Emergências
climáticas: A humanidade semeou ventos e agora, colhe suas tempestades!
Por Alessandra
Leles Rocha
Não, não dava para passar alheia
aos acontecimentos. Mais uma frente fria. Mais um volume de chuvas assustador
sobre o Rio Grande do Sul 1. Mais um contingente de mortos, feridos e
desabrigados. Mais deslizamentos de encostas. Mais ...
A intensificação e o
recrudescimento das emergências climáticas não significam que elas caibam num
lugar de trivialização ou banalização do cotidiano. Muito pelo contrário! É
preciso falar exaustivamente a respeito, para que haja ações e soluções, o mais
rápido possível.
Então, olhando para as imagens
desoladoras, uma reflexão importante me ocorreu. Por uma questão óbvia, de
empatia e alteridade, diante das tragédias e calamidades o cidadão comum é o
alvo imediato das ações. É ele quem está no olho do furacão e precisa de
socorro, de assistência, de cuidados.
No entanto, isso não significa
abster-se de pensar sobre o papel dos gestores públicos, dos representantes
político-partidários, democraticamente eleitos, a respeito do assunto. Bem,
basta revirar as páginas da história nacional, para entender que não é de hoje
que muitos brasileiros são levados ao poder, por caminhos tortuosos e
desvirtuados da ética.
Lamento, mas não é de boa
intenção ou de espírito cidadão, que muitos chegam aos poderes Executivo e
Legislativo. Almejam sim, as regalias. Os privilégios. As benesses. As
influências. O poder. Distanciando-se, por completo, dos deveres e obrigações previstas
no ordenamento jurídico nacional.
Não é á toa que do menor ao maior
espaço urbano do país, se encontra, ainda que vestigial, um traço de peculato,
de concussão, de prevaricação, de falsificação de documentos públicos, de
emprego irregular de verbas e rendas, de abuso de poder ou de adulteração dos
sistemas de informação.
A materialidade dessas práxis, na
maioria das vezes, decorre de obras faraônicas e visíveis aos olhares e
aplausos do eleitorado. Enquanto as prioridades, que se arrastam há tempos,
permanecem postergadas de gestão em gestão, sem a menor indicação para saírem
do papel.
Acontece que aquilo que é
considerado desimportante, na verdade, não é. A maioria das demandas urgentes,
dos municípios brasileiros, diz respeito, diretamente, às questões
socioambientais: saneamento básico, água potável, moradia em áreas que não
sejam de risco, monitoramento dos cursos d’água, recuperação das matas ciliares
etc.
Mas, parece que o jogo virou! A
impressão que se tem é de que a busca pelo poder, como vinha acontecendo, desde
sempre, na história brasileira, não é mais tão simples e lucrativa. O combo do
poder, na atualidade, traz um aviso importante sobre as emergências climáticas
e as incertezas que se desdobram delas.
É preciso saber se os gestores
públicos e os representantes político-partidários estão mesmo dispostos a ter
que fazer o esforço para enfrentar os desafios propostos pelo insólito
climático. Será que os salários, as regalias, os privilégios, as benesses e as
influências compensam o árduo trabalho, diante das catástrofes do clima?
Populações enlutadas,
desamparadas, desabrigadas, querem respostas rápidas e objetivas. O limiar de
paciência, de tolerância, nesses casos, é muito estreito, e com razão. Então,
se não for para ter a consciência em relação a esse novo cenário social, é
melhor que os gestores públicos e os representantes político-partidários não
renovem suas pretensões. Nada pior do que um eleitorado insatisfeito,
frustrado, decepcionado, pela frente.
Observem que as emergências do
clima são extremamente democráticas. Elas não escolhem esse ou aquele lugar
para atingir. Simplesmente, varrem os espaços geográficos, sem dó e nem
piedade, desconsiderando a presença da ocupação humana, a existência (ou não)
de recursos e infraestrutura para uma eventual reconstrução.
O que significa que o ponto de
partida das plataformas político-eleitorais contemporâneas foi, então, ressignificado
pelas conjunturas atuais, passando diretamente pelas políticas públicas
socioambientais. Portanto, os representantes do povo precisam, rapidamente,
dominar essa temática, de maneira consistente e profunda, para saberem como
lidar com as realidades que se apresentem.
Charles Darwin já alertava para o
fato de que “A sobrevivência de um organismo depende da sobrevivência de um
outro”. Bem, ainda que ele tenha se manifestado sob um viés biológico, nada
nos impede, também, de pensar pela perspectiva política. Considerando esse, um
ano eleitoral, e o cenário das emergências climáticas, como vêm se
apresentando, achismos e casuísmos não serão bem recebidos por uma expressiva
parcela da população, consciente da sua cidadania, o que pode ser visto como um
risco para a sobrevivência política de uns e outros, por aí.