sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

Ninguém é uma ilha! Entendeu???


Ninguém é uma ilha! Entendeu???

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

O bloqueio do Programa Pé-De-Meia do governo federal 1, não repercute somente um descaso com a Educação, no país. Como aconteceu a todas as demais iniciativas de transferência de renda criadas no Brasil, há uma flagrante oposição a esse tipo de política pública, por conta do ranço colonial que habita os integrantes, simpatizantes e apoiadores da Direita nacional e seus matizes.

Sob a alegação de problemas técnico-operacionais, ou de suspeitas de algum tipo de fraude no sistema, ou de fomento à ociosidade da mão-de-obra, ... a Direita nacional e seus matizes tenta justificar a sua posição histórica, a qual não aceita a construção de “uma sociedade livre, justa e solidária, capaz de garantir o desenvolvimento nacional e, dessa forma, erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais a fim de promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação” (CF de 1988, art. 3º).  

A verdade, caro (a) leitor (a), é que na Terra Brasilis não se pode tecer medidas, visando mitigar ao máximo as desigualdades sociais. Desse modo, não se vê empenho para que vigore um salário mínimo efetivamente compatível ao que estabelece a Constituição Federal, de 1988, ou seja, “IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; e, V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho” (art. 7º).

E quando se fala em políticas de transferência de renda, para atenuar minimamente essa negligência com a norma constitucional, a Direita nacional e seus matizes ficam enfurecidos e inconformados. O que deixa bem clara a intenção dessa ala político-partidária, em relação a trabalhar pelo desserviço aos interesses da grande massa da população. Sim, porque a pirâmide social brasileira não deixa dúvidas de como as elites do poder ocupam a ínfima ponta de sua estrutura, enquanto os demais cidadãos compõem a base.

Não é de hoje, que essa gente tenta obstaculizar, de todas as maneiras, as políticas públicas nacionais. Haja vista como atuam insistentemente tentando acabar com o ensino público e o Sistema Único de Saúde (SUS), precarizando as suas respectivas estruturas, sob diferentes formas e conteúdos. Ou pelo fato da recorrente presença de trabalho análogo à escravidão, no país, em pleno século XXI. Ou pelo fato de denominarem os investimentos públicos voltados a atender às demandas da população, como gastos. Tudo para que as parcelas mais vulneráveis não tenham vez e voz, no que diz respeito à dignidade e aos seus direitos fundamentais.

A grande questão é que, infelizmente, esse ideário retrógrado e antiproducente vem se disseminando mundo afora, através das investidas de integrantes, simpatizantes e apoiadores da ultradireita. O governo estadunidense recém-eleito, por exemplo, tem assinado diversos decretos que vão na contramão dos direitos humanos e que afetam avassaladoramente as camadas mais frágeis e vulneráveis da população, não apenas nos EUA; mas, em outras partes do planeta. Em suas decisões unilaterais de ruptura com órgãos e agências ligadas à Organização das Nações Unidas (ONU), os EUA buscam atacar as bases de combate às desigualdades socioeconômicas globais 2.

A luta em favor da dignidade e dos direitos humanos é, na verdade, uma luta para tentar se manter o distensionamento social para uma convivência e uma coexistência pacífica e equilibrada. Portanto, quando se opta pela negligência, pelo descaso, pela irresponsabilidade, em relação à atenção dedicada aos que mais precisam, passa a se estabelecer um desafio real, de proporções inimagináveis, que afeta à totalidade do coletivo humano. Basta lembrar a fábula “O rato e a ratoeira” 3, do contador de histórias grego, Esopo, falecido em 564 a.C., cuja síntese diz: “Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que quando há uma ratoeira na casa, toda fazenda corre risco. O problema de um é problema de todos.”