Escolha
impõe responsabilidade. Escolha impõe consequências...
Por
Alessandra Leles Rocha
Diante das atuais
circunstâncias, imagino que muitas pessoas já tenham desejado que a vida fosse compartimentalizada,
de modo que os acontecimentos acontecessem cada um a sua vez. Mas, não é bem assim!
Como escreveu magistralmente
João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, “O correr da vida embrulha tudo. a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é
coragem”. Por isso mesmo é que me causa profunda perplexidade perceber a existência
de gente que insiste em desconsiderar tudo isso.
E nesses que são
tempos de uma atipicidade total, por conta de uma Pandemia que já fez mais de
200 mil mortos ao redor do mundo, vemos pessoas analisando de maneira rasa e
imprevidente a situação que temos bem diante do nariz. Ainda que as informações
não parem chegar ininterruptamente pelos meios de comunicação.
Enquanto a situação pandêmica
estabelece inúmeras demandas de prevenção, controle e cuidados, a vida embora
anestesiada por tamanho impacto resiste respirando. Isso significa que, apesar
de todos os pesares momentâneos, outras doenças e fatalidades e calamidades, continuam
a ocupar espaços importantes entre nós.
O desespero que se
vê entre quem precisa de atendimento médico-hospitalar e as equipes que se
desdobram nesses atendimentos é justamente por isso. A chegada do COVID-19 não
paralisou a dinâmica da vida biológica.
Pessoas continuaram
nascendo, morrendo, se ferindo, se acidentando, enfartando,... e assim, ocupando
unidades básicas de saúde, hospitais e clínicas; bem como, utilizando
equipamentos, medicamentos e outros serviços. Muitas vezes, em nível de
gravidade tão complexo quanto o apresentado pelo COVID-19.
Diante disso, a matemática
não fecha e, nem mesmo os algoritmos dão conta de bater o martelo para a
questão. Não dá para esvaziar tudo e só
atender as urgências e emergências da Pandemia ou o contrário, porque estamos
falando de vidas. É o viver que está em jogo. Restituir o bem estar e a
sobrevivência humana são as ações que imperam no mundo nesse momento.
É certo de que,
antes dos últimos acontecimentos, havia quem não tivesse motivos para se dar
conta desse fato. Parecia-lhes que havia suficiência infinita de médicos,
hospitais e tudo mais que fosse necessário, de modo que uma pseudossegurança assegurava-lhes
certa paz.
Mas, é certo que
para uma imensa maioria a realidade já era de pânico total. Tanto que entre
esses a judicialização da medicina era pauta cotidiana. Busca de leitos. De
UTI. De medicamentos. De cirurgias. De modo que, agora, tudo parece desabar
sobre suas cabeças; pois, eles têm a real dimensão do que esse gargalo
representa.
Portanto, esse
desatino que se estabelece em nome da revolta contra as medidas de isolamento
social só aponta o grau de alienação obtusa a que chegou a humanidade. Alguns
segmentos da sociedade estão em confronto direto com um inimigo microscópico e
desconhecido, como se gritos e gestos pudessem demovê-lo da sua fúria virulenta.
Sim, porque ao apelar para as autoridades à abertura dos meios de produção e
consumo; se esquecem completamente de que, na verdade, estes estão tão a mercê do
vírus quanto quem apela.
Parece-me evidente,
também, que o senso de preservação da própria espécie desapareceu completamente;
na medida em que, a mesma sociedade que rechaça a Ciência deposita nesta a
esperança de resolução do problema, segundo os seus critérios e desejos, seja
por meio de vacinas e/ou remédios.
Há, portanto, uma
rebeldia insensata e totalmente antiproducente, a qual pode, inclusive, gerar
desdobramentos e consequências mais avassaladoras sobre os interesses dessas
pessoas. Basta ver o novo alerta da Organização Mundial de Saúde (OMS), na
última sexta-feira, a respeito da impossibilidade de comprovação de imunidade à
COVID-19; o que reforça toda e qualquer medida de prevenção e isolamento
social.
Que fique claro
então, essa não é uma disputa entre pessoas. Não é uma guerra convencional. É
uma guerra biológica, na qual o ser humano é que se encontra em total desvantagem,
pois conhece muito pouco do seu inimigo até agora e, a Ciência não caminha na velocidade
desejada por quem quer que seja, mas na sua própria. Sendo assim...
Toda essa intransigência
ignorante, só leva ao dispêndio de energia e mais nada. Querem se expor? Que se
exponham. Querem promover aglomerações? Que se aglomerem. Mas, aconteça o que
acontecer, moral e eticamente isso lhes retira quaisquer direitos e privilégios;
sobretudo, porque estão colocando quem ao menos conhecem em risco também.
Já dizia Pablo
Neruda, “Você é livre para fazer suas
escolhas, mas é prisioneiro das consequências”. Se quiser se tornar mais um
número nas estatísticas da fatalidade, sinta-se à vontade. Você pode até pagar para
ver, a questão é que está pagando com a vida e esta não tem preço.