quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Crônica

Querer... Poder...


Por Alessandra Leles Rocha


            Ah! Quisera a vida chegar trazendo nas mãos o kit necessário para transformar todo o querer em poder! Já pensou alongar as maravilhas e encurtar as dificuldades e desafios? Varinha mágica, pó de pirlimpimpim, abracadabra... valei-me o inusitado, o surreal, a fantasia, para transformar os dias, as horas, os minutos e os segundos em delicadas gotas de mel!
            Não se trata de simples apelo do consumo, ou do desespero gritante do relógio, ou da profusão de tarefas a explodir diante dos olhos, ou dos inúmeros personagens que habitam dentro de nós; o fato é que estamos sempre querendo mais do que nosso poder alcança.
            Se bom por um lado, já que nos impulsiona a sair da casca do ovo e fazer acontecer; por outro, se os sonhos perderam a medida, fatalmente descobriremos o gosto amargo da frustração e da impossibilidade, seremos apresentados, meio que a contragosto, a vida como ela é. Sim! Ninguém tem tudo! Se fosse assim, perfeita, completa, a vida talvez não fosse perdida em guerras, bombas, doenças e catástrofes; mas, em uma hecatombe de suicídios oriundos do fastio, da perfeição, da falta de planos e perspectivas a serem alcançadas, do mais profundo tédio.
            Embalados por essa vontade do impossível, em que todo o querer fosse passível de realização, é que vamos superando os obstáculos, alternando bons e maus dias, tomando fôlego para mais vinte e quatro horas e recebendo as pequenas surpresas, os presentes, as boas novas, com satisfação.
            É no cultivo diário do querer que de certa forma vamos nos mantendo vivos e descobrindo que o poder, pode até ser limitado, mas dele nascem infinitas possibilidades, fios de esperança singelos e delicados; capazes de tornar o querer mais palpável e real. Devemos, podemos querer! Querer sonhos, amores, alegria, felicidade, saúde, amigos, família, trabalho, paz, sossego, descanso,... querer que a vida tenha sentido, razão, para podermos afirmar que valeu à pena enquanto durou sua eternidade.