sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

"Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo, que tudo se realize no ano que vai nascer..."

Ano Novo... quase um “zerar existencial”???

Por Alessandra Leles Rocha

            Muitas pressões, muitos desafios, muitas obrigações, e os trezentos e sessenta e cinco dias se fazem parecer insuficientes aos pobres mortais. Stress a flor da pele, línguas dependuradas para fora, suor vertendo em bicas pelo corpo, olhos cansados à espera de um milagre restaurador, uma segunda chance para reescrever tudo aquilo que não foi tão perfeito quanto se esperava. Então, ao invés de sinos badalados por arcanjos e serafins, é o relógio companheiro da humanidade que dispara o cronômetro e oferta novamente o tempo para os seres humanos.
         Tanta expectativa, preparativos, para no fim das contas o novo se traduzir num simples mover de ponteiros. É! Coisas da vida! Transformamos tudo em festa para fazer um afago à própria alma, para nos deixar um cadinho só mais felizes, mais crédulos de esperança. Porque viver é ato contínuo, sem pausas, uma linha que segue fazendo curva, fazendo graça, fazendo hora; mas, sempre em busca de algum dia encontrar seu ponto final.
         Como seres imperfeitos que somos é certo que os trezentos e sessenta e cinco dias parecem migalha, quando olhamos para trás e vemos tanta coisa incompleta, mal feita ou por fazer. E justamente pelo fato de encontrarmos tanta dificuldade em assumir nossa imperfeição humana é que tudo isso nos tira do sério e nos desespera em buscar uma “fórmula mágica” para resolver tantas pendências. Voltar atrás, impossível! Parar o tempo, nem se fala! Então, o jeito é contar com a benevolência divina e esperar do Criador a benesse de mais milésimos de segundo na conta da vida.
         Cada um faz sua lista de ano novo; promessas, sonhos, metas... quase um “zerar existencial” para dar vazão ao ressurgimento de um novo ser. Nem sempre esse encontro com o espelho da alma reflete o desejo de se tornar um ser melhor; mas, para muitos esse é o propósito mesmo que sabidamente seja tarefa árdua concretizar. Por mais receio que os seres humanos tenham diante da mudança, o ano novo sempre consegue romper esse paradigma e tornar mais ameno e agradável o pensamento sobre ela. O novo que assusta é também o que encanta e faz sonhar. Ele chega repleto de vitalidade, da força do agora, e tal qual uma criança só espera por nos dar as mãos e correr desbravador pelos caminhos. Fugaz como o ar ele nem se preocupa com seu prazo de validade, apenas em compartilhar conosco suas emoções. O melhor de tudo é que o novo não nos obriga, não nos impõe, apagar as memórias e os diários do passado; afinal, quando menos se espera, ele já compõe essas páginas.
         De novidade em novidade os anos vão se escrevendo, contando suas aventuras e desventuras, esperando serem lembrados ou esquecidos, satisfazendo a alma ou deixando um gostinho de quero mais; mas, sempre, nos dando a dimensão exata do quanto conseguimos nos aprimorar ou não. Inclusive, isso é fácil de perceber quando as pessoas no fim do ano confessam seu fracasso diante do não cumprimento das suas listas de ano novo. É certo que na vida nem tudo está em nossas mãos, que contamos com variáveis distintas a todo o momento nos ajudando ou boicotando as funções; mas, a nossa disposição individual em lutar, em dar de si o melhor, não pode esmorecer.
         A passagem do ano é meramente uma divisão didática do nosso próprio tempo, um retrato macroscópico da nossa vida, de algo que nos pertence, que somos diretamente responsáveis. Então, não se pode esperar que o ano se torne novo, transformado, diferente, por conta dele mesmo! É de mim, de você, de cada um que deve explodir fogos de felicidade! De nossas almas é que deve emergir a visão consciente do que há para ser feito no sentido de mudar, não apenas através da luz de nossos olhos. Uma ousadia inquietante deve borbulhar como espumante em nossas mentes até nos inebriar ensandecidos por uma vida menos blasée e mais intensa, mais produtiva, mais viva. Não adianta a festa rolar do lado de fora, enquanto por dentro estivermos presos ao que não foi, ao que poderia ter sido. Trezentos e sessenta e cinco dias estão ao alcance de suas mãos, um baú repleto de infinitas possibilidades de ser, agir, pensar, produzir,...  lhe é ofertado. Não o deixe escapar, não conte com a sorte porque ela pode ser imprevisível!!!

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