Da Era
do Gelo a Era do Fogo???
Por Alessandra Leles
Rocha
Já houve um tempo em que só
a cidade do Rio de Janeiro alcançava 40°C, no Verão. Agora, em plena Primavera
de 2020, no hemisfério sul, muitas têm sido as cidades brasileiras a extrapolar
esse limite em muitos graus e oportunizar uma experiência de sensações térmicas
infernais e uma desértica baixa umidade do ar aos seus cidadãos. E tudo o que
esses milhões de pessoas parecem reivindicar é água. Seja pela chuva. Seja nas
torneiras. Seja para beber. Seja para diversos banhos. ... Então, é oportuno
pensar até quando teremos esse bem à disposição das nossas necessidades diárias.
Não sei vocês, mas eu
desconheço quem saiba produzir água. Esse recurso é fruto de uma engenhosa
organização natural, a qual sempre buscou manter os reservatórios pelo mundo abastecidos;
mas, que encontrou no próprio ser humano um obstáculo decisivo para o
cumprimento dessa empreitada.
Ora, sejamos honestos e
paremos de fazer dissociações irresponsáveis entre os fatos para não admitir o
que vem acontecendo no planeta. Em torno de 2/3 da Terra são compostos de água;
mas, apenas 2,5% disponíveis são de água doce encontrada nas geleiras, neves
eternas 1, águas subterrâneas (aquíferos 2), solos, rios e lagos. De modo que a manutenção
desse volume ocorre a partir de um processo envolvendo a água entre a superfície
terrestre e a atmosfera, denominado Ciclo Hidrológico.
Isso significa que através
da energia solar ocorre a evaporação da água presente na superfície do planeta,
cujo vapor transforma-se em nuvens que devido às condições climáticas retornam
essa água na forma de chuva, neve ou granizo; bem como, de um percentual de
vapor d’água que evapora antes mesmo de alcançar o solo. De modo que, o volume
de água líquida nesse processo tende a se infiltrar novamente nos reservatório subterrâneos
e, assim, permitir a circularidade desse movimento.
Acontece que, em face de
algumas variáveis diretamente relacionadas ao ser humano, tem havido uma interferência
cada vez mais direta nesse equilíbrio. Fatores como o desperdício, a poluição,
o crescimento populacional, a urbanização e as mudanças climáticas,
desencadeadas principalmente pela industrialização secular, têm sido responsáveis
pela aceleração do esgotamento da água em todo o planeta.
Então, observando
diariamente paras os diversos veículos de informação, não nos cabe, em termos
de Brasil, pensar que as recentes queimadas avassaladoras por todos os
principais Biomas nacionais não terão repercussão sobre a disponibilidade de
água em curto prazo. Ora, a devastação que se impõe pelo fogo ou pelo
desmatamento está consumindo vertiginosamente a cobertura vegetal que protege
as nascentes, que evita o assoreamento dos rios e cursos d’água, que mantém o equilíbrio
dos aquíferos, que garante o abastecimento de água para a população e o próprio
meio ambiente.
A recuperação da flora pode
levar séculos, dependendo das espécies que compõem sua biodiversidade e a recorrência
dos episódios de desmatamento ou queimada; mas, nenhum ser humano ou atividade
produtiva por ele desempenhada pode aguardar esse tempo para sobreviver, não é
mesmo?
Aliás, a Pandemia em que
vive o mundo nesse século XXI trouxe mais uma questão importante a esse viés;
pois, nunca se precisou tanto de água como agora, em razão da higienização das
mãos, dos corpos, dos produtos, das roupas, enfim. Um aviso, quem sabe, para um
mundo que não vivencia apenas a realidade do COVID-19, mas de tantas outras
doenças infectocontagiosas conhecidas, e ainda por conhecer, que demandam (e
demandarão sempre) pelos mesmos cuidados garantidos pela água.
Essa é a prova inconteste
de que não há brilhantismo e nem vanguarda na destruição ambiental; na medida
em que, os mais prejudicados serão os próprios destruidores. É essa água que só
se lembram na necessidade, que contribui para o equilíbrio climático,
sobretudo, no que tangem as temperaturas.
Se os seres humanos
dependem dela, não se esqueça de que suas práticas agrícolas, suas indústrias,
seus comércios, seus hospitais, suas escolas... também dependem. Portanto, é
bom que se diga, o dinheiro só compra água em garrafas, galões e caminhões
porque, por enquanto, ainda há disponibilidade nas fontes. Quando tudo secar,
quando não mais restar um filete sequer para contar história, aí o dinheiro será
em vão.
Já dizia Albert Einstein, “duas coisas são infinitas: o universo e a
estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta”.
Cada vez que o ser humano reforça a sua imagem de um estúpido vitimista e “coitadinho”,
mais próximo da extinção do planeta ele se aproxima; os fatos não deixam dúvida.
O triste é saber que milhões de pessoas podem morrer de sede, de calor, de fome,
oriundos dessa estupidez irresponsável humana, caso nenhum lampejo de lucidez
se estabeleça entre nós.
Diante disso, talvez, seja mesmo
interessante se informar sobre o que escreveu o historiador Stephen Pyne, da Universidade do Arizona
(EUA). Segundo ele, “a intensificação dos
incêndios florestais, potencializada pela crise climática, pode inaugurar uma
nova era para o planeta Terra – a Era do Fogo, ou Piroceno” 3. Depois da Era do Gelo será que teremos
alguma chance na Era do Fogo? Pensemos a respeito.