Pura questão de ótica!
Por Alessandra Leles Rocha
No ano em que o Japão sofreu o maior desastre ambiental de sua história, que uma onda de tornados mais intensos está varrendo o território norte-americano, que diversos países foram pegos de surpresa com abalos sísmicos de magnitudes consideráveis, que o Brasil se vê as voltas com um novo Código Florestal, não sei se há muito por comemorar no Dia Mundial do Meio Ambiente – 05 de junho. Se direta ou indiretamente relacionados às ações antrópicas, os diversos fatos ligados ao meio ambiente e que povoam a mídia diariamente merecem ao menos o bom senso através de uma análise profunda por parte da sociedade mundial.
Passaram-se décadas e décadas debatendo, discutindo e elaborando relatórios, pareceres e legislações que pudessem alcançar um denominador comum aos interesses sociais e do planeta. Muito bons em essência, mas, infelizmente, pouco aplicáveis fosse por parte do interesse das lideranças governamentais ou dos grupos econômicos que movem o desenvolvimento e o progresso ao redor do globo. De um jeito ou de outro sempre há uma correção aqui, um veto ali, uma flexibilização acolá e quando se vê, ao invés de passos avante no processo evolutivo dos direitos que regem o Meio Ambiente o que se tem são degraus de retrocesso ou estagnação.
O que sempre me intrigou nesse processo é em nome de quem ou de qual geração se pretende beneficiar com esse “jogo de interesses”; pois, aos que hasteiam a bandeira do famigerado progresso a qualquer preço, talvez não alcancem muitas décadas adiante. A exposição contínua aos impactos negativos – uso e ocupação indevida do solo, desmatamento, poluição, assoreamento dos mananciais hídricos, uso maciço de defensivos agrícolas, produção de volumes de resíduos superiores à capacidade de gestão,... – tem sido combatida pela própria natureza através da intensificação de seus fenômenos naturais – trombas d’água, secas por longos períodos, frio e geadas por um espaço geográfico mais abrangente do território, temperatura em elevação nos oceanos, invasão dos mares na costa, degelo das calotas polares, “ilhas de calor” nos centros urbanos, aumento de vetores transmissores de doenças,... – e ocasionado à perda de milhares de pessoas. Aos que lutam pela sustentabilidade do planeta e tentam estabelecer novos caminhos de diálogo para estancar os prejuízos já presentes, a sensação de impotência parece agigantar. É que o cidadão comum vê, ouve, às vezes reclama, mas muito pouco se manifesta. É como se entre a sociedade ainda existisse um abismo de compreensão para que de fato se estabelecesse uma correlação direta entre a vida individual e a vida do planeta; bem como, que as atitudes humanas interferem sim em grande parte do que está acontecendo. Para muitos, visualizar o ciclo desses prejuízos é impossível! Se podem pagar pela água tratada e fornecida em sua cidade, por que deveriam deixar de lavar o passeio público? Se podem pagar pela energia elétrica que chega a suas residências, por que manter apagadas as lâmpadas onde não há ninguém ou tomar um banho mais rápido? Se podem comprar um veiculo próprio, por que se unir em favor do transporte coletivo de qualidade e que atenda as reais necessidades do cidadão? Se podem pagar por atendimento médico-hospitalar, por que se preocupar com a poluição do ar, da água, dos alimentos, dos animais, hein? Estes são meros exemplos, de milhões de outros que permeiam a vida humana e deixa claro o quanto a sociedade negligencia e posterga o meio ambiente em favor do seu status.
Ainda sim, a realidade insiste em seus recados. O Japão, por exemplo, estava preparado para o terremoto, mas não pode fazer nada diante do tsunami que acabou por prejudicar o funcionamento das usinas nucleares e demonstrar que elas não eram tão seguras como pareciam ser. Diante da mais grave crise ambiental e econômica, o governo japonês não faz outra coisa senão buscar alternativas para resolver os impactos, sobretudo os da radiação nuclear, o que aparentemente não tem solução definitiva. Os EUA sempre conviveram com regiões propensas a tornados e desenvolveram para estes locais abrigos subterrâneos e sistemas de alerta especiais; mas, agora o caminho dos ventos se expandiu e com ele o número de vítimas e desabrigados também. Nem todos os sismógrafos e tecnologias para prever a ocorrência de terremotos tem posto a salvo o planeta; a Espanha1 foi a mais recente afetada por abalos sísmicos e além dos prejuízos materiais contou com a perda de alguns cidadãos.
Enquanto o progresso dispara, a tecnologia dá as cartas no comando do planeta, vive-se o corre-corre de um cotidiano estressante que afeta a qualidade de vida sem cerimônia, a relação entre poder e meio ambiente acirra as forças. Nada de alarmismo, ou pessimismo, apenas constatação! O ônus da destruição ambiental está gradativamente sendo cobrado de porta em porta. Qual a será a próxima, ninguém sabe! O importante é ter a consciência que este tributo não se paga em moeda corrente; mas, na maioria das vezes, com a própria vida. O que consideram tudo pode não valer nada e o que consideram nada é na verdade tudo o que precisamos para garantir nossa sobrevivência por mais tempo; pura questão de ótica! Portanto, abra os olhos se não quiser vê-los fechados antes da hora!