Apenas
mais uma reflexão natalina...
Por
Alessandra Leles Rocha
Para mim, Natal sempre foi tempo
de reflexão. De um jeito ou de outro estamos ligados à história daquele menino
que nasceu para transformar, para ressignificar, para redefinir a vida, para
cumprir uma missão. Pois é, somos missionários. Ninguém chega a essa vida a
passeio. Cada qual ao seu modo; mas, ninguém menos importante nesse processo de
construção do mundo.
Alguns já nascem sabendo a que
vieram. Outros vão se descobrindo ao longo da jornada, a partir dos
acontecimentos, dos desafios, das conjunturas. Porque a vida não vem com
manual, ou com script. O roteiro está sempre em aberto, disponível para “plot twists” arrebatadores ou licenças
poéticas de encher o coração. Para ser escrito individual e coletivamente.
Afinal, simplificando as coisas,
viver é a maior de todas as missões. Não é à toa que temos direitos; mas,
também, temos obrigações. Muitas. Diversas. Plurais. Porque somos, direta ou
indiretamente, cobrados por cada mínima ação colocada (ou não) em prática.
Nada passa despercebido. Tudo tem consequência,
desdobramento, repercussão. O que é bom. O que é ruim. O que é mais ou menos.
Já se esqueceu de que não pecamos apenas por atos, mas por omissões, também?
Então, quando se aproxima dezembro
tudo isso começa a se aflorar na consciência de uma maneira muito mais intensa
e especial. Independentemente da nossa profissão de fé, da nossa conexão
religiosa, as tramas do sagrado que nos revestem, nos envolvem nos 365 ou 366
dias de cada ano, iniciam a sinalização de que estamos sim, mais perto do fim
de um ciclo de 12 longos meses.
O que significa que precisamos
fazer um balanço profundo desse recorte do tempo. Sucessos. Fracassos. Conquistas.
Derrotas. Avanços. Retrocessos. Aprendizados. Estagnações. Enfim... tudo deve
passar por um pente fino, uma análise metódica e criteriosa. Ainda que doa. Ainda
que faça sofrer. Ainda que nos faça submergir às profundezas do inconsciente.
Nesse momento, então, temos a
oportunidade, quem sabe, de adquirir uma compreensão mais clara do ponto de
intersecção que existe entre a nossa história e a história do menino de Nazaré.
Porque, mesmo sendo o Filho de Deus, ele não foi eximido da existência humana.
Sofreu. Sorriu. Chorou. Se
angustiou. Foi questionado. Insultado. Desqualificado. Humilhado. Perseguido.
... Durante sua breve passagem por esse mundo. Sua trajetória esteve longe de
ser um “mar de rosas”. Ao contrário,
foram mais espinhos do que flores, como é a vida de qualquer mortal. Como é a
nossa.
Daí a importância de se pensar a
respeito. Essa consciência promove um deslocamento fundamental para o ser
humano, na medida em que desconstrói tantas idealizações, esterotipizações,
vaidades, que não condizem com a realidade. Ora, o que é ser especial? O que é
ser importante? Onde essas perspectivas se encaixam de fato?
Pois é, ninguém disse que a vida
seria uma odisseia. Nessa missão de atravessar os dias entre aventuras e
desventuras, o ser humano vive uma eterna metamorfose de si mesmo, seja do
ponto de vista biológico, intelectual e/ou espiritual. Ele nunca está pronto. Nunca
está completo. Não importa quem somos, de onde viemos, para onde vamos. Há sempre
mais por fazer, por aprender, por agregar, por descobrir, por ser.
É assim que vamos descobrindo que
o Natal não se resume a uma data no calendário, a um dia específico no ano, ele
é um estado de espírito. A partir dele é que se descortina a nossa essência, através
de nossas crenças, valores, virtudes, emoções e sentimentos.
Por isso, não estão nas árvores, nos
enfeites, nos presentes, nas ceias, a verdade do Natal. Não, ela está no
pessoal, no intransferível, no silêncio, na prece, no fundo da alma. Na mais
completa imaterialidade subjetiva que nos permite ver o essencial da vida
continuamente. Por isso, alguns precisam comemorá-lo ano após ano e a outros
basta, apenas, externá-lo genuinamente, porque sabem que o Natal não expira.
Verdade seja dita, John Lennon
tinha razão quando manifestou que “Vivemos
num mundo onde nos escondemos para fazer amor, enquanto a violência é praticada
em plena luz do dia”. Talvez seja hora de começar a olhar para dentro, para
fora, em todas as direções, em todos os sentidos.
Precisamos romper paradigmas. Mudar
de opiniões. Reformular ideias. (Re) visitar lugares. Ver as pessoas. Acrescentar
virtudes. Suprimir defeitos. ... Afinal, se reposicionar humanitariamente no
mundo, não é tarefa para o Papai Noel e seus assistentes, é para cada um de
nós.
Entretanto, diante da realidade que nos cerca, para que isso seja realmente possível “É preciso amar as pessoas e usar as coisas e não, amar as coisas e usar as pessoas” (Cecília Meireles – poetisa brasileira). Só assim, poderemos nos dar o direito de expressar, sem qualquer sombra de dúvida, que há um Feliz Natal, pulsando por aí.