicar parte do seu tempo na sua preservação e perpetuação. No dia da árvore, que as escolas se ocupem da discussão sobre elas, ensinando aos alunos sobre aquelas que foram praticamente extintas pela ação do homem 5. Mas, que o dia da árvore seja todos os dias na vida de um cidadão; que todos se lembrem de dedicar minutos, quem sabe horas, contemplando, desfrutando, cuidando, semeando novas espécies, para tornar o verde 6 da nossa bandeira mais vivo e mais verdadeiro, como já foi um dia.